𝐈𝐌𝐀𝐆𝐈𝐍𝐄 𝐆𝐈𝐑𝐋𝐒

Rosamaria Montibeller.

Você ainda lembrava do momento em que sentiu como se seu mundo fosse desabar a qualquer minuto. Naquele exato dia em que todos os seus sonhos foram por água abaixo. Quando você se lesionou em um dos jogos mais intensos de sua vida, e sua ficha demorou semanas para cair e você perceber que não iria mais participar das Olimpíadas em Paris. Você nunca esteve tão mal em toda a sua vida.

Mas, aqui estava você, sentada em uma das mesas de um restaurante do hotel que estava hospedada, escutando todas as jogadoras comemorarem depois de jogar contra o Japão. Um dos jogos mais lindos das Olimpíadas. Você se sentia imensuravelmente feliz por todas elas e pelo seu time inteiro, feliz porque vocês haviam ganhado mais um jogo hoje, tiveram mais uma vitória. Mas você não poderia negar as pequenas pontadas em seu coração quando lembrava que não era você que iria jogar, que não era você que ajudaria o seu time e ganharia junto com elas. Você não faria nada disso. Sua perna ainda estava se recuperando da lesão, mesmo estando bem melhor, você não iria poder jogar durante um bom tempo.

— Ei, tudo bem? — Você escutou Rosa se aproximar do seu ouvido, perguntando apenas para que somente você pudesse escutar e descansando uma mão sobre sua coxa.

— Sim, está tudo bem. — Seus olhos encontraram os dela e, por mais que ela não tenha acreditado muito em suas palavras, ela decidiu concordar com a cabeça, mas permaneceu com a mão na sua perna.

E você sentiu como se seu coração inteiro fosse sair pela boca, sentindo o calor da mão dela na sua perna. Rosa era uma das suas amigas mais próximas, alguém que você admirava e tirava como exemplo. Ela era tudo pra você. E carregar um sentimento tão forte consigo mesma, na maioria das vezes, machucava por não poder compartilhar isso com ela. Você não sabia se aquilo seria recíproco, e se não fosse poderia acabar perdendo ela, então decidiu apenas engolir tudo o que sentia e continuar tendo a mesma relação com ela.

Mas você viu quando o olhar de Carol foi parar onde a mão de Rosa estava posicionada, e também viu quando ela deu uma piscadinha pra você e sorriu. Praticamente todas as jogadoras já haviam te aconselhado a falar com a Rosa sobre isso, mas você sempre foi uma pessoa muito teimosa, então sempre negava e insistia em dizer que ela não sentia o mesmo. Por mais que as ações dela demonstrassem o contrário.

Ao longo da noite, você sentia a mão de Rosa apertar sua coxa suavemente, mas sempre que olhava pra ela, percebia que ela parecia totalmente investida na conversa e distraída para notar que havia feito alguma coisa. Seu coração acelerava todas as vezes que Rosa pressionava um pouco os dedos em sua pele, sentindo como se fosse explodir apenas com aquele toque.

Você decidiu colocar sua mão em cima da dela, sentindo o olhar de Rosa cair sobre o seu rosto enquanto você fingia estar distraída conversando com Gabi e Thaísa. Em um certo momento do jantar, Rosa decidiu virar a mão e entrelaçar os dedos dela com os seus, o que você prontamente aceitou. Certos toques como esses não eram incomuns entre vocês duas, na verdade você estava muito acostumada com Rosa sempre estando perto de você dessa forma, como se fosse, de algum jeito, te proteger ou manter você se sentindo segura, e isso realmente acontecia.

O sono e o cansaço estavam começando a tomar conta do seu corpo, e sua cabeça instintivamente deitou no ombro de Rosa, que tornou a olhar para você, fazendo um leve carinho com o polegar na costa da sua mão, — Como está sua perna? — Perguntou em um tom mais baixo, por estar mais perto do seu ouvido.

— Bem, só um pouco dolorida. — Você esticou um pouco a perna, apertando a mão de Rosa e fechando os olhos quando sentiu uma pontada no joelho. — Talvez um pouco demais. — Respondeu com um semblante de dor.

— Quer voltar pro quarto? — Rosa começou a se preocupar com o estado da sua perna, pensando que, provavelmente, você havia forçado demais o seu joelho, principalmente durante o jogo quando comemorava quando o time marcava um ponto. E também, você havia passado a maior parte do dia sentada, com o joelho dobrado, e a indicação era de que sua perna ficasse esticada o máximo que pudesse.