O Espelho da Mentira

81 19 0
                                    

2 semanas depois - Elisa Aduquer

Estava chegando ao final do meu último ano na Escola Auradon, então estava disposta a aproveitar cada momento.
Sim, adiei minha viagem até agora, pois queria aproveitar mais com Harry.
Escuto uma batida na porta enquanto eu pensava, então abro rapidamente, pensando que poderia ser Harry, pois eu estava querendo dar um presente a ele, mas eram as meninas me esperando.
— Que demora para abrir. — Uma diz, cruzando os braços.
— Não demorei nem dois segundos. — Respondo, bocejando.
— Não liga para ela. Uma está ansiosa para o primeiro dia de aula dela em Auradon. — Evie fala com um sorriso.
Era bem estranho pensar que agora a filha da Úrsula e todos os outros filhos de vilões iam estudar em Auradon. Não que eu ache ruim, só não me acostumei ainda.
Sigo para a escola, vendo-a lotada de alunos novos completamente animados por estarem finalmente livres da prisão em que viviam.
— Você viu o Harry? — Pergunto, olhando para Uma.
— Ele foi participar das aulas de esgrima e dos treinos para o jogo. — Uma responde. — Achei que ele não gostasse disso.
Suspiro lentamente, pois parece que a distância entre nós vai ser um impedimento sempre. Afinal, todos que entram no time estão o dia inteiro ocupados.
Nem tivemos tempo de nos conhecermos mais desde que a barreira foi aberta. Mesmo eu achando que o que sinto por ele é muito mais do que atração física, não posso negar que nos conhecemos há pouquíssimo tempo.
Entramos na sala de aula para estudar matemática, algo que não era legal às sete da manhã.
— Matemática nas primeiras aulas? Faz alguma coisa, Mal. — Digo, resmungando.
— Essa parte não é comigo. — Ela responde, rindo.
A hora parecia não passar, pois, depois das aulas de matemática, tivemos física. O dia estava planejando ser uma tortura mesmo.
Suspiro aliviada quando o sinal toca, indicando que era hora do jogo dos meninos. Isso me deixa feliz, porque irei torcer de verdade agora.
— Elisa, tenho que conversar com você. — A Fada Madrinha diz, séria, indicando que era algo sobre meu reino.
— Te encontramos depois, então. — Mal fala, saindo junto com Evie e Uma.
Olho para a mulher em minha frente, cruzando meus braços com impaciência, pois ultimamente estou com minhas emoções muito descontroladas.
— O que houve dessa vez? — Pergunto, séria.
— A princesa Anna ligou. Faz dias que sua mãe não vai visitá-la e Anna está achando esquisito. — A fada revela.
Sinto meu coração apertar de preocupação, pois minha mãe não me ligava há tempo.
— Você voltará para o seu reino hoje, Elisa. — A mulher diz, séria.
— O quê? Mas…
— Sua mãe está correndo perigo. Você precisa verificar o que está acontecendo.
Mesmo que eu não quisesse, a Fada Madrinha estava certa. Eu já havia adiado essa viagem por muito tempo, então agora terei que fazer o mais rápido possível.
— Preciso me despedir de Harry primeiro. — Digo, olhando para o chão.
— Tudo bem. Já ordenei que os guardas organizassem sua mala.
Bufo enquanto saio da sala de aula, seguindo até o campo, sentindo diversos sentimentos misturados, pois eu não estava nem um pouco pronta para isso.
Observo os garotos jogando, vendo que o time de Jay estava vencendo o adversário. Sorrio ao ver Harry jogando no mesmo time que o filho do Jafar; os dois nem parecem que já foram inimigos.
— O que a Fada Madrinha disse? — Evie pergunta, curiosa.
— Terei que voltar para o meu reino. — Digo, suspirando.
— O quê? E o Harry? — Uma pergunta, me olhando.
— Tentarei voltar o mais rápido possível. — Digo, pegando na mão dela. — Só quero que saiba que não estou fugindo dele, mas sim tentando ajudar de qualquer perigo que não estejamos percebendo.
— Só me prometa que não magoará ele, pois Harry já sofreu demais na ilha. — Uma diz, me encarando.
— Eu prometo. — Digo, não tendo certeza das minhas palavras.
Percebo que o jogo já havia acabado, então Jay faz um discurso agradecendo Gil e Harry por terem entrado no time.
Sorrio quando ele vem em minha direção, com um olhar tão intenso que nunca pensei que veria na minha vida.
— Vai voltar para o seu reino? — Ele pergunta, me deixando surpresa.
— Como sabe? — Pergunto, incrédula.
— O branquelo me contou quando eu disse que finalmente tinha encontrado alguém que parecia ter uma conexão comigo. — Harry diz, irritado.
— Eu ia te contar, mas…
— Quando já estivesse dentro de uma carruagem indo para o seu reino? Ou quando voltasse? — Ele pergunta, com o rosto vermelho.
— É óbvio que não. Eu nunca pensei que a barreira ia ser aberta, então já estava desistindo dessa ideia. — Digo, tentando me aproximar, mas ele se afasta. — Só tem duas semanas que você está aqui, então eu precisava criar coragem.
— Não precisa se preocupar, afinal não tínhamos nada mesmo. — Harry diz, despejando ódio a cada palavra, enquanto desço da arquibancada.
Ele estava certo, ainda não tínhamos nada por enquanto. Mas algo em mim diz que tem algo perigoso na atmosfera, então inevitavelmente meus dedos estalam, fazendo um feitiço de proteção em Harry.
— Ele só está chateado, Elisa. — Uma tenta me consolar.
Não respondo, mas dou um abraço nas três para me despedir do tempo que ficarei fora.
Saio da Escola Auradon, encontrando uma carruagem vermelha e preta, provavelmente enfeitiçada para ir mais rapidamente, cheia de guardas com cara de poucos amigos.
— Vamos indo então. — A Fada Madrinha diz de dentro da carruagem.
Franzo o cenho, pois achei que eu ia sozinha para o meu reino. O que, na verdade, já era bem comum, afinal, todo mundo achava que meus poderes conseguiam enfrentar qualquer coisa.
— Por que vai comigo? Está quase acabando as aulas, então você precisa cuidar da escola. — Digo cruzando meus braços.
— Ben achou melhor eu ir junto. — A mulher revela, não me deixando nada surpresa.
Não sei se fico feliz ou assustada, porque ele pode estar se preocupando comigo por ser muito perigoso, as teorias que ninguém ousou me passar.
Entro na carruagem sem mais enrolação, desejando que tudo isso acabasse. Não teria nenhum ano de paz? Sempre parece que algo perturba minha vida, esperando uma oportunidade para me arruinar.
Depois de horas na carruagem, olhando diversos reinos e rios que cruzavam todos os caminhos possíveis, sinto um frio intenso se aproximando, indicando que estávamos próximos do reino mais gelado de toda Auradon.
— Pare em Arendelle. — Ordeno ao guarda que guiava a carruagem.
Se tem alguém que tem pistas, é a pessoa que avisou que minha mãe tinha sumido… Anna.
Descemos depois de meia hora, observando o castelo das irmãs que superaram o medo e mostraram que a família vem acima de tudo. Também que amor verdadeiro não precisa ser no sentido romântico, mas de qualquer um que realmente vale a pena.
— Tinha esquecido dessa atmosfera estranha. — A Fada Madrinha diz, tremendo.
— Esse é o reino que sempre tem algo inesperado acontecendo. — Respondo, estalando os dedos, fazendo casacos aparecerem em todos que vieram comigo.
— Bem melhor. — A fada fala, conseguindo caminhar.
Antes que possamos continuar o caminho, a rainha Anna aparece, adiantando nossos pensamentos de procurá-la.
— Elisa, como você cresceu. — Anna diz com admiração. — Arendelle está gigante agora. Fico surpresa que ainda saiba o caminho.
— Nossos reinos são vizinhos, Vossa Majestade. Garanto que acompanhei cada mudança mesmo estando longe. — Respondo, fazendo uma reverência.
— Me chame só de Anna, não precisamos de tanta formalidade. — Ela diz, se virando para a escada do castelo. — Vamos conversar lá dentro.
Seguimos até uma sala com fotos dela e de Elsa estampadas na parede, além de ter um mini-boneco do Olaf.
— Estamos ocupados com os acontecimentos recentes da barreira. Quero abrir um programa no nosso reino para os novos alunos, mas ainda estamos pensando sobre. — Anna informa assim que fecha a porta.
Nos sentamos nas cadeiras depois da permissão da rainha, que parecia muito agitada com tudo.
— Vossa Majestade, sabemos que está animada com a abertura da barreira. Mas Elisa quer saber sobre Elara. — A Fada Madrinha diz, recordando o porquê de termos vindo.
— Ah, claro. Me desculpe. — Ela diz, com um sorriso sem graça.
— Teve alguma notícia de última hora? — Pergunto, colocando minhas mãos na mesa.
— Não. Na última ligação que tive com Elara, ela parecia com medo e tensa. — Anna responde, franzindo o cenho. — Como se algo estivesse assombrando ela.
Respiro fundo, sentindo um calafrio percorrer meu corpo inteiro.
— Quando foi isso? — Pergunto, tentando manter minha voz calma.
— Há duas semanas atrás. — Anna fala pensativa.
No mesmo tempo que a barreira foi aberta. 
— Mal está a caminho do seu reino. — A Fada Madrinha revela de repente.
— O quê? Por quê? — Pergunto, encarando a fada.
— Foi uma decisão de última hora, Elisa. É melhor assim. — A fada diz, se levantando. — Queríamos ficar mais, porém temos que seguir o caminho, Vossa Majestade.
— Tudo bem. Pena que não posso ajudar mais. — Anna fala, abrindo a porta da sala.
— Não é sua culpa. Você já ajudou muito. — Digo, tentando dar um sorriso, mas não consigo.
Voltamos para a carruagem, seguindo caminho para o meu reino com muito custo, pois o guarda que nos guiava não estava conseguindo passar direito pela neve. Mas, com muito esforço, finalmente a carruagem anda mais livremente.
As flores vermelhas e pretas enfeitavam o local por onde passamos. Além disso, um castelo completamente vermelho já podia ser visto, indicando que tínhamos chegado ao meu reino. Mas a atmosfera estava estranha, parecia sombria e esquisita.
Paramos perto de uma árvore com cautela, pois precisávamos tomar cuidado com o perigo que estávamos enfrentando.
Então o céu começou a ficar cheio de raios, escurecendo em uma rapidez assustadora. O que não era normal, pois ainda eram quatro horas da tarde.
— Elisa, cuidado! — A Fada Madrinha grita antes que um raio quase me acerte.
Olho ao redor, vendo uma fumaça preta vindo em nossa direção.
— Deve ser coisa de Hades. — A fada diz, pegando a varinha.
Antes que eu possa responder, sinto uma luz me atingindo, provavelmente da varinha da Fada Madrinha. Então percebo que ela me teletransportou.
Me deparo com o familiar castelo que eu cresci, mas agora parecia diferente, pois as paredes estavam rachadas. Os móveis estavam empoeirados ou quebrados. O ambiente todo parecia antigo, mas com um toque de perigo.
Corro para o porão, mas a porta estava trancada.
— Porta selada, ouça meu chamado, abra-se agora, pelo encanto lançado. — Recito o feitiço, fazendo a porta abrir imediatamente.
Desço as escadas de madeira, que rangiam com cada passo que eu dava, me deixando com medo de que alguém pudesse ouvir.
— Segredo oculto, passagem escondida, revele-se agora, pela magia pedida. — Recito outro feitiço, fazendo uma passagem secreta abrir.
Sigo pelo corredor, chegando a uma sala cheia de itens mágicos.
— Ele te odeia, Elisa. Esqueça-o. — Escuto uma voz falando.
Meus olhos vagam pela sala, tentando achar quem estava falando.
— Espelhos não mentem, querida. — A voz fala outra vez, me fazendo bufar.
Tiro um pano roxo de uma parede, me deparando com uma réplica do espelho da Rainha Má, mas era tão ruim quanto.
— Mas será que revelam toda a verdade? — Pergunto com deboche. — Ou só o que convém a eles?
— Você sabe que Harry Gancho perdeu todo o encanto que tinha por você. — O espelho continua despejando veneno. — Olha só, nesse exato momento ele está cheio de intimidade com a filha de Rapunzel.
O objeto reflete a imagem de Harry rindo com uma garota de cabelo castanho bem claro, quase loiro. Os dois pareciam felizes e, pela conversa, parecia se conhecerem a vida toda.
— Se vingue dela. Mostre a ela que ninguém pode arruinar o seu feliz para sempre. — Escuto a voz do espelho. — Pegue o cajado que seu pai fez para você.
Um baú se abre, revelando um objeto dourado com letras gregas em sua ponta, que tinha um formato completamente diferente. Observo atentamente, engolindo em seco.
— Pare de pensar tanto, garota. — A voz do espelho ecoa em minha mente.
Em uma rapidez que nem sabia que era possível, me vejo com o cajado na minha mão direita.
— Isso, garota. Prove seu valor. — O espelho diz, rindo.
Olho para minha pulseira em meu pulso, me lembrando imediatamente de Harry, fazendo minha mente clarear um pouco.
Encaro o espelho, que agora já tinha parado de passar a cena de Harry com a filha de Rapunzel.
— Sim, irei provar. — Digo com um leve sorriso.
O espelho se parte em diversos pedaços quando uso a magia do cajado nele, fazendo minha mente voltar ao normal depois das palavras manipuláveis daquela réplica mal feita.
Na verdade, minha intenção desde o início era pegar o cajado, mas o espelho só me deu um pequeno empurrãozinho, mesmo que ele tivesse feito isso da maneira mais maldosa possível.
Sinto a energia pulsante do objeto mágico em minhas mãos enviando ondas de força pelo meu corpo que eu nunca pensei que fosse sentir. Subo a escada com cuidado, mas, diferente de antes, a madeira não faz barulho, como se nem sentisse meu peso. Nem sequer a porta parece sentir o baque quando a fecho, mesmo sem muita delicadeza.
Assim que saio, vejo Hades me olhando, segurando a brasa, o cabelo transformado em uma chama azul tão brilhante como nunca pensei que veria.
— O que fez com minha mãe? — Pergunto, sentindo a raiva me dominar.
Ele fica quieto, me fazendo perder a paciência. Então uso o cajado para roubar a brasa dele, estranhando que ele não fez nada para impedir.
— Você não é minha filha. — Hades diz, me observando.
— O que? É lógico que não. — Digo, olhando confusa. — É sério que pensou isso?
— Eu tinha que ter certeza. — Ele sussurra, se aproximando.
Dou um passo para trás, olhando-o furiosamente.
— Não sou eu quem sumiu com sua mãe, ok? — Hades fala, me deixando dividida entre meus pensamentos.
Precisava ter certeza do que ele estava dizendo.
— Sob a luz da sinceridade, fale agora, só a verdade. — Recito o feitiço usando o cajado, fazendo uma luz branca atingir Hades.
Observo ele me olhar meio desorientado, mas logo parece recuperar a lucidez.
— O que está fazendo aqui? — Pergunto, erguendo uma sobrancelha.
— Eu vim te ajudar. Fiquei preocupado quando soube que estava vindo aqui sozinha, então pensei em te vigiar. — Ele revela, se aproximando.
O feitiço tinha dado certo, mas aquelas palavras pareciam tão difíceis de serem verdade. Porém, com muito custo, entrego a brasa de volta para ele.
Antes que eu veja alguma reação dele, sinto meus olhos escurecerem e a última coisa que sinto é meu corpo se chocando contra o chão.

Amor Entre as OndasOnde histórias criam vida. Descubra agora