A Origem Verdadeira

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16 anos atrás - FlashBack

Era um dia aparentemente comum no reino de Elara, com o céu limpo e o sol brilhando sobre as terras. O castelo estava tranquilo, mas no laboratório da rainha, a magia acontecia em uma intensidade incomum.
Elara estava experimentando um poderoso cajado que Zeus havia criado para Elisa, filha de ambos, no dia de seu nascimento. Ela acreditava que o cajado poderia amplificar os poderes de Elisa, protegendo-a contra qualquer ameaça. Porém, a força do objeto mágico era instável e, em um momento de descuido, um brilho intenso irradiou da ponta do cajado, criando uma brecha temporária na barreira que isolava a Ilha dos Perdidos.
Naquele instante, em uma das distantes cavernas da Ilha dos Perdidos, Hades sentiu a brecha na barreira. o deus do submundo, sempre em busca de uma oportunidade para escapar, usou toda a sua força para atravessar a abertura. Por um breve momento, ele foi livre novamente.
Enquanto isso, no jardim do castelo, a pequena Elisa, então com apenas três anos, brincava alegremente perto de um precipício. Sua risada infantil ecoava pelas pedras, sem perceber o perigo iminente. Elara, totalmente imersa em suas experimentações, não notou que a filha era tão esperta a ponto de ter conseguido sair do laboratório e, com isso, havia chegado ao jardim.
Hades, ao sentir a liberdade, foi atraído por uma força inexplicável até o precipício onde Elisa brincava. A criança, com um passo em falso, escorregou, e seu corpo foi perigosamente em direção ao abismo.
No último segundo, Hades, seguindo um instinto que nem ele compreendia, apareceu ao lado do precipício e agarrou Elisa pela mão, puxando-a de volta à segurança. Seus olhos se encontraram, e por um instante, um laço invisível pareceu se formar entre eles.
— Você deveria ter mais cuidado, pequena — murmurou Hades, a voz grave e estranhamente suave. — O mundo é um lugar perigoso.
A criança riu docemente, um som que fez o Deus do Submundo abrir um sorriso.
— Papai. — Elisa disse com dificuldade.
A expressão de Hades mudou completamente, pois Elara foi tão manipuladora para conseguir manter seu poder. E se ele fosse o pai daquela criança? Então, os pensamentos dele passaram para sua filha Mal, de apenas 1 ano, a qual Malévola nem deixava ele se aproximar. Provavelmente Elara faria o mesmo se Hades realmente fosse o pai, esconderia a verdade de todos.
Elara, finalmente percebendo a ausência de Elisa, correu desesperada para fora do laboratório indo para o jardim,  até encontrar Hades segurando sua filha. O pânico e a raiva tomaram conta dela. Sem hesitar, ela usou o cajado, recitando um feitiço poderoso que Zeus havia ensinado para casos de emergência.
— Retorne ao teu confinamento, sob o poder deste encantamento, barreira restaurada, tua liberdade terminada! — Elara recitou com determinação.
Uma luz brilhante refletiu do cajado, atingindo Hades e forçando-o a soltar Elisa. Ele lutou contra a magia, mas foi difícil diante do poder do cajado. Com um último olhar enigmático para Elisa, Hades foi puxado de volta para a Ilha dos Perdidos, a barreira se fechando imediatamente após seu retorno.
Elara segurou Elisa com força, aliviada por sua filha estar segura, mas profundamente preocupada com a breve aparição de Hades. Ela jurou nunca mais perder de vista sua filha, determinada a protegê-la a qualquer custo e também a nunca mais usar aquele cajado traiçoeiro.

Dias atuais - Harry Hook

Estacionamos as motos em um lugar escondido, no meio de jardins repletos de flores vermelhas e de árvores com romãs altíssimas que ocultavam qualquer coisa. Bufo, sentindo a culpa me invadir, pois me deixei levar pela mágoa quando disse que não tinha nada com Elisa. Era mentira, porque agora minha mente lutava comigo ao pensar que poderia ter acontecido o pior com ela.
— Que cheiro estranho — Mal diz, espirrando.
Uma pega o mapa mágico que tínhamos encontrado no Museu de Auradon. Aparentemente, a mãe de Elisa o usava para saber onde estava a bruxa que queria matá-la, para assim conseguir fugir do Reino dos Pesadelos Malignos sem ser vista.
— Elisa está aqui com Hades — Uma aponta para o castelo.
— O que seu pai está fazendo aqui? — Evie pergunta, olhando para Mal.
— Eu não sei, mas tenho certeza de que ele não é responsável por isso — ela responde, observando ao redor.
— Precisamos achar a Fada Madrinha — Uma diz, seguindo em direção ao castelo.
Todos concordam, mas uma fumaça preta surge na nossa frente, fazendo todos darem passos para trás. Ficamos surpresos quando aquela coisa se revela ser um homem segurando um raio na mão.
— Olha só o que temos aqui, a nossa futura rainha de Auradon — ele diz com deboche, em tom grave. — Permitam-me apresentar, Vossa Majestade. Sou Zeus, o deus do céu.
A energia que ele exalava era algo surreal, parecia que todos os meus ossos iam derreter se ele ousasse se aproximar mais um pouco.
— Minhas teorias estavam certas outra vez — Uma sussurra para Evie.
Ela tinha apostado que provavelmente era algum deus que estava tentando prejudicar o reino de Elisa, já que só a magia deles poderia machucá-la. A preocupação me invade outra vez, pois, se Zeus estava realmente tentando machucar minha Elisa, ia ser uma guerra muito pior do que imaginávamos.
— Você é a filha de Úrsula, né? Nunca gostei muito de tentáculos — Zeus diz com um olhar ameaçador. — Muito menos de piratas que só sabem ser um estorvo na vida de princesas, como a de Elisa.
Sinto vontade de socar a cara dele, mas a única coisa que ia conseguir era provocar cócegas nesse deus que nunca pensei que seria tão irritante.
— O que fez com Elisa? — pergunto firmemente.
— O que você sente por ela não é amor, jovem pirata — ele fala, apontando o dedo em minha direção. — Hera provavelmente lançou uma maldição em você só para contrariar minhas decisões.
Olho incrédulo, não acreditando naquela idiotice.
— Nunca se perguntou de onde veio essa atração que você sentiu por ela? Isso não é amor verdadeiro, já que vocês nem sequer se conhecem — Zeus diz com ódio.
Queria dizer que não era verdade, mas era impossível. A atração foi rápida demais, algo muito anormal.
— Eu acompanhei Harry todo esse tempo. Sei muito bem que isso é amor, sim — Uma interfere na conversa.
— Se é amor verdadeiro, então conseguirá acabar com a maldição que foi lançada em Elisa — Zeus diz, sem parecer sentir sentimentos.
Então começo a correr quando Zeus começa a usar o raio para lançar diversos feitiços em nós. Uma, Carlos, Jay, Evie e Mal tentam contra-atacar, mas o poder dele era muito forte.
— Harry, precisa achar Elisa — Uma grita quando cai para trás. — Zeus está enfeitiçado!
Observo o lugar, vendo como eu faria para passar sem ser pego pelo deus do céu, mas parecia impossível sair sem ser machucado. Auradon dependia disso, eu precisava tentar.
Tento passar pelas ondas de fumaça, agora azuis e pretas. Mas Zeus consegue me atingir no braço, fazendo-o sangrar imediatamente. Escuto barulhos de passos e me deparo com uma mulher de cabelos pretos parecida com Elisa, porém com um rosto mais frio.
— Você consegue — ela diz, lutando para pegar o raio de Zeus. — Elisa precisa do cajado para quebrar o encanto que fizeram em Zeus. O oráculo já tinha dito que esse dia chegaria!
Com o esforço dela, consigo subir as escadas do castelo com dificuldade por causa do meu braço machucado, me deparando com uma risada cruel no andar acima de onde eu estava. Subo rapidamente, dando de cara com uma porta trancada. Sem pensar muito, dou um chute forte no material, fazendo-a abrir com um estrondo.
Ao lado, havia uma mulher cantarolando enquanto preparava algo em um recipiente. Quando ela se vira, vejo que era a Rainha Má.
— Chegou, jovem pirata — ela fala segurando uma maçã. — Não achou que ia arrombar a porta sem eu perceber, né?
Me agacho assim que uma luz verde ia me atingir, ouvindo um suspiro de frustração.
— Por que meus feitiços não funcionam em você?! Vou acabar com essa magia de proteção que alguém colocou em você!
Magia de proteção? O que aquela louca estava falando? Eu era um pirata, não um bruxo que sabia alguma coisa sobre feitiços.
Me escondo debaixo da mesa que a Rainha Má estava usando, pois precisava pensar em uma solução. Mal e Uma não iam aguentar o poder de Zeus por muito tempo. Elisa parecia perdida em um sono profundo. Que droga. Por que tudo em Auradon tem que envolver dormir? Por que não pode ser algo mais simples? Na verdade, magia nunca é simples.
Assim que a mulher percebe onde estou, levanto rapidamente, me esquecendo de que eu estava embaixo de uma mesa. Então algo cai, e no mesmo momento eu escuto um grito vindo daquela bruxa.
Corro até a cama, vendo Elisa com uma expressão de dor no rosto. Mas, antes que eu possa beijar sua boca, sinto uma mão me puxando, me fazendo beijar só a bochecha. Todas as histórias que eu ouvi diziam que a princesa era beijada na boca para dar certo. Mas eu não consegui fazer isso, além do mais, não tinha certeza se era amor verdadeiro.
— Garoto insolente! Não vou deixar você estragar meu plano de usar os deuses para finalmente matar Branca de Neve! — a mulher grita comigo.
Fecho os olhos, tendo certeza de que agora ela provavelmente me transformaria em algo horrendo, que destruiria meu lindo rosto.
— Rainha Má, que tem vaidade e maldição. Fique presa no vidro, sem libertação — escuto a voz de Elisa recitando o feitiço, fazendo a Rainha Má desaparecer em uma fumaça preta com um grito, tentando amaldiçoar Elisa.
Sinto um alívio enorme ao vê-la acordada. Meu coração acelera com o pensamento de que o beijo funcionou, indicando que o que nós temos é amor verdadeiro.
— Harry! — Elisa diz, me abraçando. — Achei que nunca mais te veria.
Retribuo o abraço, sentindo como se meu corpo precisasse disso para viver. Nunca pensei em sentir isso, afinal, eu só flertava com algumas garotas por brincadeira. Mas, desde que vi a menina de cabelos pretos mostrando sua coragem no salão da Lady Tremaine, é como se não tivesse sentido uma vida sem ela. Então, com toda a certeza, afirmo que existe amor à primeira vista.

Elisa Aduquer

Escuto um barulho na cama e me viro imediatamente, pronta para lançar um feitiço. Vejo que era Hades acordando. 
— Aquela deusa idiota. Sempre querendo causar confusão — ele resmunga, olhando ao redor. 
Fico confusa, pois só tinha visto a Rainha Má. 
— Deusa? Como assim? — Pergunto, receosa. 
— Eris. Não sei os motivos dela, mas garanto que devem ser fúteis — Hades revela como se fosse a coisa mais normal do mundo. 
Agora estava explicado o porquê de eu ter adormecido. Não foi a Rainha Má que lançou o feitiço, afinal, a magia dela não funciona em mim. 
— Pronto. Uma nova vilã para a coleção — Harry diz sarcasticamente. 
Suspiro quando ele coloca a mão na minha cintura, me puxando para mais perto dele, enquanto Hades observa a janela do quarto. 
— Tudo muito fofo, mas minha filha não está aguentando mais o poder do meu irmão — Hades diz, virando-se para nós. 
É tudo tão estranho. Há algumas semanas eu odiava o deus do submundo, mas agora esse sentimento parecia ter sumido, ao menos por enquanto. 
Saímos do castelo, encontrando Uma com cara de cansada, completamente ofegante. Mal estava sobrevoando como dragão, tentando atacar meu pai, que estava com uma expressão sombria. Evie, Carlos e Jay estavam caídos no chão. Mas o pior era minha mãe, que estava desacordada e sem respirar direito. 
Sinto uma dor terrível no braço, percebendo que meu pai havia me atingido com o raio. Mas antes mesmo de o sangue sair, minha pele é curada pelo poder do cajado, e escuto um suspiro de frustração. 
Antes que a magia do raio me atingisse novamente, eu detenho o impacto usando o objeto mágico em minhas mãos. Porém, mesmo o cajado sendo muito poderoso, o raio estava enfraquecendo meu poder.
— Foco, Elisa — escuto a voz de Harry. 
Respiro fundo, vendo o raio quase dominar meu cajado. 
— Eu te amo — Harry diz algo que eu nunca tinha ouvido antes. 
Penso nele, em todo o futuro que perderíamos se eu fosse derrotada pelo meu próprio pai, sentindo um vazio imenso. A derrota também destruiria Auradon, machucando pessoas inocentes que nunca fizeram nada de errado. 
O cajado começa a ficar mais leve em minhas mãos, cortando aos poucos o poder do raio e emitindo um barulho de eletricidade altíssimo. Então, a magia vermelha domina o objeto, fazendo meu pai cair no chão, junto com o raio que ele comandava.
Mesmo sabendo que meu pai não estava morto, ainda sentia receio ao vê-lo caído no chão com uma expressão de dor.
— Onde está a Fada Madrinha? — Pergunto, olhando para meu pai. 
Antes que eu tenha uma resposta, o cheiro no local em que estávamos piora, fazendo com que eu tape o nariz para prender a respiração por um momento. Mas, mesmo assim, aquele odor parecia ter impregnado o ambiente. 
Uma fumaça preta se espalha pelo local, rapidamente se transformando em uma mulher de cabelos longos e escuros, completamente bagunçados. Seus olhos amarelos eram intensos, fazendo um arrepio percorrer meu corpo inteiro. E a tensão no ambiente parecia ter piorado com sua chegada.
— Que luta mais intrigante. Uma simples garota de 18 anos derrotando o deus dos deuses com um cajado — a mulher diz, com uma risada.
— Quem é você? — Pergunto, não me lembrando de nenhuma vilã com a aparência dela.
— Sou Eris — a mulher diz, fazendo uma reverência debochada. — Ah, Hades. Você não mudou nada.
Vejo ele respirar fundo antes de responder:
— E você também não. Continua a mesma insuportável de sempre — Hades fala friamente.
Observo a mulher andar de um lado para o outro, com um semblante enigmático.
— Voltando à sua pergunta, Elisa. A Fada Madrinha está meio… ocupada — ela diz com outra risada.
— O que fez com ela? — Pergunto, olhando com ódio.
— Ela deve estar dormindo em algum canto. Nunca gostei muito de fadas — a mulher diz, revirando os olhos.
Bufo, observando meu pai e sabendo que tudo isso é culpa dessa deusa. 
— Tem noção do que fez? Você ajudou a Rainha Má a enfeitiçar meu pai, me colocou em um sono horroroso e agora aparece aqui debochando de tudo como se não fosse nada — digo com desprezo.
A mulher faz uma careta antes de falar:
— Seu pai? Não me faça rir.
— Agora você endoidou de vez? O que quer dizer com isso? — Pergunto, perdendo a paciência.
— Que Zeus não é seu pai, minha querida — a mulher revela, se aproximando.
Meu olhar muda para surpresa, pois nunca pensei que ouviria algo tão absurdo.
— É óbvio que ele é meu pai — digo, cruzando os braços.
— Então por que ele te ignorou todo esse tempo? Um pai não faria isso com a própria filha — Eris fala com um leve sorriso, claramente se divertindo.
Aquilo era a pior atrocidade que eu poderia ouvir, mas a dúvida tinha sido plantada na minha mente, me fazendo ficar indecisa sobre em quem acreditar.
— Quem é meu pai, então? — Pergunto, erguendo uma sobrancelha.
— Poseidon — a mulher revela calmamente.
Então sinto como se minha vida toda fosse uma mentira. Eu acreditei em algo por anos para depois descobrir que era uma farsa. Não, aquilo não era verdade. Zeus era meu pai, mesmo ele sendo péssimo nisso.

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