PRÓLOGO (MEADOS DE 2200 - 2210)

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Naquela noite, Skirah vagava sozinha pelas ruínas de uma cidade que, um dia, ela imaginava ter sido vibrante e cheia de vida humana. Agora, restavam apenas fragmentos do que uma vez foi uma comunidade ativa. "O que devo fazer para sair desse buraco que Lúcia nos meteu?" A menina de olhos vermelhos como sangue murmurava para si mesma em pensamentos, enquanto caminhava por entre trailers abandonados, cobertos por painéis solares em seus tetos. 

Esse lugar, onde havia passado os últimos dias de sua infância acelerada com sua mãe e o caçador Pedro, estava mergulhado em uma calma inquietante. A escuridão se espalhava pelas ruínas, e o silêncio era pontuado apenas pelo som do vento sussurrando através das estruturas desmoronadas. 

Foi nesse cenário desolado que Skirah viu três figuras humanoides do clã tríade. Eram seres de pele extremamente pálida, carecas e nus, sem íris nos olhos leitosos ou genitais visíveis. Conversavam em um idioma incompreensível para ela, escondidos atrás de um dos carros enferrujados. A visão dessas criaturas a fez repensar sua situação, bolando um plano. 

  Com a ideia finalmente surgindo em sua mente, Skirah percebeu que poderia ignorar os monstros e voltar ao abrigo onde sua mãe e Pedro a esperavam ou ataca-los para sabotar a permanência naquele novo "lar". No entanto, as regras dos "Ácuras"—humanos livres e colecionadores de achados culturais perdidos que mantinham a paz entre as espécies—permitiam ataques sob qualquer motivo justificado, desde que pudessem ser avaliados posteriormente. Isso tornava a situação ainda mais simples para ela. 

Não haveria interrupção. 

  Determinar manter as coisas como estavam ia contra seus planos. Skirah decidiu que a chave para sair daquele território que tanto desprezava era forçar Lúcia a se mudar ou enfrentar as consequências por sua rebeldia. Com sorte, sua família disfuncional seria expulsa. 

  Movida por essa determinação tola e impulsiva, Skirah se aproximou do grupo furtivamente. O ambiente ao redor estava cheio de sombras e o som distante de metais rangendo. 

Ela se encaminhou para os alienígenas, movendo-se como um predador. Com um salto ágil, aterrissou sobre um dos tríades, cravando a faca em sua nuca com precisão mortal. O alien caiu sem emitir um som. Aproveitando o impulso, ela lançou a faca no segundo alienígena, que a recebeu na testa. No entanto, Skirah não fora rápida o suficiente para recuperar a lâmina antes que o último tríade se aproximasse. 

 O terceiro humanóide pálido agarrou seu braço com força sobrenatural e a golpeou com um punhal prateado no rosto, acertando sua boca. O impacto a fez cambalear, sua visão embaçada pela dor. Instintivamente, ajoelhou-se, sentindo o metal frio cortando sua pele quando ele se lançou nela, afundando a lâmina em sua coxa. Tentou se levantar, a respiração pesada e irregular.

Desesperada conseguindo se soltar dele, a híbrida rastejou se levantando. Tentou correr, mas a dor a desacelerou. O punhal havia cravado profundamente em sua perna, e seus movimentos eram hesitantes. 

A criatura a alcançou novamente, e ambos caíram no chão, lutando corpo a corpo. Skirah, com movimentos desajeitados e exaustos, conseguiu alcançar o punhal em sua coxa e, com um grito de dor, o arrancou, cravando-o na cabeça do alienígena. O corpo da criatura tombou sobre o dela.

Enquanto tentava se libertar do peso do cadáver, Sky avistou dois alienígenas de pele azul, pertencentes ao clã control, nus e sem nenhum pêlo no corpo ou genital visível, observando de uma distância segura. Eles permaneceram imóveis por um momento e, após avaliarem a situação, se afastaram sem intervir. Talvez não a tivessem notado, escondida sob o corpo da criatura. Com um último esforço, Skirah se arrastou para um trailer próximo. 

A porta do trailer vazio se fechou com um estrondo abafado atrás dela, e ela se permitiu um momento de descanso. Sentada no escuro interior, seu corpo tremendo de dor e exaustão, ela xingou os alienígenas da raça tríade por serem reativos, sua voz rouca e embargada pela dor. 

Formação de CinzasOnde histórias criam vida. Descubra agora