Capítulo 12

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Boa leitura ♡
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Eles estão encurralados. As trincheiras tem três metros de profundidade no chão, elevadas sobre suas cabeças, que estão fechadas num capacete marrom de ferro pesado, que de nada os protege realmente. Suas roupas estão coladas ao corpo, e nem sequer as notam, desfazendo com a constante fricção no cano quente das armas, das quais não tirar das mãos por um instante que seja.

As escavações por mais labirintos na terra estão impedidas, e a proximidade das tropas inimigas deixa-os em estado de alerta e terror. Podem ouvir o constante murmurar de choro, xingamentos e recarregar de armamento. Estão encurralados.
Harry sente o chão de terra batida afundar sob seus pés latejantes dentro da bota, o bico de ferro está deformado pela quantidade de pedras que cercam as paredes altas, que são usadas como apoio nas horas de ataque. São ao todo doze ataques diários, num período rigorosamente cronometrado de 24 horas. Ninguém descansa. O barulho de morte tem pausa e recomeço insuficiente para que eles se recuperem.

De forma intercalada, os Aliados jogam granadas quando por uma infelicidade percebem uma superpopulação de soldados num espaço de trincheira, secando o exército como uma árvore sem sol e sem água. Os feridos não podem se amontoar, já que representaria uma área inútil e vulnerável, espalhando-se como mendigos numa cidade, e na maioria das vezes definhando sob o olhar arregalado dos outros, que tem uma hora de preparação da munição e uma hora completa de artilharia. Incessante.

Nas mãos de moreno um cantil pela metade de água. Ele treme junto de tudo. Porque o chão, as paredes, os pedregulhos enormes e com pontas afiadas, onde se amontoam dez a quinze homens armados encima, tremem. Sacode e numa só vibração suas cabeças encolhem, os olhos se alargam, deixando grande parte do globo branco à vista, como peixes. A boca se curva, ressecada, envelhecida.

Harry molha os lábios, a água do cantil tem gosto de sangue e suor. Sua garganta fecha.
Continua andando, continua andando. Cadê o desgraçado do Comandante?
Quando se dá conta, o tiroteio recomeça, e os corpos dos soldados se amontoam mais juntamente, a linha de suas cabeças rentes à beira do chão, onde as balas passam em alta velocidade. Orelhas são arrancadas. A grama esverdeada tem caroços de munição espalhadas - tudo carrega um fundo vermelho de sangue, um odor de ferro e um gosto de séquito na língua, como caminhar no deserto.

Harry continua andando, seguindo nas curvas íngremes que não lhe permite ver muitos metros do caminho a frente por mais que alguns minutos. A escavação fui feita para ser sinuosa. Deixa-o paranoico, sem conseguir decifrar em quanto tempo falta para avistar o Comandante, ou esbarrar nele ao acaso, já que Harry perdeu há muito a noção de distância.
O barulho do ataque faz seus ouvidos zunirem como se cheios de abelhas. Faz mais de uma hora que o ataque começou, ele percebe.
Seus joelhos estão estalando com o esforço da caminhada.

Os homens começam a escorregar das pedras, porque não estão habituados a passar tanto tempo com os pescoços abaixado sobre o peito, curvados, de forma que escondem o crânio das balas.
Faz mais de uma hora. Eles quebraram, sem aviso, um acordo implícito. Provavelmente estão avançando na direção das trincheiras, e de alguma forma escavaram mais metros à frente do que eles imaginaram, em silêncio. Escavando na hora que estavam sendo atacados, aproveitando o tempo.

Os soldados começam a entrar em pânico, Harry observa, eles riscam as armas com moedas e chaves, juntam as mãos numa prece, empurram uns aos outros. Ele anda, e alguns metros depois já fica impossível caminhar na mesma velocidade. A passagem estreita fica cheia de homens, saíram de suas posições que procuram algum oficial, assim como ele. Harry desvia dos ombros largos e das espingardas que balançam no cinto e envoltas dos braços alheios.

Não tem nenhum superior. Em lugar algum.
Um homem com uma faixa vermelhas em volta do braço, o sinal dos médicos, esbarra em Harry. Num ímpeto, o moreno segura a faixa:
- Onde está o Comandante ?

Servo de Sangue - DrarryOnde histórias criam vida. Descubra agora