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– Mãe... Mãe... Mãe...

Anakin gritava tão alto, que a sua voz quase se transformou em um fio, inaudível. A risada ensurdecedora daqueles homens, se sobressaindo, a tudo. Deixava o garoto nauseado. Transtornado, o garoto encarava o rosto daqueles que não usavam capacetes. Aqueles rostos, eram um trauma em sua memória.

– Mãe... Mãe... Mãe... – continuou a gritar a mulher, quase desacordada no chão, imundo daquela cabana, praticamente abandonada.

– Ani... – ela tentava gritar por seu filho, mas já não encontrava mais forças.  Com o rosto machucado, e uma perna e braço, que pareciam estar quebrados. Uma costela fraturada que perfurou o seu pulmão. Ela não aguentaria muito.

– Por que?... Por que?... – Anakin vociferava, indo para cima de um daqueles caçadores. O aparente líder. Tentou chutar o homem, mas o mesmo jogou o garoto no chão, dando um chute no estômago do menino, sendo seguido por risos de seus companheiros. Ele os ordenava a fazer o mesmo.

Anakin gemeu com a dor, se encolhendo no chão sujo. Sentiu lágrimas grossas escorrer por suas bochechas. Recordou pensar muito em Padmé. Nos cachos emoldurando o seu rosto. No último sorriso que a jovem rainha de Naboo, havia lhe dado. Respirou fundo, com mais um chute, mantendo o pensamento em Padmé.

Olhou para a entrada daquele lugar. Ficava encarando a fresta de luz que saia dali. Imaginando, desejando, que acabasse. Olhou mais uma vez para a mãe. Ela já praticamente imóvel. 

Precisava salvar a sua mãe.

Olhou novamente para fresta. Uma silhueta tomava o lugar da luz. Um homem pomposo, entrava pela porta, exibindo a sua postura altiva. E um sorriso excêntrico como o do diabo. O leve riso que ele dava era tão angustiante de ouvir quanto daqueles caçadores.

Anakin analisou a face daquele homem, desde o momento, em que, ele entrou. Recordou daquele rosto... O rosto... De Dookan. Nítido, bem diante de seus olhos. O mesmo chegou perto da mãe de Anakin, com a lâmina azul de seu sabre de luz. Anakin se empertigou, fraco, pela dor que sentia, mas com tanta altivez quanto o conde "jedi".

– Não encoste nela... – voou para cima do homem. Mas o mais velho acabou por interceptar o garoto com a Força. Golpeando-lhe no rosto, com o sabre de luz, acertando o canto do olho direito. Anakin resmungou, sentindo a dor latente na região atingida: – Isso não é coisa de Jedi... – gritou – Um Jedi nunca faria isso...

– Ah, Não? – debochou Dookan, – Ainda tem aquele velha fé, tola e altruísta nos Jedi, meu jovem? Olhe só onde você está agora...  – Dookan indagou, abrindo os braços, exibindo como num show, tudo que rondava Anakin, no momento, – Onde estão os Jedi agora? – abalado, olhando tudo à sua volta. A velha cabana, o chão sujo, os rostos daqueles caçadores. Anakin abaixou a cabeça: – Não... Eu tenho uma pergunta melhor... – erguendo o rosto, Anakin encarou Dookan – Por que você não está com eles agora? Afinal... – se pôs novamente ao lado de Shmi – você é o escolhido... – Anakin fechou os punhos, sentindo o direito doer, por uma das quedas. Seu corpo tremia. Engoliu seco, tentando conter as lágrimas, por trás de uma rígida expressão  – ONDE ESTÃO OS JEDI AGORA?...

Dookan rugiu, com um grito tão estridente, que Anakin pode jurar que viu as luzes da cabana piscarem. E como no piscar das luzes, antes que Anakin pudesse impedir. O homem, o ''jedi''. Com o seu sabre de luz, ceifou a vida de Shmi. Ele levou a vida do corpo de sua mãe. Como alguém vindo pelo mal. Mandado pelas sombras...

– NÃO... – gritou o garoto, clamando pela vida da mãe. Dookan riu. Não mais como o leve riso de antes. Era um riso alto, de entonação grossa, fazendo o garoto mergulhar em tormentas na própria cabeça.

Anakin tentou correr até a mãe:

– Segure-o... – escutou Dookan ordenar. O próprio líder dos caçadores de recompensas, segurou o garoto. Anakin olhava em pânico para o mesmo, ainda com o corpo tremendo – Acho que aprender uma lição vai lhe ajudar...

Sorrateiro, Dookan, lentamente andou até Anakin. Incapaz de olhar para o homem que matou a sua mãe, encarou fixamente o líder dos caçadores, que o segurava, e também ao seu braço direito, mantendo o antebraço ereto. Anakin gemeu, baixo, com o aperto forte em seu pulso machucado. Pelo canto do olho, viu a luz azul refletindo em sua íris. Anakin tentou se desvencilhar, mas o homem que o segurava era grande e muito mais forte.

Ahhh...

Anakin grunhiu, sentindo a dor cortante, queimando em seu braço direito. O riso, como de uma careta, e os olhos esbugalhados, do homem que o prendia, marcou a sua mente, junto às lembranças, de sua mãe... Qui-Gon Jinn e Padmé... Lembranças que não o deixaram caí no momento, que o sustentaram como uma coluna.

Como uma coluna sustenta um castelo, em ruínas.

O homem que o prendia soltou o seu corpo. O menino caiu no chão, já quase desacordado, entorpecido com a dor. Foi aí... Foi aí que chegou aquela figura encapuzada, escondendo o seu rosto...

Anakin acordou. Com a sua respiração ofegante, sentiu que quase havia ficado sem ar. Sentou na cama. Tocou o local, onde parte, de seu braço direito, deveria estar. De vez em quando ainda doía e sentia que ainda estava lá, mas não havia nada além de metal. Gotículas de lágrimas salpicadas escapavam de seus olhos.

Analisou em volta do quarto. E viu que o sol já havia caído completamente, terminando o seu trabalho. Tudo estava inteiramente escuro. Anakin trocou a noite pela tarde. Levantou com uma sensação de peso e de uma maresia, que o puxavam para baixo, zumbindo em seu ouvido. Cambaleava pelos cantos, tentando lembrar os detalhes do sonho que havia tido. Esbarrando em um móvel, Anakin suspirou, estava realmente muito escuro.

"Dookan estava realmente lá? Ou era coisa da minha cabeça?" Forçou a lembrar do rosto, dono da silhueta pomposa. Porém, quanto mais tentava, pontadas agudas da dor que havia sentido, voltavam a martelar na sua cabeça. Franziu o seio da face. Sabia o que havia sonhado. Mas não lembrava o que de fato aconteceu. Era confuso.

No entanto, não teve tempo de refletir. Barulhos altos de objetos sendo quebrados, junto a um grito esganiçado, desviaram a sua atenção:

– Padmé... – Anakin correu.

Mais um grito esganiçado, foi escutado. Anakin sentiu uma pontada aguda de dor em seu peito. Padmé estava sofrendo, ele sentiu. Não era ela quem gritava. E sim a sua mente. A conexão eles tinham através da força e dos bebês, faziam o rapaz vivenciar tudo que a esposa passava. Cada emoção, cada sentimento. E cada mágoa...

Chegando ao local. Depois de procurar por todo o andar. Anakin percebeu, que se tratava do antigo quarto, onde dormia, antes de estarem finalmente juntos. Entrou lentamente, observou, tudo, completamente revirado.  E o que ele mais temia, acontecer, de uma forma que não havia planejado... Olhou para todos os cantos, procurando e encontrando: ela ajoelhada diante o guarda roupa. E o sabre de luz vermelho, em suas mãos.

"Ele mentiu para mim... " escutou nos pensamentos da esposa. Ela olhou para ele, que se aproximava.

– Padmé...

Gotas de lágrimas enfeitavam ao redor de sua íris. Como cristais machucando a sua pele, descendo diretamente até a ponta de seu queixo e pingando no chão.

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Anakin Skywalker - Born To DieOnde histórias criam vida. Descubra agora