O Quarto de Madeira

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Elisa Aduquer

Acordo com o corpo completamente dolorido, como se um trator tivesse passado por cima de mim. Mas a maciez do colchão sob meu corpo aliviava um pouco o desconforto. Alguém deve ter me trazido de volta ao meu dormitório. Então, a lembrança da voz sombria, das luzes piscando, e de tudo o que aconteceu naquele corredor antes de eu desmaiar, me invade.
Abro os olhos lentamente, esperando ver as paredes familiares do meu dormitório, mas, em vez disso, me deparo com um quarto completamente desconhecido. As paredes eram de madeira envelhecida, com objetos empoeirados e alguns quebrados.
Tento me levantar, mas logo sinto um aperto doloroso em meu corpo. Percebo que estou amarrada à cama por cordas que se prendem firmemente ao colchão. Olho para meu colar, o mesmo que guarda a magia do cajado, e em seguida encaro a única janela do quarto.
— Com este colar que brilha no luar, as cordas agora irão se soltar — recito o feitiço, olhando para a luz que brilhava no céu.
Mas, ao olhar novamente para as cordas, vejo que elas permanecem intactas.
— Não adianta tentar, Elisa. Essas cordas neutralizam sua magia, quase te deixando sem poder algum — escuto uma voz familiar e me viro em direção a ela.
Benedict, meu ex-namorado, está segurando a brasa de Hades, que brilha intensamente em sua mão. Seu cabelo tem mechas azuis que não combinam em nada com ele.
— Você é idiota? Achei que já tínhamos resolvido nossa situação naquele dia — digo, com desprezo.
— Vamos resolver quando essa sua loucura de namorar aquele pirata acabar — responde Benedict, me olhando com frieza.
— Fique longe dele, ou eu acabo com você — ameaço, séria.
— Está vendo o que aquele pirata fez com você? Já está começando a pensar como uma vilã — ele retruca, se aproximando.
Lanço um olhar de desprezo para ele, mas, ao mesmo tempo, ouço um barulho de trovão no céu. No instante seguinte, uma fumaça preta surge no meio do quarto, revelando ser uma mulher com o cetro de Malévola em mãos. Para minha surpresa, era minha mãe.
— Mãe, o que está fazendo? — pergunto, sentindo o desespero crescer dentro de mim.
— Vamos consertar as coisas, filha. Você nunca deveria ter deixado o amor tomar conta da sua cabeça — diz ela, sinistramente. — Lembra do que te disse? Status social é muito mais importante do que um amor tolo.
Nego com a cabeça, sentindo o ódio subir pela minha garganta. Não consigo entender o que está acontecendo com ela; minha mãe parecia estar fora de si.
— E você nunca deveria ter deixado o poder subir à sua cabeça — respondo, firme. — A vida toda você encheu minha mente com coisas que só eram boas para você. Então, não venha agora tentando ditar o que eu devo fazer, porque nós duas temos pensamentos muito diferentes.
— É aquele garoto, não é? Ele está corrompendo seus pensamentos. Mas eu vou acabar com ele de uma vez por todas — ela diz friamente.
Me desespero ao ver ela erguer o cetro, sua ponta brilhando com um verde intenso. Mesmo com minhas cordas neutralizando minha magia, penso em Harry enquanto recito mentalmente um feitiço: "Assim seja, assim será, com este colar, nada te atingirá." Fecho os olhos, torcendo para que tenha funcionado.
— Mas que droga! O garoto continua intacto — ouço minha mãe dizer, indignada.
Abro os olhos, hesitante, vendo ela olhar para Benedict com ódio.
— O que está esperando, garoto? Vá atrás do pirata! — minha mãe ordena, irritada.
Ela lança uma fumaça preta em Benedict, e ele desaparece do quarto. Provavelmente, usou magia para teletransportá-lo.
— Não é engraçado? Todos estão achando que Malévola voltou porque o cetro desapareceu — minha mãe diz, soltando uma risada louca.
Fico em silêncio, observando a cena com uma mistura de incredulidade e medo. Minha mãe parecia mais descontrolada do que nunca. Seus olhos tinham um brilho cruel que me deixava apavorada.
Ela faz outra fumaça sair do cetro, jogando um feitiço no ar.
— Acho que ter dragões rodeando Auradon vai reforçar ainda mais essa ideia — diz, gargalhando.
Eu a encaro, cada vez mais assustada, me perguntando o que deu errado com ela. O olhar que ela me lançava era de pura crueldade, e isso me assustava profundamente.

Harry Hook

Saímos da Escola Auradon atentos aos perigos que poderiam surgir. Olho para o céu, que permanecia escuro, como se a luz nunca tivesse existido. Tudo parecia mais assustador com esse tempo, mas eu não me deixava abalar por uma escuridão que em breve acabaria.
— Cara, o que aconteceu entre você e o Gil? Vocês estão distantes agora — Carlos comenta, andando ao meu lado.
Suspiro lentamente. Na verdade, foi Gil quem se afastou. Acho que ele tem medo de que eu o julgue por sua sexualidade, mas eu sempre suspeitei.
— Ele anda ocupado ultimamente — respondo, tentando disfarçar a mentira. Para minha sorte, parece funcionar.
Lanço um olhar para Jay, que evita fazer contato visual comigo. Será que eles brigaram? Talvez seja por isso que Jay e Gil não estão se falando. Afasto esses pensamentos assim que chegamos em frente ao castelo de Ben. Mal havia nos dito que ele estava sobrecarregado com toda essa situação. Isso faz parte das responsabilidades de ser rei. Ainda bem que eu sou um pirata.
Então o pensamento que Elisa será rainha assim que voltar invade minha mente. Claro que, um dia, nos casaremos, mas isso me faria... rei? Esse pensamento me deixa inquieto. Nunca foi meu sonho governar um reino, ouvir mil problemas e ficar longe do mar. Claramente, não é para mim.
— Auradon chamando Harry — ouço a voz de Jay, seguida de um beliscão no meu braço.
— Ai, Jay! Pra que isso? — pergunto, massageando o local dolorido.
— Para você parar de ficar no mundo da lua. Temos trabalho a fazer — ele responde, entrando no castelo.
Reviro os olhos e sigo seus passos pesados. Parece que nem pensar em paz é possível nesta droga de Auradon.
Subimos as escadas em direção ao escritório do rei. Conforme caminhávamos, observava os retratos de Bela e da Fera— seja lá qual for o nome do antigo rei que prendeu os vilões na Ilha dos Perdidos — e uma dor de cabeça me atinge novamente. O pensamento sobre me tornar rei voltava, me enchendo de dúvidas. Mas não havia ninguém a quem eu pudesse perguntar.
Entramos no escritório e nos deparamos com Ben desacordado no chão. Corro até ele e verifico sua pulsação.
— Ele está vivo — digo, aliviado.
— Isso deve ser coisa da Malévola. Ela nunca aceitou que a Mal se apaixonasse — comenta Carlos, olhando pela janela. — Gente, o que é aquilo?
Nos aproximamos da janela e vemos diversos dragões voando e cuspindo fogo em tudo. Uma luz azul tentava acertar eles, mas parecia estar apenas irritando mais os dragões.
— Isso parece a brasa de Hades — Jay observa, focado na luz.
Lembro então que Benedict havia roubado a Brasa. O idiota parecia nem saber manusear o objeto direito, errando os ataques contra os dragões várias vezes.
— Ai, minha cabeça! — ouvimos Ben resmungar.
Imediatamente, voltamos nossa atenção para ele, que se levanta devagar, com a mão na cabeça.
— Ben, você está bem? — Jay pergunta, se aproximando para ajudar ele a ficar de pé.
— Sim, é só que minha cabeça está latejando — responde Ben, com a voz fraca.
Me aproximo, analisando ele para garantir que não está ferido.
— O que aconteceu? Foi Malévola que fez isso com você? — pergunto, colocando uma mão em seu ombro.
Ele me olha confuso, como se eu estivesse acabado de falar algo muito louco.
— Malévola? Ela voltou? — Ben pergunta, intrigado.
— Sim. É ela que está por trás de tudo isso — respondo, cruzando os braços.
— Não, é Elara. Ela me colocou para dormir quando não concordei com o plano dela de separar você da Elisa. Além do mais, ela está com o cetro — Ben revela, deixando todos surpresos.
A própria mãe de Elisa a sequestrou? E ainda fez parecer que era coisa da Malévola. Eu já sabia que aquela mulher era terrível, mas nunca imaginei que fosse tão maligna.

Amor Entre as OndasOnde histórias criam vida. Descubra agora