Na Companhia dos Vilões

348 38 0
                                    

Elisa Aduquer

Acordo cedo no dia seguinte, ainda com a conversa da noite anterior com Evie em mente. Preciso de respostas e talvez Mal possa me ajudar a entender melhor o que fazer. Decido procurá-la no dormitório dela, afinal as aulas já tinham acabado.
Quando chego à porta do quarto de Mal, ouço um som de movimento do outro lado. Bato suavemente e a porta se abre, revelando Mal com uma expressão de surpresa no rosto, segurando uma pequena caixa.
- Elisa? O que está fazendo aqui tão cedo? - ela pergunta, tentando esconder algo atrás de si.
- Precisava falar com você, Mal. Posso entrar? - pergunto, tentando parecer calma.
Mal hesita por um momento antes de abrir a porta completamente e me deixar entrar. Quando entro, vejo Malévola, agora um lagarto, sendo colocada delicadamente na pequena caixa.
- Você... você está se preparando para fugir? - pergunto, incrédula, observando a bagunça no quarto, com roupas espalhadas e uma mala aberta na cama.
Mal suspira e fecha a porta atrás de nós.
- Eu não aguento mais, Elisa. A pressão, as expectativas... tudo isso está me sufocando. Eu preciso de um tempo para mim, longe daqui. - Ela começa a arrumar suas coisas de volta na mala, os movimentos rápidos e nervosos.
- Mas, Mal, você não pode simplesmente fugir. E Ben? E o que acontecerá com todos nós aqui em Auradon? - Minha voz treme, cheia de preocupação.
Mal para de arrumar suas coisas e me olha com olhos cansados.
- Eu sei que parece egoísta, mas preciso fazer isso. Preciso encontrar quem eu realmente sou antes de me tornar a rainha que todos esperam que eu seja, se isso realmente acontecer. E talvez, lá fora, eu consiga entender melhor o que quero para mim. - Ela se senta na cama, exausta.
- E para onde você vai? - pergunto, sentando-me ao lado dela.
- Para a Ilha dos Perdidos. Lá é onde tudo começou para mim. Talvez eu encontre as respostas que estou procurando lá. - Ela me olha, seus olhos cheios de determinação.
- E como você vai fazer isso? A barreira ainda está de pé. - digo, preocupada.
Mal sorri levemente.
- Tenho meus métodos, Elisa. Preciso voltar a ser eu mesma, longe da pressão de Auradon.
Sinto um nó na garganta. A coragem de Mal me inspira, mas também me enche de medo.
- Mal, leve-me com você. - peço, de repente.
Ela me olha surpresa.
- Você quer ir para a Ilha dos Perdidos? Elisa, isso é perigoso. Por que você quer fazer isso?
Suspiro, sentindo as lágrimas ameaçarem cair.
- Minha mãe está me forçando a casar com alguém que não amo. Estou desesperada, Mal. Preciso encontrar uma maneira de escapar disso, e talvez, na Ilha dos Perdidos, eu consiga pensar em uma solução sem a pressão constante de Auradon.
Mal me observa por um momento, considerando minhas palavras.
- Você tem certeza, Elisa? A Ilha não é um lugar fácil.
- Tenho, Mal. Não posso continuar assim. Preciso de um tempo para encontrar uma solução, assim como você.
Ela suspira e assente.
- Tudo bem, você pode vir comigo. Mas precisamos ser rápidas e discretas. Não podemos deixar que ninguém descubra nosso plano.
Sorrio, aliviada, sentindo um peso sair dos meus ombros.
- Obrigada, Mal. Eu prometo que não vou te atrapalhar.
- Só seja discreta. Vou te esperar perto de onde era a ponte para a Ilha dos Perdidos.
Afirmo com a cabeça, saindo do quarto discretamente. Cuidadosamente, vou para o meu dormitório, que era ao lado do de Mal.
Olho para o anel no meu dedo, mas logo o tiro e jogo no chão.
- Nunca serei sua rainha, Benedict. - murmuro para mim mesma.
Pego minha mala, que estava com todas as minhas roupas dentro, pois não tive tempo de colocá-las no meu guarda-roupa pela confusão que estava na minha mente.
Em poucos minutos, encontro Mal perto da antiga ponte, vendo-a com uma moto roxa.
- Foi Ben que me deu. - Mal disse, pegando um livro de feitiços. - Não tenho certeza se vai funcionar, mas estou torcendo para que funcione.
Me sento atrás dela na moto, suspirando pesadamente.
- Meio de transporte puro e belo, leve-me até onde eu quero. - ela recita o feitiço. - Ok, tem que dar certo.
- Vai dar. - digo, olhando para a água que estávamos prestes a atravessar.
Mal acelera a moto e começamos a passar por cima da água. Sorrio ao sentir alguns respingos caírem sobre mim. Sinto um impacto assim que atravessamos a barreira, enviando arrepios por todo o meu corpo.
Logo chegamos em um tipo de corredor esquisito com algumas luzes coloridas iluminando o local. Pelas paredes, havia diversas rachaduras e alguns pôsteres. Mas um pôster específico chama a atenção de Mal, fazendo-a parar a moto.
- Radical. - digo, vendo o pôster do Baile Real todo rabiscado.
Mal arranca o pôster, amassando-o pensativa e depois o jogando para trás.
- É porque não conheceu o resto da ilha. - Mal disse, entrando em um lugar escuro. - Me ajuda a esconder a moto.
Desço da moto, apoiando minha mão na parede. Ajudo Mal a colocar um plástico preto em cima da moto, cobrindo-a perfeitamente.
- Vem. Você vai amar isso. - Mal disse, segurando o capacete em uma das mãos enquanto saímos do beco.
Ela pega uma pedra e joga em uma placa, fazendo um portão se abrir.
- Uau! - digo, olhando para a porta aberta. - Como fizeram isso?
- É coisa do Carlos. - Mal disse, subindo a escada.
Sigo ela, enquanto olho para cada canto do lugar. Como pode existir um lugar assim? Em Auradon é tudo tão colorido, mas aqui na ilha parece haver apenas escuridão.
Andamos por um bom tempo até chegarmos em um lugar com uma placa escrita "Lady Tremaine: Enrolar e Cortar". Lady Tremaine? Sério? O que Mal poderia querer com a madrasta da Cinderela?
Entro com receio, mas confiava em Mal. O lugar era repleto de tintas espalhadas... um salão de beleza ou tentava imitar um. Mas um sorriso aparece no meu rosto quando vejo uma garotinha dançando e infelizmente varrendo o chão do lugar.
- Mal! A Evie voltou também? - Ela pergunta com um sorriso, não notando minha presença.
- Nem pensar. - Mal responde, fazendo o sorriso da garota desmanchar. - Essa é Elisa.
A garota me observa atentamente.
- Eu sou Dizzy. Você é uma princesa? - Ela pergunta, como se estivesse vendo um diamante.
- É um prazer te conhecer, Dizzy. E sim, infelizmente sou uma princesa. - Digo olhando em volta.
- Eu esqueci que só abrem depois da meia-noite. Aqui está legal - Mal disse, observando o lugar também. - A sua avó já passou os clientes?
- Uma bruxa aqui, outra ali. Eu mais esfrego, limpo e varro. Varro até ficar muito cansada. - Dizzy disse, encostando a vassoura em uma parede.
Olho incrédula. Como uma avó tem coragem de fazer isso com a própria neta? Mas, se bem que minha mãe não está muito distante disso.
- É o velho treinamento da Cinderela. - Mal disse.
- Ela passou de madrasta malvada para avó malvada.
- Acho que não mudou muita coisa. - Mal disse pensativa.
Sinto meu coração se apertar de ouvir isso, afinal ela era só uma criança.
Enquanto meus pensamentos não me deixam em paz, vejo Dizzy cuidando do cabelo de Mal.
- Deveria fazer o seu. É até melhor para ninguém desconfiar que você não é daqui. - Mal disse, olhando meu cabelo preto.
Olho no espelho quebrado que tinha ali.
- Minha mãe me mataria se eu fizesse isso. - Digo pensativa.
O cabelo de Mal fica pronto e sorrio ao ver que roxo realmente combina muito mais com ela.
Mal entrega uma quantia generosa de dinheiro, fazendo Dizzy ficar toda animada.
- Passa isso já pra cá. - Uma voz autoritária fala com Dizzy e escuto um barulho de algo batendo em uma lata. - E o resto todo.
Me viro para ver quem é, me deparando com um garoto forte e musculoso com um gancho na mão.
- Obrigado. - O garoto disse assim que Dizzy entrega o resto do dinheiro.
Antes que ele saia pela porta, Mal fala:
- Ainda faz o serviço da Uma? Ou o que você rouba já fica com você?
Sinto um arrepio passar pelo meu corpo assim que o garoto se vira. Que droga, Mal deveria ter deixado ele ir embora.
- Ora, ora, ora. Olha só quem está aqui. - O garoto disse com um leve sorriso. - E ainda tem uma companhia direta de Auradon.
- E aí, Harry. - Mal disse cruzando os braços. - Acho que está ficando louco. Ela é da ilha.
O garoto sorri mais uma vez.
- Acha que sou idiota? Eu vejo a TV, sei muito bem que ela é noivinha daquele branquelo idiota. - Harry disse friamente.
Não me aguento e começo a rir. O ego de Benedict teria sido gravemente ferido se ele tivesse ouvido isso.
- Do que está rindo, princesa? - Harry perguntou, tentando se aproximar.
- Fique longe dela. - Mal disse seriamente.
O garoto a ignora, me puxando pelo braço.
- Solta ela agora, Harry. - Mal disse, tentando se aproximar.
- Espera só até a Uma saber que você voltou. E que ainda trouxe uma princesa com você. - Harry disse, me segurando mais forte. - Ainda mais alguém que pode atrair tanta atenção.
Solto do seu agarre pisando em seu pé e fico atrás de Mal.
- Pelo visto o tanto que você tem de beleza, você tem de coragem. - Harry disse, derrubando as coisas que estavam em cima do caixa do salão. - Ainda nos veremos, princesinha. Não vou deixar você se livrar tão fácil da próxima vez.
O garoto vai embora do salão fazendo uma reverência debochada. Solto o ar dos meus pulmões.
- Não deveria ter pisado no pé dele. Harry é vingativo, não vai descansar até te achar de novo. - Mal disse andando de um lado para o outro. - Você precisa voltar para Auradon. Lá estará segura.
- E ter um casamento que não quero? Nem pensar. - Digo seriamente. - Eu não sou medrosa, Mal. Se eu tiver que enfrentar todos os vilões dessa ilha, eu farei.
- Sei que seu pai é uma divindade, Elisa, mas nessa ilha seus dons não irão funcionar.
Bufo, saindo do salão com passos pesados. Escuto Mal me chamando, mas ignoro. Sinto todo o ar dos meus pulmões me sufocando, afinal precisava de um tempo só para mim. Detesto ficar no mesmo ambiente com uma pessoa que acabei de ter uma discussão, pois é mais fácil assim.
Caminho com cuidado pela ilha, fazendo cara de poucos amigos - o que não era difícil, afinal às vezes parecia que era mais fácil ser assim. Escuto vozes e me assusto ao ouvir a de Ben.
Me deparo com Carlos, Evie, Ben e um garoto que eu não conhecia, escondendo uma limousine preta cautelosamente. O que eles estavam fazendo aqui? Óbvio, vieram atrás de Mal.
- Elisa? O que está fazendo aqui? - Evie pergunta, percebendo minha presença.
Engulo em seco. Agora eu seria obrigada a voltar para Auradon.
- Eu fugi. E não pretendo voltar. - Digo, cruzando meus braços.
- O quê? Está louca, garota? A ilha é perigosa. - O menino que eu não conheço fala.
- Quem é você? - Pergunto seriamente.
- Sou Jay. Não tente mudar de assunto. - O garoto responde. - Mas se está aqui, deve ter vindo com a Mal.
- E se eu tiver vindo? Tem algum problema? - Pergunto, encarando ele.
Carlos se aproxima de mim, me olhando calmamente.
- Precisamos achar a Mal. Sabe onde ela está? - Ele pergunta
com esperança nos olhos.
Bufo por ter sido manipulada com o olhar de Carlos.
- Ela estava no salão da Lady Tremaine, mas já deve ter saído de lá. - Digo, olhando para o chão.
- Você vem com a gente. Não queremos que você fique sozinha andando pela ilha. - Evie disse, me observando.
Reviro os olhos, mas sigo eles. Quem sabe o que pode ter na ilha, afinal eu não sou daqui. O importante é que estou longe de Auradon e principalmente de qualquer garoto que queira me pedir em casamento.

Amor Entre as OndasOnde histórias criam vida. Descubra agora