Capítulo 21

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O refeitório estava cheio naquela manhã, o zumbido constante de vozes e o cheiro misturado de comidas, deixava a espera na fila que se estendia em minha frente ainda pior.
Mas algo estava estranho. Todos pareciam mais agitados do que o normal

Enquanto aguardava pude ouvir dois soldados conversando atrás de mim.

- Algumas ruas já estão vazias, as pessoas estão fugindo com medo.

- Sim, eu soube. Mas o governo está se preparando para evacuar a cidade. Jhon e eu fomos convocados para escoltar o prefeito hoje. Ele fará o anúncio nessa manhã.

- Cara, essa cidade está uma loucura.

De repente meus ouvidos se fecharam e um choque de realidade me atingiu. Eu estava passando a maior parte do tempo dentro da base militar e por isso não havia dado conta do caos que se espalhava pela cidade. Prestando atenção no noticiário da TV, reparei nas imagens que passavam ao fundo. Minha amada cidade de Paris estava irreconhecível, se não fosse pela torre que ainda se mantinha de pé no meio dela. Prédios e monumentos destruídos e arrancados pelos ataques, fogo e fumaça tomavam boa parte dos espaços e os bairros que não haviam sido atacados pelos terroristas encontravam-se desertos, abandonados pelos moradores. Os únicos bairros que ainda estavam de pé eram os mais afastados, como o da cafeteira.

Senti meus olhos arderem e meu peito pesar. Decidi ali mesmo na fila, ligar para Marie e dizer a ela para ficar em casa com seus pais, pois diferente de mim, ela ainda podia cuidar deles.

(Marie)

- Eu estou bem, Mandi. Não se preocupe. - Sua voz era doce, mas eu podia sentir o medo em meio as suas palavras.

- Eu e os rapazes estaremos aqui caso precise. Por favor, não hesite em nos ligar.

- Certo, você também.

- Cuide-se Mari.

Desliguei o telefone e me apressei em secar as lágrimas, forçando um sorriso ao guarda que estava servindo as bebidas.
Após quinze longos minutos, finalmente consegui pegar minha xícara de café.

Vaguei pelo refeitório com a bandeja em minhas mãos, perdida em pensamentos.

- Ei, Amanda.

Levantei a cabeça e olhei ao redor levemente assustada.

- Aqui! - Destacando-se na multidão de fardas verdes, Soap abanava para mim.

- Bom dia.

- Bom dia, Amanda.

- Está tudo bem? Você parecia um pouco distraída.

- Como poderia estar bem? Essa cidade virou um parque de diversões para os terroristas.

- Vai ficar tudo bem, Amanda. - Sua mão repousa sobre a minha. - O governo e as forças armadas já estão evacuando as ruas e as casas. Algumas de nossas equipes estão focadas em levar as pessoas aos abrigos construídos em uma cidade próxima daqui.

- Mas o que acontecerá depois? Quero dizer, depois que a cidade for evacuada.

- Nós lutaremos.

A frieza na voz de Soap me fez sentir algo percorrer minha espinha em forma de zigue-zague. Meu pescoço e meus braços arrepiaram-se, fazendo minha cabeça inclinar-se levemente para o lado.

Sua mão soltou a minha e ele voltou sua atenção para o café da manhã. Seguindo seu exemplo reprimi a sensação ruim para fundo de minha mente e afoguei meus sentimentos na xícara de café.

Amor, guerra & café - Simon Ghost RileyOnde histórias criam vida. Descubra agora