Capítulo Dezanove

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Triny

A dor de cabeça, o cheiro de pneu catando, o zumbido nos ouvidos, vozes que pareciam vir de longe, disparos, o cheiro de mofo, o som de sirenes, gargalhadas, gritos, a dor, sangue, muito sangue em minhas mãos, o cheiro de sangue secando, eu estava sangrando? A dor, céus que dor insuportável, bati tanto com a cabeça hoje, Ana Luiza, Ageu, meu Deus Ageu, Ely, dona Ana, foi tudo muito confuso, apaguei e será que ainda é o mesmo dia? Um chute, ganhei um chute em minha cara, apanhei tanto que parece que vou ter de fazer uma plástica, meu nariz, sangue, meu abdômen, minhas costas, vadia, vaca, bicha foram os nomes usados enquanto alguma coisa acontecia, enquanto falavam, gritavam, xingavam, tudo escuro, água fria, muito fria, chutes, vários chutes, água fria, comida estragada, cheiro de queimado, chute, vadia, como é vadia, escuro, uma escuridão longa e tortuosa, é tanta dor que não sinto mais meu corpo, não sinto mais dores, está escuro, muito escuro, está tudo confuso, não sei se é mais um pesadelo ou a minha realidade.

...

— Onde estou?  — é a primeira coisa que me pergunto  ao despertar, estou  deitada em uma espécie de pano jogado no chão, um pedaço de colchão surrado, vejo uma cadeira de praia, mas aqui está muito escuro e não tem área e não tem aquela brisa fresquinha então não deve ser na praia, olho para o outro lado e vejo uma porta grande de ferro, tento me levantar mas meu corpo parece estar mais pesado e tanto me esforço e não consigo mexer nem um dedo das minhas mãos.

Lembro que ganhei uma surra ao chegarmos aqui, outra por me negar comer algo nojento, tentei sair e eles me bateram tanto, pelos vistos eles foram proibidos de fazer aquela festinha comigo, não sei quem foi mas agradeço bastante por isso, quantos dias se passaram?

Meu nariz estava todo quebrado, acho que fraturei uma costela ou várias, a dor de cabeça é o que pode me matar, antes de eu parar de sentir as dores momento em que chegamos aqui, me pareceu ouvir vozes de crianças aqui, ou então eles disseram algo sobre algumas crianças, não sei, está tudo confuso na minha mente, mamãe, o colo da minha mãe, a praia, a fazenda, minha mãe de novo, minhas lembranças e pensamentos estavam em guerra.

Minha visão estava a ficar boa nesse lugar, já adaptada a pouca luz que conseguia entrar por alguns buracos na parede ou teto, talvez seja lâmpadas que colocaram aqui, tentei me levantar algumas vezes e a única coisa que consegui foi virar meu corpo e ficar de barriga para cima sentido algo arder de dor nas minhas costas, foi uma surra foste que ganhei, foram tantas, eles só pararam quando eu não respondia, eu quero me vingar desses idiotas.

As paredes eram velhas e o cheiro de mofo estava em todos os cantos, eu precisava me levantar e ignorar o máximo possível essas dores e ver um jeito de sair daqui.

Me esforcei e finalmente consegui me manter de pé, com muita dificuldade caminhei até a porta, sentindo dor até onde eu nunca imaginei sentir, estava a mancar não me admira, meu corpo só queria parar mas eu não podia , vou conseguiar, eu iria conseguir sair daqui, ouvi gente do outro lado, não consegui ver nada, a porta era de ferro e sem brechas ou fechadura, era totalmente lisa do lado de cá.

— Acorde ela e deia um pouco de água e comida, nessa cabra, a obrigue comer, ontem já não comeu nada.

— Está bem chef!

— Tenham muito cuidado com ela, ela é bem boa na surra, e ela ainda me deve uma vida, então eu vou acabar com ela, se ela tentar mais uma coisa hoje, façam a festa, não importa o que nos disseram.

— Deve não, vocês estão quites, lembra que você matou o irmão dela? Aquele idiota do Ageu?

— Cala a boca, não matei ele por ser irmão dela, foi uma ordem da dona!

TIRANIA, Meu Doce Caju.Onde histórias criam vida. Descubra agora