Capítulo 35

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Enid

Amanhã eu já iria para casa, pegaria o ônibus na hora do almoço e provavelmente chegaria à tarde. Hoje eu daria uma volta pela cidade.

Pus o gorro e as luvas, vesti o casaco ao sair pela porta, sentindo o frio contra meu rosto. Desci os degraus da varanda, olhando para a rua vazia por ser cedo.

Caminhei até um café no final do quarteirão, um lugar que eu sempre ia com meu irmão para estudar ou apenas para ficar à toa quando nossas mães ficavam no nosso pé. Fui recebida com o sininho ao abrir a porta, olhei em volta e tudo estava igual.

Aproximei-me do balcão a passos lentos e vi um rosto conhecido. Peter, um antigo colega de escola. O garoto magro tinha os mesmos traços da adolescência, só estava mais alto e com uma rala barba.

— Um chá e um pedaço da torta de limão! — Digo, e o homem olha para mim, me analisando por um segundo.

— Sinclair? — Ele pergunta, repuxando o canto da boca em um sorriso amigável e surpreso.

— Em carne e osso, Tompison! — Digo, colocando as mãos nos bolsos do casaco; mesmo aqui dentro, o frio ainda se fazia presente.

— O que faz aqui? Achei que estivesse morando nos Estados Unidos. Sua mãe me disse há uns anos atrás! — Ele ergue a sobrancelha e assente.

— E estou, só que minha mãe, Laura, caiu e quebrou o braço, então vim ver como ela estava, e aproveitei para ficar uns dias. Mas já estou indo embora amanhã!

— Então, o que está fazendo lá? Trabalhando ou estudando? — Ele pergunta enquanto preparava meu pedido.

— Estudando. Estou no último ano e espero conseguir um emprego logo! — Digo sinceramente.

— As coisas por aqui continuam as mesmas desde que você se foi! — Olho em volta e definitivamente estava tudo igual, o que era estranho e até me deixava com um pequeno aperto no peito.

— Lembro dele em cada canto desse lugar! — Digo, segurando o casaco e apertando-o.

— Sinto muito. Eu deveria ter feito algo para impedi-lo naquela noite, Enid. Eu...

— Não, não foi culpa sua. Fui eu... eu não quero falar sobre ele, não aqui, não agora! — Digo, e o rapaz assente, vendo o semblante dele mudar. Ele me entrega o meu pedido. Pego-o e vou até uma mesa mais no fundo, evitando as mais próximas da porta.

Corro o olhar pelo lugar; havia poucas pessoas. Encaro meu prato e lembro-me de como sempre pedia esse mesmo pedido. Ele sempre pedia um bolo de chocolate e um refrigerante ou um café puro e sem açúcar. Sorrio amargamente com a lembrança; eu sempre implicava com o café dele, perguntando como alguém conseguia beber café assim.

Como a torta de limão e bebo o chá, e logo estou apenas sentada, perdida em meus pensamentos. Em muito tempo, definitivamente, este foi o dia que mais me permiti lembrar dele. Talvez por estar de volta, as memórias estavam voltando aos poucos, e eu não gostava disso. Tinha memórias boas, claro, muitas. Mas as ruins sempre prevaleciam.

O sino da porta toca e, ao erguer o olhar para o cliente que entrava, sinto meu estômago embrulhar e meus olhos se encherem de lágrimas.

Back

Ele olha o estabelecimento e, no segundo em que seu olhar cruza com o meu, sinto meu corpo ficar frio e minhas mãos começarem a tremer.

Levanto o mais rápido possível para ir embora e, assim que tento passar, ele segura meu braço.

— Sinclair, o que faz por aqui? Eu... droga, eu procurei você por anos para pedir desculpas, eu...

— Larga ela! — Peter sai de trás do balcão, vindo em minha direção e segurando o braço dele, que solta o meu.

— Eu preciso falar com ela... — Diz, mas ao passar pela porta da cafeteria, começo a correr em direção à minha casa. Não sei o que aconteceu depois disso, eu só corri e, ao chegar, subi rápido para o meu quarto e me encolhi na cama, soltando todas as lágrimas que prendi durante todo esse tempo.

Minhas mães notaram o jeito que eu cheguei e agora batiam na porta insistentemente. Eu só sabia chorar: raiva dele, saudades de Erick e culpa eram tudo o que eu sentia.

Wednesday

Eu estava preparando meu café quando Thing esbarrou contra meu pé. Coloquei uma xícara de café para mim e peguei o leite e o cereal.

— Está com fome, amigão? — Pego a ração e chacoalho para chamar a atenção dele, que logo vem comer a ração.

Pego o celular e penso em mandar uma mensagem para Enid. Ela havia vindo à minha mente o dia todo desde que acordei mais cedo. Não era saudade; era algo como uma preocupação, não sei explicar o que eu estava sentindo.

— Você está bem, cariño?

Mando a mensagem e não chega; provavelmente ela deve estar com o celular desligado.

Pego Thing no colo depois de terminar meu café e vou para a sala assistir alguma coisa, já que hoje eu não iria para a faculdade. Faltava exatamente dois dias para minha mordomia acabar e voltar à vida universitária.

Coloco qualquer coisa na TV e começo a assistir enquanto acaricio os pelos pretos de Thing. Enid não saía do meu pensamento.

Beijos da Torry 😘

O que será que rolou com o irmão da Enid? Descubram no próximo capítulo. 🧐

A Química com você- Wenclair Onde histórias criam vida. Descubra agora