Capítulo 38

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Wednesday

Passei não sei quanto tempo abraçada a ela em silêncio. Eu estava tão preocupada; é horrível a sensação de impotência, de ficar no escuro sem saber o que fazer.

— Nid? — Ela sai da curva do meu pescoço e me olha nos olhos.

— Desculpa, você deve estar tão confusa! — Ela diz, passando a mão sobre o rosto e voltando à posição anterior. Passo a mão em suas costas para tranquilizá-la.

— No seu tempo, Nid! — Digo baixinho, e ela se move.

— Uma hora ou outra você vai ter que saber. Não adianta mais eu fugir do passado, ele uma hora ia voltar. — Ela diz, e me sento encostando as costas contra a cabeceira da cama, e ela vem se ajeitando ao meu lado.

— Eu tinha dito uma vez a você que eu tinha um irmão. Bom, o nome dele era Erick; éramos gêmeos! — Ela diz, procurando as palavras para falar.

— Sinto que você está assim por causa dele, não é? — Pergunto, e ela confirma.

— Ontem eu fui dar uma volta pela minha antiga cidade. Tudo lá me trouxe recordações dele. Foi bom por um momento, lembrar de como ele era gentil, engraçado e o meu melhor amigo. — Uma lágrima desce pela bochecha da loira, e eu a seco com o polegar.

— Até que eu encontrei uma pessoa que não via há anos, um dos culpados pela morte dele.

Olho para ela, sentindo sua dor. Eu não me imaginava perdendo a Parker, o Pubert ou o Pugsley.

— Eu... Tudo veio de uma vez só, as lembranças do dia que ele morreu. — Passo o braço sobre o ombro dela e a abraço, lhe dando conforto para terminar a história.

— Como aconteceu? — Pergunto, e ela desce o olhar para as mãos.

— Ia ter uma festa na casa de um dos jogadores da escola, Beck. Foi ele quem eu encontrei. Minha mãe, Larissa, nos proibiu de ir, pois era tarde e, bem, as festas do Beck já tinham fama. Tínhamos 18 anos e éramos idiotas, adolescentes idiotas. — Ela suspira, e eu acaricio seu braço com o polegar.

— Ele não queria ir, não queria. Então eu disse que, se ele não fosse, eu iria sozinha. Ele nunca deixaria eu ir sozinha, principalmente a uma festa do Beck; ele não se dava bem com ele.

— Ele foi comigo e com dois amigos, o Peter e a Sasha. Ele tinha uma quedinha por ela desde o fundamental. — Ela ri amargamente.

— Tudo bem se não quiser continuar, Enid! — Digo, e ela nega.

— Eu tenho que te contar! — Fico em silêncio.

— Chegamos, e não demorou muito para o Beck provocar o Erick. O imbecil sabia, ele sabia que o meu irmão gostava da Sasha e a levou para ficar com ela. Eu disse para o Erick tomar uma atitude ou ele nunca ficaria com ela. Ele era uma tartaruga quando o assunto era meninas.

— Então? — Pergunto, e ela brinca com os dedos, nervosa.

— Havia nevado muito aquele dia. Eu entrei para pegar uma bebida com o Peter e ele ficou do lado de fora, sozinho. Depois de uns minutos, ouvi gritos de animação e fomos ver.

Ela parava a todo instante para continuar a falar, como se aquilo estivesse preso há anos.

— Eles estavam em carros, o Beck e o Erick. Eles iam disputar uma corrida idiota. Tenho certeza que ele só fez isso para chamar a atenção da Sasha. Eu mandei ele tomar uma atitude e ele foi lá e fez. — Ela fala com a voz embrulhada em choro. Ela deita a cabeça em meu peito e chora. Eu já meio que sabia onde tudo isso acabaria.

— Eu corri e gritei para ele sair do carro, mas não deu tempo. Peter pegou o carro dele e fomos atrás. Assim que viramos a esquina, os carros derraparam por conta do gelo e da neve. Erick bateu em um caminhão e o Beck em um poste. Mas só o Beck saiu... — Ela diz, e depois o silêncio se instala no quarto.

— Você disse culpados, mas eu só vejo o Beck! — Digo, e ela me olha nos olhos.

— Eu fiz ele ir à festa, eu disse para ele chamar a atenção dela, fazer algo! — Ela diz quase gaguejando. Ela se culpava por ele ter morrido?

— Enid, você não tinha como saber, você não mandou ele entrar naquele carro. Você não é culpada! — Digo, e ela nega.

— Você acha isso, eu não. Se não fosse por mim, ele ainda estaria aqui! — Ela deita virando o rosto para a parede, e eu suspiro. Levanto da cama e a encaro deitada.

— Vou preparar algo para você comer, depois você vai tomar um banho! — Digo saindo do quarto quando não tive resposta.

Aparentemente, ela não havia contado isso a ninguém. Todos só sabiam que ela teve um irmão, mas nunca o que aconteceu.

Liguei para Eugene e cancelei tudo que estava preparando para hoje. Teria que ficar para outro dia, ela não estava bem, e eu precisava cuidar dela.

Beijos da Torry 😘

A Química com você- Wenclair Onde histórias criam vida. Descubra agora