Ondas de Incerteza

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1 mês depois - Elisa Aduquer

Ajudo Evie com os preparativos para a chegada dos novos filhos dos vilões. Auradon estava uma loucura por causa disso; afinal, esse assunto sempre gerava confusão e medo em algumas pessoas que carregavam traumas difíceis de serem esquecidos.
Reviro os olhos ao ver a quantidade de coisas que ainda tínhamos que fazer. Se Audrey fizesse o esforço de nos ajudar, isso seria mais fácil. Mas, claro, ela continua tendo pensamentos preconceituosos contra os filhos dos vilões.
Termino de colocar uma faixa, sorrindo ao ver que tinha ficado reta. Depois, coloco os docinhos na limusine, organizando por cores como a Fada Madrinha pediu. Por último, verifico as novas aulas que os filhos dos vilões iriam ter.
Escuto a porta do dormitório de Evie sendo aberta e nos deparamos com Ben. Deixamos ele entrar, afinal, já sabíamos qual era o assunto.
— Tudo pronto para hoje? — Ben pergunta, ansioso.
— Sim, já avisamos o Doug para ele ir se preparando para a música. — Evie responde, animada.
Ben tira uma caixa de veludo do bolso, abrindo-a para mostrar o anel roxo que ele havia comprado para pedir Mal em casamento.
— O que acham? — Ele pergunta com um sorriso.
Olho para Evie, vendo que ela também havia gostado do anel, que combinava perfeitamente com Mal.
— É perfeito, Ben. — Digo com um sorriso. — Ela vai amar.
— Estou tão ansiosa. Imagina como Mal vai ficar linda com o vestido de noiva. — Evie diz, sonhadora. — Inclusive, já desenhei um modelo magnífico que vai combinar com ela.
— Fico feliz que tenham gostado. — Ben diz, fechando a caixa. — Irei deixar vocês duas se arrumarem.
A porta se fecha, fazendo com que eu e Evie nos entreolhamos. Soltamos um gritinho de felicidade, animadas com o pedido de casamento.
— Pelo visto, hoje será um dia cheio de novidades em Auradon. — Digo, escolhendo um vestido vermelho de renda longo. — Como foi a reação das crianças que foram escolhidas?
— Elas ficaram muito alegres, principalmente minha Dizzy. — Evie responde, penteando o cabelo. — Pena que você não pôde ir.
— Nem me lembre disso, que já fico com raiva.
Hera me castigou por eu não ter levado as romãs para ela há um mês atrás, quando fiquei dormindo por duas semanas. Agora, tenho que ajudar ela com coisas fúteis da vida dela — como cuidar dos filhotes das vacas sagradas que ela colocou no meu reino. Tenho absoluta certeza de que ninguém gostaria de cuidar de animais tão agressivos... mesmo eu acreditando que eles são ordenados a ser assim com quem ela odeia.
Faço um coque com tranças, colocando minha coroa de rubis logo em seguida. Termino de me arrumar borrifando meu perfume.
— Você está linda, mas é melhor irmos logo. — Evie diz, me puxando pela mão.
Fomos para o lado de fora, vendo o lugar completamente lotado. Me deparo com um rosto que faz tempo que não vejo... Audrey.
— Elisa, sempre tão fácil de fazer amizades. — Ela fala, olhando para Evie. — Mesmo que não sejam da nossa classe.
Apenas a ignoro, pois não queria arruinar um momento tão importante quanto esse para Ben e Mal. Além disso, Evie já tinha me puxado para o lado dela assim que Audrey terminou sua fala desprezível.
Cumprimento algumas pessoas que realmente valem a pena gastar minha voz. Mas, assim que termino de cumprimentar Doug, Evie avisa:
— Eles estão vindo. — Ela diz, olhando para Mal e Ben.
Escuto o toque dos instrumentos que estavam tocando para anunciar a chegada dos dois, ao mesmo tempo em que os vejo cumprimentando as pessoas.
A Fada Madrinha testa o microfone, entregando-o a Ben logo em seguida.
— Mal, foi exatamente aqui que a gente se conheceu. Não faz muito tempo. — Ben diz, olhando para ela. — Sinto que te conheço a vida toda. Mas eu já falei que eu te amo?
Doug começa a tocar o violão enquanto Ben canta:
— Eu conheci essa garota que balançou meu mundo, como nunca havia acontecido antes. E agora estou vivendo só para ela e não quero que isso acabe. Eu nunca pensei que poderia acontecer com um cara como eu. Mas agora veja o que você fez. Você me deixou de joelhos. — Ben termina a música se ajoelhando.
Ele entrega o microfone para Carlos. Logo em seguida, pega a caixa de veludo que tinha me mostrado antes.
— Seremos nós dois para sempre. Casa comigo? Quer ser minha rainha? — Ben pergunta, abrindo a caixinha.
Ouço um grito de alguém, mas não tenho certeza, pois estava muito concentrada no pedido.
— Quero sim. — Mal responde com um sorriso.
Abraço Evie enquanto todos comemoram. Até soltam bolinhas de sabão, animados com o pedido de casamento.
Ben coloca o anel no dedo de Mal, beijando-a logo em seguida. Comemoramos outra vez, afinal, não é todo dia que uma amiga é pedida em casamento.
— Vocês sabiam disso? — Mal pergunta, abraçando Evie primeiro e depois a mim.
— Claro que sim. — Respondo, retribuindo o abraço.
— Vai ficar linda com a coroa. — Evie diz com um sorriso.
Evie conta sobre os rascunhos do vestido de noiva e logo em seguida conto sobre a festa que a Bela pretendia fazer para a semana que vem.
— Curvem-se diante de Vossa Majestade. — Jay fala, fazendo uma reverência de brincadeira.
— Ah sim, Vossa Majestade Real. — Carlos brinca.
Eu e Evie fazemos reverência também, entrando na brincadeira.
— Silêncio, camponeses irritantes. — Mal fala com um sorriso brincalhão.
Depois de alguns minutos, a limusine que ia buscar os filhos dos vilões chega. Entro para ajudar, depois de ter insistido muito. Logo chegamos à ilha, vendo as crianças nos esperando com as malas.
Cumprimento Celia, que tentou fingir que era mal-educada. Abraço Dizzy e logo em seguida os filhos de Smee.
Não ficamos muito tempo na ilha, já que não podíamos manter Ben em um local cheio de vilões prontos para raptá-lo novamente. Mas o pouco que fiquei me fez lembrar de Harry, fazendo diversas perguntas ecoarem na minha mente.
Olho para o meu braço, me perguntando como fui tão descuidada a ponto de perder aquela pulseira, que era uma herança de família. Precisava conseguir de volta, mas era muito complicado pensar em uma forma sem ficar presa na ilha.
Voltamos para a limusine com as crianças. Sorrio ao ver um dos gêmeos provando um doce, parecendo ser a primeira vez. Mas meus pensamentos são interrompidos quando Evie fala:
— É o Hades. — Ela avisa, fazendo todos olharem para a barreira. — Para o carro. Ele quer escapar.
Saímos do carro rapidamente. Fico ao lado de Carlos, olhando para meu tio, que usava a brasa para abrir mais a passagem da barreira.
— Eu sou deus! Aqui não é o meu lugar! — Ele grita enquanto seu cabelo se transforma em um fogo azul.
Hades usa a brasa em Jay, Carlos e Ben enquanto eles tentam ir para cima dele. Me agacho ao lado de Carlos, verificando como ele estava. Vejo os olhos de Hades focados em mim enquanto ele solta uma risada, o que faz com que eu o odeie profundamente.
Escuto um barulho de asas, me deparando com Mal em forma de dragão. Me desespero quando vejo Hades usando a brasa contra ela, enquanto Mal gritava.
— Rápido, Mal. Ataca ele. — Jay fala, se recuperando um pouco do ataque que sofreu.
Tudo é muito rápido, mas ela consegue fazer Hades voltar para a ilha com sua magia. Quando Mal volta à forma humana, parece muito fraca e com dor.
Suspiro enquanto voltamos para a limusine, com muito receio de Hades, mas sinto uma sensação estranha, como se eu já tivesse visto ele antes. É óbvio que vi... nas fotos da minha família.
Ignoro a sensação de ódio, pois ele, acima de tudo, é meu tio. Chegamos em Auradon, vendo os olhares de medo vindo de cada morador. Não os julgo, afinal, um deus pode ser bem horripilante quando aparece do nada.
Se minha mãe souber o que aconteceu hoje, ela vai voltar do nosso reino para me buscar, achando que a Escola Auradon não é mais segura para mim. Não posso deixar isso acontecer, afinal, faz pouco tempo que consegui minha liberdade.
Penso em milhares de coisas enquanto apresento cada canto de Auradon para as crianças. Elas ficam admiradas com a estátua da Fera, com o lago encantado e com os diversos sabores de sorvetes.
— Não coma tão rápido, Celia. — Digo, pagando pelo sorvete.
Ela me ignora, mas alguns segundos depois para de comer, entendendo o meu alerta. Observo enquanto a garota divide o sorvete com Dizzy, parecendo ser muito amiga da neta da Lady Tremaine.
— Hades é tão sinistro. — Jay diz, pegando um sorvete de morango. — Parece com sua mãe, Elisa.
Então paraliso, deixando meu sorvete cair no chão enquanto me lembro dos meus sonhos de repente. Aquele homem do meu pesadelo parecia Hades, mas não tinha certeza. Será que minha mãe teve um caso com ele? Ela seria tão descarada a ponto de brincar com meu tio e meu pai ao mesmo tempo? Lembro muito bem do rosto frio do homem, igualzinho ao de Hades.
— O que foi, Elisa? — Mal pergunta, me olhando preocupada.
— Nada, só uma sensação ruim. — Digo, franzindo o cenho.
Antes que ela faça mais perguntas, volto para o meu dormitório, pois já era de noite. Deito na minha cama, pensativa.
O que Hera está aprontando? Por que ela me fez sonhar com Hades? Será que minha mãe realmente brincou com os dois irmãos? Essas perguntas ecoam na minha mente, sem respostas por enquanto.
Lembro também dos meus sonhos com Harry. Será que ele está bem? Como ficou depois que Uma escapou da ilha? Será que sente minha falta? Pensa em mim? Bufo, precisando vê-lo uma última vez, só para garantir que ele está bem.

Harry Hook

O sol mal havia se levantado, mas a Ilha dos Perdidos já estava em pleno movimento. As ruas estreitas e sombrias estavam repletas de vilões e seus filhos, todos ocupados com suas atividades diárias. Eu, no entanto, tinha algo mais importante em mente.
Desde que Uma havia escapado da ilha, as coisas mudaram drasticamente. A liderança que ela mantinha sobre os outros filhos dos vilões estava fragmentada, e muitos estavam tentando aproveitar a oportunidade para reivindicar poder. Mas nada disso me interessava agora. Tudo o que eu conseguia pensar era nela.
Elisa.
Era frustrante como aquela garota conseguia dominar meus pensamentos, mesmo que nossas interações tivessem sido cheias de tensão e desentendimentos. Sua ausência era um buraco constante em meu peito, algo que eu não conseguia ignorar, não importava o quanto tentasse. As memórias dela eram um refúgio, um lugar para onde eu voltava sempre que precisava escapar da realidade cruel da ilha.
Caminhando pelas ruas, percebi que muitos estavam me observando, esperando por qualquer sinal de fraqueza. Não podiam ver o que eu sentia. Não podiam saber que eu me preocupava com alguém de Auradon, especialmente alguém com quem eu tinha uma relação tão complicada. Isso seria visto como fraqueza, e fraqueza não era algo que um Gancho podia se dar ao luxo de demonstrar.
Passei pelo QG de Uma, agora vazio e desolado. A lembrança das discussões e dos confrontos com Elisa me fez sentir uma pontada de frustração. Mas, acima de tudo, me fez lembrar de como ela conseguia me desafiar como ninguém mais.
Enquanto caminhava, minha mente vagava para os momentos que passamos juntos. Não eram lembranças felizes, mas eram intensas. Suas palavras afiadas, seu olhar desafiador, a maneira como ela não recuava diante de mim, não importava o quão intimidante eu tentasse ser. Mas esses momentos estavam longe, e a realidade era que eu estava preso aqui, e ela estava lá, em Auradon, provavelmente seguindo em frente com sua vida.
— Harry! — uma voz familiar me chamou. Era Gil, sempre animado, mesmo nas piores situações. — Vamos, temos um trabalho a fazer.
Assenti, tentando afastar os pensamentos de Elisa. Havia coisas a fazer, responsabilidades a cumprir. Mas, enquanto seguia Gil, uma decisão começou a se formar em minha mente. Eu precisava encontrá-la. Precisava vê-la novamente, nem que fosse só para garantir que ela estava bem, mesmo que isso significasse mais uma rodada de confrontos e discussões.
A ilha podia ser minha prisão, mas eu não ia deixar que isso me impedisse. Eu era Harry Gancho, e ninguém ia me dizer o que eu podia ou não fazer. E se isso significava desafiar tudo e todos para ver Elisa mais uma vez, então que assim fosse.

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