Capítulo 19

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Wednesday

Eu havia chegado há um tempinho e queria o melhor lugar para ver a Enid, então fui junto com o pessoal para as primeiras cadeiras.

O local estava cheio de pessoas procurando seus lugares, e um senhor de terninho parecia bem animado, olhando o cenário aos pés do palco e tirando algumas fotos. Acho que ele era um dos professores de Enid, pois já o vi pela faculdade.

— O cenário ficou incrível! — Torry disse, apoiando o braço na parte de trás da minha cadeira.

— Foi sim! — confirmei e observei Divina sumir pela lateral do palco, apressada e aparentemente nervosa.

O senhor de terninho fez seu caminho até o mesmo lugar tranquilamente, cumprimentando alguns professores no caminho. Até Bill estava lá, entre o grupo de colegas.

— Gente, acho que tem algo de errado! — Yoko disse olhando o celular.

— Por quê? — perguntei, me virando para trás.

— A Divina estava muito estranha, não acharam? Ela nem veio falar com a gente.

— Ela só deve estar ocupada! — Tyler disse, bebendo um gole do refrigerante que ele tinha comprado há pouco.

— Acho que vou entregar as flores para a Enid agora, me dá aí, Tyler! — pedi, e o garoto pegou as flores que estavam na cadeira vazia ao seu lado.

— Já volto! — O homem baixinho de terno subiu no palco, e presumi que ele ia falar algumas palavras antes da peça começar. Então, apressei o passo até a lateral onde Divina havia sumido.

Ao entrar, me deparei com o pavilhão do século 16, todos vestidos a caráter.

— Oi! — chamei a atenção de todos.

— Bela roupa, Tristan! — disse elogiando. Ele não fazia parte da peça em si, só cuidaria da ilustração, mas mesmo assim estava a caráter.

— Que caras de enterro são essas? Não é a grande noite de vocês? — perguntei e vi Enid sentada em uma cadeira com a mão sobre o rosto.

— Acabou! — ela disse, e eu abaixei o buquê que sequer ela havia visto.

— Como?

— O idiota do George não vai mais vir, não tem mais peça. Não podemos fazer sem o Romeu! — Encarei Divina.

— Por que ele fez essa merda? — disse exaltada, com raiva junto com os atores.

— Porque o cara não gostou de levar um fora da Julieta aqui! — Serafim disse, encostado em um pilar.

— Depois eu te explico, Wed! — Divina disse em defesa, mas eu não podia deixar isso assim.

— Alguém de vocês não pode ficar no lugar dele? — perguntei, e Divina negou.

— Os únicos nos ensaios eram eu, Enid, George e o Tristan. O Tristan não decora nada, eu tenho que ajudar nos bastidores e não sei como agir sob pressão. Eu cairia do palco, e bem, a Enid já vai estar no papel dela.

— Ououou! — Tristan disse, parecendo ter uma ideia. Todos olharam para o garoto, incluindo eu.

— Não foi só a gente nesses ensaios! — Enid ergueu o olhar para o garoto de cabelos cacheados.

— Verdade! — disse levantando.

— Wednesday, você por acaso prestou atenção nos diálogos? — Sei onde essa conversa acabaria, mas se isso ajudaria a Enid e salvaria sua noite, eu entraria na onda.

— Sim! — disse assentindo.

— Deus, obrigado! — Divina disse levantando as mãos para o alto.

— Você entraria na peça? Se não quiser, eu entendo, sério, é muita gente e você não é uma atriz.

— Eu topo! — disse, e todos ao redor comemoraram.

— Temos nosso Romeu! — Serafim disse com um pulinho, e Célia e Helena foram na onda do garoto.

— Não, temos nossa Romeu! — Divina disse alto, e os outros bateram palmas.

— É uma readaptação, afinal de contas. Eles não precisam saber que foi de última hora! — Enid completou.

— Então, vamos agilizar isso! — Divina bateu na prancheta em sua mão, e todos começaram a se preparar.

— Aqui, Wednesday! — Tristan me entregou uma capa, e eu segurei, parando em frente de Enid.

— Eu trouxe para você! — entreguei o buquê, e Enid sorriu, pulando em minha direção. Ela sussurrou um obrigado só para mim, perto do meu ouvido.

Enid guardou o buquê para pegar depois da peça e me ajudou a vestir uma capa azul por cima da minha roupa. George havia levado a roupa. Sério, se eu esbarrar com ele, ele vai ver.

O professor terminou de falar, e logo começou a peça. Eu aguardava atrás das cortinas, esperando minha deixa. Estava nervosa, não muito, mas estava. Eu não sou do tipo que se sente à vontade para fazer uma peça, preferia passar horas dentro de um laboratório sozinha, mas faria isso por Enid.

Assim que minha deixa de entrar chegou, ultrapassei as cortinas e senti os holofotes sobre meu rosto. Era a primeira vez que Romeu via Julieta. Tentei ao máximo lembrar do dia que conheci Enid e de como passamos a noite conversando, assim como Romeu e Julieta em uma sacada em uma parte da história. Até que bateu essa coincidência.

As cenas foram se seguindo e pude ver a surpresa da plateia, mas segui a deixa. Enid se aproximou, era a cena do beijo. Eu estava extremamente vermelha, e quando Enid segurou meu rosto selando nossos lábios, levantei. Era um beijo técnico para o teatro, mas mesmo assim me fez sorrir discretamente ao leve toque dela.

Estávamos nos dando bem no palco. Eu havia pegado o jeito e logo até interpretava com mais realidade.

— Por que és tu, Romeu? Renega teu pai e recusa teu nome, mas se não for possível, jura que me ama e não serei mais um Capuleto. — Enid disse, e eu fiquei hipnotizada em como ela expressava magnificamente cada letra, cada som, cada frase.

Lembro dos ensaios e logo vejo que estamos na cena final, onde os dois morrem. Dou meu máximo para ficar o mais real possível.

— Sê bem-vindo, punhal! Tua bainha é aqui. Repousa aí bem quieto e deixa-me morrer. — disse, pegando a faca, e fiz a cena caindo sobre Enid. As cortinas foram fechadas.

— Conseguimos! — Enid disse, me abraçando ainda no chão. Todos os atores vieram em nossa direção, pois estavam nos bastidores depois de suas apresentações.

— Muito bem, meninos! — O professor de Enid apareceu e começou a organizar a ordem para voltar ao palco para agradecer.

— Você é nova, querida? — Ele me perguntou, e eu neguei.

— Depois te explicamos, Carlos! — Divina disse, e ele assentiu. As cortinas se abriram novamente e uma chuva de aplausos começou.

Beijos da Torry 😘

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