Capítulo Trinta e Cinco

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Ely
(Uma dor que te afunda!)

Quase todos os dias venho no cemitério e passo aqui várias horas chorando e tentando encontrar as respostas e não encontro, Deus me deu uma oportunidade de vida e eu preciso viver ela, preciso esquecer tudo que aconteceu. Deixar tudo no passado sei que não vai dar, mas superar eu posso.

Tudo que vivemos nos últimos meses deixaram traumas e confiar será difícil, tão difícil que minhas amizades só se resumem em Gye, que foi comigo até na merda, ela foi por caralho da merda comigo, aquele idiota arriscou a minha para me ajudar, quase morreu e eu serei grato para sempre.

O pessoal que trabalhou para nós no tempo que estivemos escondidos agora está com suas famílias e amigos, vários deles nós entregamos os restos e foi horrível ver seus familiares destruídos pelas perdas, dispensamos todos não precisamos mais de segurança, Fabiana voltou para o prédio, já eu, eu não vivia lá, eu não poderia viver lá, estou em um espaço maior e mais sossegado, Gye está feliz, próxima semana será seu casamento, Giovanna e Pablo? Esses estão vivendo suas vidas como se nada tivesse acontecido, e eles estão a cuidar os filhos de Tâmara.

Tirania precisa de paz, a alma dela precisa de muito paz, e eu vou seguir amando aquela furacão, aquela menina mulher, minha miúda, todos os dias.
Até hoje não temos informações do paradeiro dos corpos de Tabita e Senhor Alonso, será que estão vivos ou apenas os membros do clã tiraram os corpos de lá? Essa questão ainda irá me dar dores de cabeça.

Três meses, já se passaram três meses desde que tudo aconteceu, desde que me liberarem desde que vi meu mundo preto e branco se perder, desde que se iniciou, três meses tentando mudar o rumo da minha vida, tentar esquecer, três meses vivendo como se fosse o último dia, três meses de pesadelos e choros, insónia e perguntas sem respostas, meses de planejar minha próxima vida, minha família e minha felicidade.

Preciso seguir minha vida, toca bola pra frente e aprender a lidar com as consequências que aqueles meses deixaram tatuados em minha alma e pele. Sei que não será fácil, acordar com medo de voltar lá, andar com passos largos e atento a cada suspiro ter medo da solidão e angústia de perder mais alguém.

...

Assim como eu, nessa cidade e em outras tem pessoas com os mesmos traumas e dores, talvez piores que os meus, então só tenho uma coisa a dizer, ou talvez várias, mas decidi falar em um poema.

Um conto que nunca é contada.

Em catástrofes, tragédias, o luto se faz sentir,
Quando o coração quebra e não sabe como seguir.
Nas drogas e sombras, vidas se desfazem,
E em assassinatos cruéis, os ecos se fazem.

A perda é uma fera que a alma devora, um conto desses ninguém conta
No encanto e relato, fica a dor a espera
Mas na escuridão, a luz ainda aflora.
Não é só o que se perde, mas o que se guardou,
Em memórias e amores, o que nunca se apagou.

Mesmo quando a vida se faz desastroza, os olhos choram na certeza,
E o sofrimento parece uma melancólica prosa,
Aqueles que se foram não estão esquecidos,
Nos ecos das lembranças, ainda são ouvidos.
Suas vozes e sorrisos ainda preferidos,
Ainda cantam  e encantam no vazio campo do coração esquecido

O luto é uma rua sem saída, mas há uma luz
Que brilha nas sombras, e nunca se reduz.
Nos caminhos da dor, ainda há quem se importe,
Com cada lágrima, com cada gesto seja forte.

TIRANIA, Meu Doce Caju.Onde histórias criam vida. Descubra agora