Capítulo 1 - Eros

203 20 21
                                    

Já tinha realizado minha segunda missão desta semana. Geralmente, as missões de nós, cupidos, não eram difíceis. Não brincávamos com o destino, nem escolhíamos casais ou amizades aleatórias. Sabíamos que, se havia interesse ou intenção, podíamos agir. Às vezes, as pessoas só precisavam de um empurrão para que tudo acontecesse. Estava descansando em uma nuvem - as nuvens do nosso mundo eram firmes -, nosso mundo ficava além das nuvens dos humanos, como se fosse um portal para um lugar completamente encantado e mágico. Tudo vivia em harmonia aqui, tudo era paz, exceto quando havia treinamento com os cupidos novatos. Estava distraído em pensamentos quando Adônis chegou.

- Fala aí, Eros, tudo certo? - ele disse, deitando-se ao meu lado na nuvem.

- Sim, já completei as missões desta semana. Estou aqui olhando um pouco para o mundo dos humanos.

- Às vezes eu não entendo o que você olha tanto para lá. Aqui é um milhão de vezes mais bonito. Os nossos céus são mais azuis, os jardins são encantados, a natureza é mais bonita, e olha só os palácios e casas flutuantes, as cores são mais vivas, tudo em perfeita harmonia.

- Eu sei que aqui temos muito mais cuidado com a natureza, e que tudo é infinitamente mais perfeito, mas gosto de olhar as imperfeições dos humanos e admirar isso neles. Gosto de analisar seus medos e anseios, vontades e desejos. Também gosto de observá-los para usar em minhas missões futuras. Você reclama, mas quando nos autorizam a ir lá uma vez por semana, você bem que vai.

- Ah, as humanas, nesse quesito, são bem interessantes. Elas são diferentes das nossas cupidas. Gosto de estar perto das humanas.

- Pois é, né, senhor Adônis? Disso você gosta... Vênus nunca implicou com você?

- Teve apenas uma vez, quando uma humana ficou um pouco obcecada por mim, mas fora isso...

- Você teve sorte daquela vez. Coitada da humana.

- Não tenho culpa se meu charme é totalmente irresistível.


Reviro os olhos. Adônis era muito convencido. Não poderia dizer que não deveria ser. Nós, cupidos, somos diferentes dos humanos comuns. Ele era um cupido muito bonito, de cabelos negros, e suas asas não eram exatamente brancas, mas uma mistura de cinza com branco. Bem, isso não chamava a atenção das humanas, porque elas não viam nossas asas, nem a roupa que usamos como cupidos, que parecem de eras gregas para os humanos, deixando nossos corpos bem à mostra. Tínhamos corpos atléticos também, e nem precisávamos nos esforçar como eles, vivendo em academias ou tomando qualquer tipo de coisa. Era tudo natural da nossa raça, como as cupidas, que têm corpos perfeitos.

- Dominic iria me passar mais uma missão esta semana, mas acredito que ele está ocupado por mais alguns dias, né?

- Ah, sim. Esta semana é a prova para cupidos recém-formados, mas Dominic estava bem puto da vida porque esses novos não estavam se dando bem na arte do amor. Parecem ser mais distraídos. Essa turma estava com grande chance de ser reprovada.

- Eu ouvi Selena comentando sobre isso, que causaram a maior confusão com um casal de idosos e ela teve que arrumar tudo depois. Ainda bem que não fui designado para isso, não tenho a menor paciência.

- Putz, nem eu. Vênus e Orfeu sabem escolher os professores certos.

- Atlas ficou de me fazer algumas flechas para a semana que vem, disse que seriam mais rápidas.

- Ele é um ótimo ferreiro, né?

- Sim, Vênus sabia olhar o talento de cada um de nós como ninguém.

- Nisso você tem razão.

- Esta semana você já sabe onde vai explorar?

- Lá com os humanos?

O triângulo dos cupidosOnde histórias criam vida. Descubra agora