Meu pai aparece na sala, sendo segurado por uns cinco guardas. Nunca imaginei que ele fosse tão forte. Estava usando roupas iguais às dos cupidos, mas em tons mais acinzentados. Ele tinha músculos que eu nunca havia visto antes. Seus cabelos eram negros, não curtos como os de Adônis, mas compridos, cobrindo o pescoço. Dava para ver uma tatuagem em seu peito, como se fosse um tribal na cor preta. Seus olhos eram verdes, e estavam mais brilhantes do que da última vez que o vi, mas seu rosto parecia muito mais cansado e abatido que anos atrás. Suas asas negras brilhantes farfalhavam no ar enquanto ele voava em nossa direção.
— Podem soltá-lo, fui eu que o chamei — os guardas o soltam e vão embora, fazendo uma reverência. Ele vem em minha direção e me abraça apertado, mas eu não consigo abraçá-lo de volta. Ainda sinto mágoa, porque ele também me abandonou...
— Eu sei, filha, eu sei que você deve estar muito magoada comigo. Eu deveria ter te contado toda a verdade...
— Mas eu não deixei — interrompe Vênus.
— Você sempre fodendo a minha vida, não é, deusa Vênus? — minha voz estava carregada de raiva, mágoa, anos de tristeza acumulados...
— Eu achei que estava te protegendo de tudo. Pode não parecer, mas eu te amo. Sempre te acompanhei de longe...
— De que adianta, Vênus? Eu tinha apenas dez anos quando você me deixou. Tem noção do que se passou pela minha cabeça? Eu sempre achei que tinha feito algo errado, porque uma mãe nunca abandona uma filha boa... Depois, você não deixou que meu pai me contasse a verdade... e ainda manipulou dois cupidos para que me defendessem? Você tem noção de como é tudo isso para mim?
— Eu sei que...
— Você não sabe de nada, Vênus. Você foi egoísta e mesquinha, exatamente como os livros falam dos deuses, que fazem tudo a seu bel-prazer, sem se importar com ninguém... tratando todos como objetos.
— Filha, eu sei que você está muito brava com sua mãe e comigo — meu pai olha para mim e vê meus olhos vermelhos e marejados, mas eu não vou chorar, não vou derramar mais lágrimas por causa dela. — Mas, neste momento, precisamos nos unir e encontrar uma solução. Esses anos, eu passei no mundo dos exilados, tentando convencê-los de que essa profecia era balela, escrita por qualquer pessoa, mas foi em vão. Eles acreditam que te sacrificando poderão voltar para este lado, e ainda serão os mais poderosos...
— Mas me sacrificando salvaria este mundo?
— Nem pense nisso, princesa — Adônis diz, com firmeza.
— Adônis tem razão. Isso está fora de cogitação — reforça Eros.
— Tem certeza, Eros? Tem certeza de que sacrificaria seu povo por mim? — pergunto, esperando sua resposta, mas Eros apenas me olha em silêncio, sem dizer nada.
— Ninguém vai te sacrificar, filha, nem que eu tenha que morrer para impedir isso — meu pai afirma.
— E seu sacrifício não é garantia de salvação... A profecia diz que eles voltarão para cá, mas não sabemos se, após anos de exílio, estarão pensando em coisas boas ou apenas em caos. Acredito que o que eles querem é poder, e nada mais – Vênus fala com uma calma inabalável...como podia?
— Vênus, o que você acha que devemos fazer, então? — pergunta Eros.
— Eros, eu ainda não tenho nenhuma solução para isso. Os anos se passaram, e eu não consigo ver um jeito de evitar essa guerra...
— Pois eu vejo... — uma voz interrompe.
— Orfeu? — meu pai o olha com raiva. Será que ele ainda sente algo pela minha mãe, ou há mais coisas escondidas?
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O triângulo dos cupidos
RomanceEm um mundo onde o destino do amor é guiado por forças sobrenaturais, dois cupidos, Eros e Adônis, entram em um jogo perigoso e sedutor. Eros, o cupido nerd que segue as regras à risca, e Adônis, o anti-herói que desafia todas as convenções, encontr...