II. Seo Changbin.

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Hyunjin chegou em casa sem acreditar naquilo tudo que havia acontecido, sinceramente, não acreditava mesmo.

Estava com uma cara de trote.

Hyunjin se afastou o mais rápido possível, frustrado com toda aquela palhaçada. Aqueles dois eram loucos, isso sim! E como o garoto tinha pego seu celular sem que visse?

Honestamente, por mais bonito que Felix fosse, não valia a pena a incomodação. Nada valia o preço de sua paz, e não era do tipo de cara que queria viver o relacionamento de outras duas pessoas, muito menos ser marmita de um casal que sequer conhecia.

Quando entrou em casa, observou os quadros enormes e o ambiente vazio, sentindo que faltava algo ali. Tinha ficado fora por tanto tempo, que sequer podia dizer que via um lar naquele lugar. Era solitário.

Hyunjin era solitário.

Já havia se acostumado com a solidão, e francamente, era um lugar que o atordoada. Não pertencer a algo, não se sentir confortável dentro da casa que o pertencia. Passou tantos anos em um internato, depois, mais um ano morando sozinho enquanto não voltava para Seul, que sequer podia se lembrar da sensação que era ter uma família. Não era próximo de seu próprio irmão, não o suficiente para se preocuparem um com o outro, e particularmente, talvez fosse melhor assim.

Minhyun tinha seguido a vida, não ficou estagnado no acidente que matou seus pais, já Hyunjin, vivia na sombra daquilo, fazendo o máximo possível para ser educado e gentil com todos ao seu redor.

Passou a vida inteira tentando fazer as pessoas gostarem dele, pra, de repente assim, se sentir menos sozinho.

[ . . . ]


-Como assim "nada"?!- Mina o encarava incrédula. -Eu nunca os vi falar com um novato por "nada"!- Resmungou, ela simplesmente não conseguia evitar a frustração em saber que o Hwang tinha saído de perto dela pra ir encontrar Ele Felix. -Eu mal sei como é a voz de Seo Changbin!

O lado bom era, só Mina tinha dado falta dele. O lado ruim? A faculdade inteira sabia que ele tinha se encontrado com os garotos, e estavam muito curiosos quanto aos motivos do Lee ter lhe procurado.

Aquilo era ridículo, literalmente, eles eram duas pessoas normais, não sabia por que Mina e alguns outros os tratavam como se fossem alguma espécie de deuses ou algo do gênero. Hyunjin achava estranha aquela estigma em cima do casal, e achava mais bizarro ainda o jeito que a garota estava reagindo.

A verdade era que nem o próprio Hyunjin sabia o rumo daquilo, só tinha certeza de três coisas:

1° Felix e Changbin eram diferentes dos outros alunos;

2° Eles conseguiam qualquer coisa que queriam;

3° Eles o queriam.

E esse querer podia ser bem vago. Afinal, nem a família dele o queria, então por que seria útil para aqueles dois?

Do outro lado do corredor, Lee Felix o observava com um sorriso, os dedos deslizando pela choker preta com um coração metalizado que usava, a o Hwang engoliu a seco aquela sensação de pânico que crescia dentro de si.

-Mina-ssi, eu tenho que ir.- Sorriu, tentando ao máximo não ser grosso com a menina que lhe tratou tão bem. -Nos falamos amanhã.

Hyunjin se encaminhou direto ao ponto de ônibus, naquela bendita escola cheia de filhinhos de papai, ele definitivamente não queria aparecer dirigindo seu carro, não queria amigos que tivessem interesse no que ele podia "oferecer", já tinha sido cercado disso a vida inteira.

Poder e dinheiro são coisas que fazem as pessoas gostarem de você, de maneira vazia e fútil, e quando não precisam mais disso, te abandonam.

Sentou-se no local deserto, os fones de ouvido no máximo, enquanto escutava  My Blood do Twenty One Pilots. Hyunjin adorava aquela música, apesar de não ter uma história sequer próxima à aquilo pra poder sentir.

Minhyun estava voltando, teria que dar um jeito de enfrentar ele, ou entrar na cova dos leões, e fingir que fazia parte daquele local.

Só queria chegar em casa e passar o máximo de tempo dentro de seu quarto, esquecer de toda aquela merda que teria que enfrentar assim que seu irmão voltasse para o país.

-Já escutou Chase Atlantic?- Se assustou ao ter o fone retirado, e seu estado de raiva veio à tona.

-Você 'tá me seguindo?- O Hwang perguntou irritado.

-Não.- Changbin deu de ombros. -Esse é o ponto de ônibus, né? Geralmente eu pego o meu aqui.

Hyunjin duvidou e muito que aquele garoto, metido do jeito que era, realmente fosse de ônibus para casa, mas preferiu não estender o assunto, afinal, ele também era outro privilegiado.

-Ei... Qual é a de vocês...?- Questionou o que realmente estava lhe incomodando.

-Eu não sei.- Changbin se fez de sonso, acendendo um cigarro, ofereceu à Hyunjin, que mesmo não fumando com frequência, aceitou. -Pergunte à Felix.

-Por que ele fez aquilo?- Estava muito confuso com tudo aquilo, e Changbin, pelo visto, era bem mais fácil de lidar do que o Lee.

-Ele te disse, Felix sempre consegue tudo que quer.- Suspirou, acendendo outro cigarro, e deixando o seu para o garoto.

-E você não devia estar bravo...?- Encarou-o descrente, dando uma tragada profunda. -Quer dizer, seu namorado e eu nos beij...

-Não.- O Seo sorriu de canto. -O fodido do Lee Felix é tudo pra mim. O que ele quiser, eu dou.- Deus de ombros. -Se ele quer, eu faço com o maior prazer do mundo.

Hyunjin começou a perceber que estava ficando mais confuso ainda, e enquanto observava o garoto tragar vagarosamente seu vicio, mais de um milhão de novas perguntas se formavam em sua mente.

Por que ele?

Por que não qualquer outro? Haviam vários rapazes bonitos na faculdade, que provavelmente os conheciam a mais tempo.

-Eu não sou como vocês, não podem me comprar.- Disse por fim.

-Quem falou de comprar, Hwang?- Riu. -E, você não é como eles.- Indicou a escola em que estudavam com um gesto de cabeça. -Mas, você é igual à nós.

-Você não sabe nada sobre mim. Nem você, nem o psicopata do seu namorado.

-Sabe qual é meu sobrenome, né?- Sorriu. -O nome do diretor dessa merda é Park Jinyoung, ele é casado com Seo Minhye, infelizmente, minha mãe. Acha que eu tenho privilégios à toa? Eu vivo o inferno tendo que fingir ser perfeito o tempo todo, me fodendo pra aguentar a vontade de me atirar na frente do primeiro trem enquanto todo mundo me olha como se eu fosse uma aberração, como se tivesse alguma porra muito errada comigo.- Deu uma longa tragada.

-Sinto muito.- Hyunjin engoliu seco, não estava preparado pra tomar um soco no estômago daqueles.

-Não, eu que sinto, sei que seus pais morreram em um acidente de carro quando você era pequeno e que seu irmão fez questão de te colocar em um colégio interno na Rússia até agora.- Pausou a própria fala, olhando com um sorriso triste, quase solidário ao rapaz. -Tudo são negócios hoje em dia, né?

-Como voc...

-Sei que você é herdeiro por direito de todo o território dos Hwang, já que o outro é só filho do seu pai, e o império Hwang é tanto da sua mãe, nunca foi do seu pai, apesar de vocês dois usarem o mesmo sobrenome, né? Sei que foi obrigado a voltar por que seu irmão tem que fingir ser um ótimo tutor pra manter suas partes das ações no nome dele enquanto você ainda não é formado em porra nenhuma. O que separa você da sua herança é a porra de um diploma.- Sorriu, divertindo-se com o choque do mais alto.

Hyunjin estava aterrorizado com o fato do Seo saber mais de sua vida que ele próprio.

- O Felix não tem a família, sabia? Ele tem uma tia que "cuida" dele, a mãe morreu no parto, o pai dele se matou no dia seguinte, o irmão mais velho, bom, ele deu uma surtada...- Falou calmamente, perturbando ainda mais o moreno à sua frente. -Ele tem uma caralha de dinheiro, mas isso não compra felicidade, né?

Changbin fez uma longa pausa em seu monólogo, Hyunjin ainda tentava processar aquele monte de informações que foram jogadas na sua cara.

-Nós dois sabemos disso, ele principalmente, o garoto que você pensa ser um psicopata, é tão genial. Então, Hwang Hyunjin, não venha me dizer que não é como nós.- Se ergueu, observando o ônibus que se aproximava, jogando o cigarro no chão e pisando em cima. -Pode estar indo pro inferno, mas, aposto que com nós dois vai ser mais divertido.

Os Garotos de Choker ❧𝕮𝖍𝖆𝖓𝖌𝖏𝖎𝖓𝖑𝖎𝖝Onde histórias criam vida. Descubra agora