O Primeiro Beijo

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Elisa Aduquer

Entro no quarto de hospital onde minha mãe estava deitada, encarando fixamente o teto, sem desviar o olhar por um segundo. Me aproximo lentamente, me sentando na poltrona ao lado da cama.
- Por que mentiu durante todo esse tempo? - Pergunto seriamente.
- Era melhor assim. Zeus estava disposto a ser seu pai, então decidi que ele seria - ela fala, ainda encarando o teto. - Poseidon era algo distante.
- Mas eu tinha o direito de saber. Acreditei em você, mesmo nos momentos mais difíceis - digo, me levantando.
- Poseidon era incrível, mas um amor impossível, Elisa. Nosso relacionamento só aconteceu porque ele conseguiu quebrar o feitiço que Zeus lançou em mim com amor verdadeiro - minha mãe revela.
- O quê? Do que está falando? - Pergunto, confusa.
- Zeus me deu um cupcake enfeitiçado com uma poção do amor.
Escuto atentamente a história.
- Terminei com Hades, e ele voltou para Malévola no dia seguinte - minha mãe fala com dificuldade. - O feitiço de Zeus começou a enfraquecer quando fui passar as férias na Casa de Praia da nossa família. Eu quis me matar, pois o sofrimento de ter perdido Hades me consumia, mas Poseidon me salvou. Quando nossos lábios se encostaram na respiração boca a boca, o feitiço foi quebrado.
Ouço aquela história inacreditável que me deixa incrédula. Como minha mãe conseguiu esconder esse segredo de mim por tanto tempo?
- Então, eu engravidei de você, mas no mesmo momento, Poseidon disse que era casado. Desde então, parei de acreditar que existe amor verdadeiro - minha mãe volta a olhar o teto. - Quando voltei, Zeus me salvou da fúria de Hera, que ficou conhecida como "a bruxa que me perseguiu no Reino dos Pesadelos Malignos". Fingi que ainda o amava para que ele acreditasse que era seu pai.
Aquilo era demais para mim. Meus ouvidos não queriam ouvir mais essa história cheia de traição.
- Eu ia ser mandada para a Ilha dos Perdidos, mas Zeus convenceu a Fada Madrinha de que você merecia um futuro em Auradon. Então, não se revolte contra mim, pois, graças a mim, você conseguiu uma vida de princesa - minha mãe diz ríspida.
O ódio dentro de mim se instala de maneira violenta, mas não vou deixar que ele me domine, afinal de contas, ela ainda é minha mãe.
- A Ilha dos Perdidos é o lugar onde eu deveria estar. Você pode ficar com o reino, pois é o seu lugar. - Ela diz enquanto se levanta.
Observo enquanto ela tira um colar azul do bolso, colocando-o na minha mão com cuidado.
- Zeus colocou a magia do seu cajado aqui, já que o objeto era algo muito chamativo. - Minha mãe fala calmamente. - Vou indo agora.
Penso em falar algo, mas minha mãe se teletransporta bem na hora em que eu ia dizer. Mesmo que eu quisesse ir correndo falar com ela, sei que agora não é o momento e deixarei isso de lado por enquanto.

5 dias depois

Provo o bolo que Harry havia preparado para um piquenique surpresa que ele organizou no Lago Encantado. Logo em seguida, mordo um cupcake de chocolate, feito exatamente do jeito que eu gostava.
- Quem diria que você cozinhava tão bem - digo com um sorriso.
- Essa é uma habilidade que eu raramente demonstro, mesmo gostando muito - Harry fala, pegando uma uva com o gancho.
- Por quê? - Pergunto, erguendo uma sobrancelha.
- Porque na ilha não havia muito o que cozinhar, mas em Auradon tem de tudo. Além disso, não havia ninguém para provar minhas receitas malucas - ele fala, pegando minha mão. - Tem algo que você gosta de fazer que eu não saiba?
- Eu gosto de surfar. Acho que é por causa do meu pai - digo, me lembrando que ainda não o tinha conhecido.
- Isso é muito complicado - Harry fala, limpando a boca com o guardanapo.
- Eu acho complicado cozinhar. Não nasci com esse dom - digo com um sorriso brincalhão.
Passamos a conversar sobre meus hobbies, meu filme favorito e outras coisas simples que teríamos falado antes, se não fossem os acontecimentos no meu reino.
- A festa da formatura está chegando e eu nem sei com que roupa vou - digo, pensativa.
- Nessa festa, você vai precisar de um namorado, certo? - Harry pergunta enquanto se levantava.
Olho sem entender nada da situação, mas minha mente raciocina quando ele tira uma caixinha preta de veludo do bolso da calça.
- Na ilha, encontrei uma luta, mas em você, encontrei uma razão para continuar lutando - Harry fala, abrindo a caixinha e mostrando um anel vermelho. - Quer namorar comigo, Elisa?
- Sim, claro que sim - digo com o sorriso mais sincero que já dei na vida.
Ele coloca o anel em meu dedo, me olhando com um olhar malicioso.
- Agora chegou a melhor parte - Harry fala com um sorriso.
Harry me puxa pela cintura, colando nossos corpos com firmeza, e a intensidade do beijo me deixa sem fôlego. Nossos lábios se encontraram com uma urgência que fazia o mundo ao redor desaparecer. Eu senti o calor das mãos dele me segurando, e a forma como ele guiava o beijo me deixava nas nuvens. Os lábios de Harry se moviam com uma mistura de paixão e desejo, explorando minha boca com precisão. Senti meu coração acelerar. Cada toque, cada movimento, parecia uma promessa silenciosa do que estava por vir. E quando nos afastamos, ambos estávamos ofegantes.
Mas minha alegria acaba quando recebo uma mensagem de Branca de Neve dizendo que queria conversar comigo em seu castelo sobre Benedict.
- O que foi? - Harry pergunta, tentando olhar meu celular.
- Eu terei que ir ao castelo da Branca de Neve - digo séria.
- E encontrar aquele branquelo? - Harry pergunta, erguendo uma sobrancelha.
Pego as mãos dele com cautela.
- Se quisermos começar um relacionamento em Auradon, teremos que resolver o passado. E isso começa com Benedict - digo pensativa.
- Eu vou com você.
- Tudo bem, mas cuidado com o que vai falar. Branca de Neve avalia todo mundo que vai ao castelo dela - digo, usando magia para guardar os itens do piquenique.
- Eu não me importo.
Suspiro lentamente enquanto ligo para um guarda, ordenando que ele prepare a carruagem enfeitiçada. Logo ele chega, saindo dela e fazendo uma reverência.
- Precisamos ir ao castelo da Branca de Neve - ordeno, autoritária.
O guarda abre a porta da carruagem, analisando Harry de cima a baixo.
- Ele será seu futuro rei, então pare de olhar para ele assim - digo seriamente.
O homem se desculpa diversas vezes por ter olhado Harry daquele jeito tão arrogante, mas aquilo era uma falta de respeito que eu nunca iria esquecer.
Harry me olha com um sorriso por eu ter defendido ele daquele guarda desprezível. Era isso que uma rainha fazia, já que provavelmente eu serei coroada depois da formatura.
A carruagem segue ao seu destino, indo rapidamente por causa do feitiço de velocidade que ela possuía. Ignoro a sensação ruim quando me lembro de que quem me deu essa belíssima carruagem foi Zeus.
Descemos no castelo que um dia pertenceu à Rainha Má, mas agora quem o governava era uma mulher gentil que amava os pássaros, junto com um rei que adorava dar festas e ajudar sua esposa com seus filhos.
Guio Harry pelos cômodos, pois eu conhecia bem esse lugar. E a sensação de voltar aqui depois de tanto tempo era a mesma de estar dentro de um pesadelo, tentando correr de um monstro, mas não conseguindo andar rápido.
Branca de Neve estava sentada em seu trono, com uma expressão confusa ao ver Harry comigo.
- Quem é o garoto? - Ela pergunta gentilmente.
- Meu namorado - digo, pegando a mão de Harry.
- Mas temos um acordo, Elisa. Você ia se casar com meu filho - Branca fala enquanto se levantava.
- Pelo visto minha mãe não teve tempo de conversar com você, mas eu irei te explicar - digo, séria. - Eu não vou me casar com Benedict. Não o amo e nunca irei amá-lo.
- O quê? Mas sua mãe me disse que você o amava - Branca fala com uma expressão confusa.
- Ela só queria que eu fosse rainha do seu reino, Branca - revelo, vendo Benedict entrar no lugar. - Eu e Harry temos amor verdadeiro. Graças a ele, eu acordei de um sono profundo. Acho que você sabe como é a sensação.
A rainha concorda com a cabeça, enquanto Benedict solta uma gargalhada.
- Amor verdadeiro? Está brincando comigo, Elisa? - Ele pergunta, ficando ao lado de Branca.
- Se eu estivesse, estaria fazendo os preparativos do nosso casamento. Mas, ao contrário disso, eu estava em um encontro com Harry - digo, cruzando os braços.
- Ela não te ama. Não percebeu ainda? - Harry pergunta a Benedict.
- Você acha que pode simplesmente aparecer e roubar o que é meu? Elisa é minha, e eu não vou permitir que um pirata a tire de mim - Benedict despeja seu desprezo em cada palavra.
- Elisa nunca foi sua para começar. Se tem alguém que merece estar com ela, sou eu. Não vou deixar que você a trate como um prêmio a ser conquistado.
Antes que Benedict responda, Branca de Neve pergunta:
- Filho, você está realmente insultando alguém só porque ele é um pirata?
- Mãe, Elisa é minha desde...
- Desde que você tinha 5 anos. Eu sei - Branca interrompe Benedict. - Mas seu jeito arrogante de lidar com essa situação não é algo que te ensinei.
Benedict bufa enquanto escuta Branca.
- Sua irmã será a rainha - ela revela, me deixando surpresa.
- O quê? Não pode fazer isso comigo! - Benedict diz, revoltado.
- Eu posso e irei fazer - Branca fala, séria. - Você vai ajudar a Ilha dos Perdidos a se tornar um lugar mais chique. Quem sabe lá você não aprende que a vida é sobre perdas e vitórias.
Vejo Benedict sair em passos pesados, bufando de raiva enquanto subia as escadas do local, provavelmente xingando todos em seus pensamentos.
Branca aceita o fim do acordo, me deixando oficialmente em liberdade depois de tanto tempo. Ela também abraça Harry, desejando que ele me faça feliz para sempre, como deve ser em todos os finais.
Assim, voltamos para Auradon para começar os preparativos para a formatura e a minha coroação.

Amor Entre as OndasOnde histórias criam vida. Descubra agora