O bom é que depois, o final
É a pequena morte lenta de nós dois
De nós dois— Pitty, Pequena morte.
Mesmo depois de chegar lá, ele continua dentro de mim, saindo apenas após alguns minutos, sem dizer nada. Eu permaneço deitada, imóvel, encarando o teto. Depois do que fizemos, é inútil mandá-lo embora, e eu ainda não estou pronta para ficar longe dele. Quero aproveitar esse momento. Ele se deita ao meu lado; eu não o olho, porém. Ainda estou ofegante, respirando com dificuldade. Não sei ao certo o que sentir; não estou exatamente arrependida, mas saber que eu cedi à tentação e me envolvi com ele faz com que eu sinta raiva de mim mesma.
Ele, enfim, fala, me perguntando onde é o banheiro. Eu o respondo, ainda deitada, e ele se levanta da cama. Eu o observo sair em silêncio; os ombros manchados de sangue, pequenos pontos vermelhos espalhados pelas costas, a bunda maravilhosa. Desbloqueio o meu celular sobre a mesa de cabeceira e vejo que, agora, são dez da noite. Preciso dormir logo; amanhã é o curso de formação do BOPE e o dia será longo. O problema é que eu sinto tudo, exceto sono.
Minutos depois, ele retorna, depois de descartar o preservativo, ainda nu. Meu Deus. Diferente de mim, parece confortável e, mais do que isso, não parece querer ir embora. Entro em conflito, dividida entre mandá-lo sair e deixá-lo ficar. Evito olhá-lo nos olhos e, por isso, encaro a sua tatuagem, que, durante muito tempo, me deixou curiosa. É a caveira do BOPE tatuada sobre a pele do seu braço. Eu deveria ter imaginado. Engulo em seco, pensando no significado por trás do símbolo. Ele se deita ao meu lado.
— Preciso acordar cedo amanhã. — Digo, mecanicamente, dispensando-o. Ainda não o olho.
— Eu também. — Ignora. Me arrependo do que disse no instante em que sua mão desliza pela minha coxa. Conto até três, mentalmente, tentando criar coragem para mandá-lo ir.
— Vou me vestir e abrir a porta pra você. — Faço menção de me levantar, mas, no mesmo instante, suas mãos prendem os meus braços acima da cabeça. Ele fica por cima de mim. Suspiro.
— Não acabei ainda. — Fala, seus olhos escuros fixos aos meus. Quero mandá-lo embora, sabendo que, amanhã, vou me arrepender de ter cedido, mas, por ora, me deixo levar. Tento beijá-lo, mas, quando minha boca está próxima à dele, ele se abaixa e lambe o meu mamilo. Reviro os olhos com a sensação da sua saliva quente na minha pele. Algo em mim se acende, porque, de repente, eu o quero novamente. Uma rapidinha, e só.
Uma de suas mãos ainda prende as minhas acima da cabeça, e eu, querendo mais, envolvo minhas pernas ao redor dos seus quadris. Ele lambe, mais uma vez, meu mamilo, me provocando. Torturando, porém, parece ser a palavra mais adequada. Eu gemo. Ele envolve meu outro seio com a mão livre. Eu me mexo, impaciente.
— Você precisa ser mais paciente, doutora. — Diz. Filho da puta. — Vou te comer outra vez, mas não vai ser agora.
Estremeço quando ele diz isso. Sua língua desliza pela minha barriga, contornando o meu umbigo, e para quando, finalmente, chega até a minha virilha. Sinto sua respiração quente contra a minha pele. Eu arqueio as costas, querendo mais. Ele sobe, afastando-se de onde eu quero que esteja, e dá, sem avisar, um tapa no meu rosto. A pele da região instantaneamente queima, e eu sinto, mais do que nunca, vontade de mandá-lo ir embora.
— Se controla. — Fala. Eu o encaro, sem reação. Qual é o problema dele? Me sinto humilhada.
Ele aumenta a pressão do aperto sobre os meus pulsos, e eu choramingo. Dói. Eu mereço isso, porém. Eu fui atrás, eu o beijei, eu o procurei, e agora a raiva que sinto é quase tangível. Ele se abaixa outra vez e, devagar, circula o meu clitóris com a língua.
VOCÊ ESTÁ LENDO
As duas faces da justiça
RomanceFernanda Mourão é advogada e trabalha na Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro em prol dos direitos de populações vulnerabilizadas, dedicando sua vida ao trabalho e à luta contra os abusos de poder cometidos em comunidades carentes. Após a...