Capítulo 23

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Prezada Rebecca,

Eu tive um gato quando era criança. Laranja malhado, magrinho, odiava todo mundo. Exceto eu. Aquele gato me amava. Eu também o amava, embora não soubesse até ele ser atropelado por um carro. Antes disso, eu achava que SL era uma ameaça. (Esse era o nome dele, SL. De suco de laranja. Não muito criativo, eu sei, mas eu tinha oito anos).

Quando o gato morreu e não estava mais por perto, percebi o quanto o amava. Aquele gato estúpido tinha sido meu melhor amigo, mas eu só percebi isso em retrospectiva.

Coisa engraçada, não é, em retrospectiva? É memória, mas com uma nova compreensão agregada, de modo que o passado significa algo diferente do que significava antes.

E a única maneira de encontrar esse significado é procurando.

Olhar para o passado.

Desenterrar essas sepulturas.

Examinar os ossos que você encontrar lá.

Tenho feito minha parte ultimamente. Tenho tanto tempo livre neste lugar que pensar no passado tornou-se a principal forma de passar meus dias.

Você perguntou o que eu fiz para chegar aqui. A resposta simples é que amei demais alguém.

Entenda, aprendi uma lição com a morte de SL. Aprendi que o amor não significa nada a menos que seja posto em prática. O amor não é real sem intenção. É um verbo. Não é passivo.

Mas acima de tudo, o amor significa sacrifício.

Tudo o que o amor pede de você deve ser dado, não importa o preço.

E eu daria de bom grado o que o amor me pediu mil vezes. Mesmo se eu tivesse que fazer isso todos os dias até o fim da eternidade, eu cortaria minhas próprias veias com uma lâmina de barbear e sangraria até secar feliz.

Sarah



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