t r e n t e - e t - u n

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Sora tinha um dejavú

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Sora tinha um dejavú.

Enquanto chutava as portas dos hospitais, invadia as salas e derrubava tudo o que via pela frente, podia facilmente ver-se fazendo o mesmo por Tóquio. Entretanto, os sentimentos eram diferentes.

No passado, ódio. No presente, medo.

Sora estava com medo. A cada passo que dava, sentia medo. Não conseguia raciocinar exatamente do que, mas sabia que era medo.

Mizuki morreu. Ele chegou tarde demais.

Victoria morreu. Eles chegaram tarde demais.

Há redenção para os que nunca conseguem vencer as areias do tempo? Lutar para escalar a ampulheta, empurrando os grãos para cima, tentando conquistar um pouco mais. É tão cansativo, mas não há outra escolha.

E agora, a areia se esgotou novamente. O tempo chegou ao fim. Tão perto, chegaram tão perto! Mas não conseguiram.

Chutou mais uma porta, mas não havia ninguém do outro lado, apenas um bando de visitantes escondidos, todos com medo do que poderia acontecer em seguida. Amontoados num canto, Sora se aproximou e os afastou para garantir que não tinha ninguém escondido, e assim foi feito.

Cada passo dele era acompanhado por duas sombras. Uma física e uma de lembranças.

Quanto mais ele teria que pagar?

Faina e Shoichiro morreram por uma dívida injusta onde pagaram muito mais do que deviam, mas dinheiro não foi suficiente. Suas vidas foram cobradas. Aparentemente, essa era a maldição dos Ikari. Sora começava a compreender.

O justo nunca será suficiente. O preço desse mundo são as vidas.

Com mais um chute, derrubou a porta do que um dia foi uma lavanderia e viu uma enfermeira correr para se esconder. Ele a perseguiu e a encontrou se escondendo entre os lençóis sujos. Nos braços, o pequeno Nuri dormia tranquilamente na segurança da mulher.

— Corine? — Sora reconheceu a irmã do policial.

Ela pareceu confusa de início, mas não respondeu. Chorando, segurou o bebê de forma protetora, se recusando a entregá-lo. Corine olhava para os lados, desesperada para correr novamente, mas não havia escapatória.

Sora se afastou momentaneamente e ergueu as mãos em rendição para que ela não se sentisse acuada.

— O Armani, o pai do Nuri, tá lá embaixo. Leva ele até as ambulâncias, por favor.

Os olhos dela estavam arregalados e trêmulos.

— Foi a Victoria que te pediu pra esconder ele, não foi? Por favor, leva ele pro pai. Sai pela porta lateral, não vai pela frente.

Corine se tremia inteira, mas disparou a correr na direção contrária, fugindo da lavanderia. Ela obedeceu o que Sora falou, mas todo o corpo dela ainda estava arrepiado de hostilidade.

Bordeaux - Sablier RougeOnde histórias criam vida. Descubra agora