Monstro aprisionado

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KAILLAN CONNER

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KAILLAN CONNER

Soco o saco de pancadas em minha frente sem parar, meu corpo está começando a reclamar pelas horas de esforço e eu estou perdido. Perdido na bagunça da minha cabeça, a bagunça que tento lidar desde de quando era apenas uma criança, a bagunça que quanto mais eu mexo, mais desorganizada insiste em ficar.

Meu punho bate novamente no saco pesado, deixando rastro do meu sangue e eu não me importo. O armazém abandonado e o ringue são os únicos lugares que eu não me preocupo em reprimir o que sinto, são os únicos lugares que não me esforço em esconder o que realmente sou, o único momento em que não repasso seus olhos me encarando assustados e decepcionados. Então, aproveito minhas horas sem eles me torturando, sem eles em minha cabeça, me dizendo que sou um monstro incapaz de ser amado.

11 ANOS ATRÁS — 15 ANOS DE IDADE

Ele está gritando, gritando em frente ao seu rosto novamente, enquanto ela está presa na ilusão da sua cabeça que conseguirá acalma-lo. Meu sangue ferve e respiro fundo para não me levantar e acabar com sua maldita vida, tento me manter sentado para não colocar em prática o que ando fazendo as escondidas.

Eu sei que ela me olharia com seus olhos julgadores se soubesse que ando participando de lutas clandestinas, ela já fez isso quando eu comecei a treinar e não a julgo por isso. Quando seu filho é um "insensível", você teme que tudo ao redor possa piorá-lo e transformá-lo em um maníaco sem sentimentos.

O problema é que eu tenho sentimentos, seria mais fácil se eu não sentisse, mas eu sinto merdas demais. Isso me deixa confuso e faz minha cabeça doer. Eu gostaria que ela me olhasse de verdade e visse o que se passa dentro de mim, as mães não deveriam ser boas nisso?

Eu queria que ela não me olhasse como alguém que deu errado, eu gostaria que ela tivesse a paciência de me acalmar, eu queria tanto que ela tentasse me entender, assim como faz agora com seu maldito Tom.

Seus gritos continuam encoando pela casa, me deixando cada vez mais estressado, minha cabeça está prestes a explodir com o escândalo e minhas mãos apertam o sofá velho e desconfortável. O som de vidro se quebrando tira minha atenção da televisão pequena, levando meus olhos para o casal eufórico na cozinha minúscula.

Tom Smith, o homem barbudo que a roubou de mim e dela mesma.

Eu não lembro de como éramos antes dele, ele chegou cedo demais, não me deixando com memórias felizes, apenas fotos. Fotos de uma criança saudável, com um sorriso no rosto e nos braços de uma mulher sorridente e bem cuidada, que não existe mais.

Nada restou depois que ele entrou, nem a criança feliz e aconchegada, muito menos a mulher bem cuidada e reluzente.

Ela se foi.

Ela se tornou a esposa perfeita e se esqueceu de nós, como se tivesse apagado todos os momentos que tenho revelado em minha gaveta. É como se uma nova pessoa passasse a existir depois do seu "sim". Agora ela era Emily Smith e eu nunca mais serei digno de seu cuidado, eu nunca serei uma parte sua novamente, porque eu não sou um Smith e jamais me tornarei.

Aprendendo a ser seuOnde histórias criam vida. Descubra agora