Capítulo 19

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Ghost enrolou Riley em seu casaco para que ninguém o visse e o levamos até a cozinha. Alguns enlatados de carne foi tudo o que conseguimos, mas foi o suficiente para saciar o filhote. Depois de comer o levamos para a lavanderia para dar um banho.

- A água está gelada demais. - Fechei a torneira do pequeno tanque rapidamente e balancei a mão para sacá-la. - O que vamos fazer? Não podemos levá-lo ao chuveiro.

- Fique aqui, vou até a cozinha pegar um pouco de água quente.

Ele me entregou o filhote e seguiu para a cozinha. Sentei em um banco que havia por perto e o observei. Seu focinho era comprido e gelado, as orelhas caídas o deixavam ainda mais fofo e os olhos escuros me lembravam os de Ghost. Acaricie o pelo atrás das orelhas, recebendo uma lambida como agradecimento.

Minutos depois Ghost estava de volta com uma chaleira em mãos. Fechamos o ralo do tanque e misturamos a água quente com um pouco da água fria da torneira.

- Eu volto em um minuto.

- A onde vai? - Ele ergue as mangas da camisa e me olha confuso.

- Buscar uma coisa.

Subi as escadas do dormitório apressada. Chegando em meu quarto, segui para o banheiro e peguei meus produtos de cabelo.
Na volta, esbarrei com alguns militares que me olhavam estranho. Tentei agir normalmente e assim que eles passaram, corri de volta para a lavanderia.

- Voltei.

- O que foi fazer?

Estendi os braços com um frasco de shampoo e outro de condicionador em minhas mãos e Ghost balançou a cabeça.

- Não podemos dar banho nele com sabão em pó. - Exclamei.

Durante o banho Riley permaneceu com os olhinhos fechados, apenas relaxando com a água quente. Ele estava bem, sem pulgas ou machucados. Ghost o retirou do tanque para secá-lo, mas aquela calma toda parecia que havia sumido. Assim que suas patas encostaram no chão o filhote abriu os olhos e começou a correr para todos os lados, como se alguém apertasse um botão e o ligasse. Ghost e eu nos abaixamos para tentar pegá-lo, mas suas patinhas eram rápidas demais, nos fazendo escorregar no chão molhado.

Caídos no chão da lavanderia com as roupas molhadas e com um cachorro sem freio correndo em nossa volta, essa era a situação em que nos encontrávamos. Isso me fez soltar uma risada, sendo seguida de outra e então de uma gargalhada. Olhei para o lado vendo que Ghost também não conseguiu se segurar, gargalhando e sorrindo com os olhos. Me virei para ele e o observei.

- O que foi? - Sua risada se dissipa e ele me encara.

- Sua risada. É a primeira vez que ouço ela.

Me encarando por mais alguns segundos ele se levanta e constrangido, estende as mãos para me ajudar a levantar também. Seguro suas mãos largas e bruscamente ele me puxa, indo de encontro ao seu peito.
Agarro um pouco da sua camisa assustada.

- Desculpe, você é mais leve do que estou acostumado.

Nossos rostos estavam a centímetro de distância e se não fosse pela máscara, eu facilmente poderia sentir sua respiração.

Eu poderia simplesmente me afastar, eu deveria me afastar. Mas não o fiz. Minhas mãos permaneceram em sua camisa e meus olhos em sua máscara, ansiando por algo que estava debaixo dela. Ele também não se moveu um centímetro se quer.
Em vez disso, levou uma das mãos até a máscara e a segurou firme.

- Simon. - Chamei por ele e então seus olhos revelaram seu desejo.

Eu havia lido em uma revista de fofoca uma vez sobre o triângulo do desejo. Quando uma pessoa está apaixonada ela tende a olhar para os olhos da pessoa em questão, em seguida para sua boca, por último, torna a olhar em seus olhos, revelando seu desejo por ela e por beijá-la. Esse é o triângulo dos desejos.

Com seus olhos sobre mim, meu coração acelerou-se e minha razão havia ido embora. Sem pensar demais, segurei sua mão que estava sobre a máscara e lentamente o ajudei a abaixá-la, revelando seu rosto aos poucos.

Ghost arfava ansioso enquanto eu decorava cada detalhe de seu rosto, levando os dedos até sua bochecha e a contornando com o polegar.
Sem mais conseguir me controlar, inclinei meu corpo e o beijei.
No mesmo instante em que nossos lábios se encontraram, meu corpo e minha mente se acalmaram.

As mãos de Ghost desceram até minha cintura e a envolveram sustentando todo o peso do meu corpo, enquanto eu segurava sua nuca e puxava os fios de seu cabelo. Seu lábio era quente e macio, me fazendo desejá-lo mais e mais.
Nossas línguas se entrelaçaram e tudo ao nosso redor desapareceu. Éramos apenas nós dois ali, conectados pelo desejo ardente de ter um ao outro.

Com um último beijo, separamos nossos lábios ofegantes. Apoiei minha testa sobre a dele e esperei até que nossa respiração voltasse ao normal.

- Me diga que isto não foi um sonho. - Ainda de olhos fechados Ghost me abraça mais forte.

Em seguida sentimos respingos de água vindos de todos os lados. Era Riley que se sacudia para secar seus pelos.

- Está aí sua resposta.

Sorrimos ainda sem acreditar no que havia acontecido. Naquele momento pude admirar com atenção o rosto de Ghost. Seu nariz era longo e um pouco arrebitado na ponta, havia uma cicatriz em sua bochecha esquerda que descia da maçã do rosto até perto da boca. Seu formato era irregular e parecia ser profunda. Os lábios eram grossos, curvados para cima e se encontravam rosados por conta do beijo.

Ainda estávamos abraçados quando ouvimos vozes do lado de fora. Me apressei em enrolar Riley na toalha enquanto Ghost guardava o restante das coisas. Saímos pela porta lateral da lavanderia que nos levava até os fundos da garagem. Discretamente passamos pelos soldados do lado de fora e entramos na base novamente, seguindo até a escadaria dos dormitórios.

- E agora o que faremos? - Eu secava as patas do filhote enquanto pensava em algo.

- Você precisa deixá-lo no seu quarto.

- Por que no meu?

- Porque ninguém além de você entra lá.

- Mas e o seu quarto?

- Soap é meu colega de quarto e Price aparece por lá de vez em quando. É arriscado.

- Droga. Tudo bem, vou levá-lo comigo.

Ghost deu meia volta para sair, mas antes que ele pudesse dar mais um passo, com a mão que estava livre puxei seu braço e o virei para mim.

- Boa noite, Simon. - Depositei um selinho por cima de sua máscara e subi as escadas com cautela enquanto ele me observava lá de baixo, ainda desnorteado.

Riley repousava em meu colo enquanto eu soltava vários sorrisos bobos ao lembrar do mascarado que eu beijara mais cedo. Minha boca ainda formigava quando meu dedo encostava nela.

- Eu não me sentia assim a muito tempo, sabia? - Riley me encarou com seus olinhos de sono enquanto eu afagava sua cabeça. - Será que devo contar a Marie sobre isso?

Tirei o celular do bolso para ligar para a minha melhor amiga quando li a seguinte mensagem:

Desconhecido:

~Rua cremieux número 12.
~ Amanhã 20:00 horas.

Desliguei o celular intrigada. Quem poderia ser?

Decidi que seria melhor mostrar aos outros amanhã, afinal poderiam ser os terroristas querendo negociar o resgate do informante.

Deitei Riley no lado da beirada da cama e o abracei, puxando a coberta até nossas cabeças.

- Boa noite, Riley.








Oioi. Eu não sumi :)

Alguns de vcs receberam notificação de capítulo novo ontem. Acontece que eu ainda estou escrevendo pelo celular e ontem, enquanto escrevia, essa benção resolveu bugar e publicar o capítulo antes da hora.
Peço desculpas por isso e espero ter recompensado vcs com esse capítulo novo <3.

Amor, guerra & café - Simon Ghost RileyOnde histórias criam vida. Descubra agora