Capítulo 35Taehyung estava em uma sala reservada na mansão, o local normalmente usado para encontros e conversas importantes, mas naquele momento parecia mais um campo de batalha silencioso. Seu coração pulsava com fúria, algo que ele raramente deixava transparecer. O chão frio da sala ressoava com o som de suas botas enquanto ele andava de um lado para o outro, tentando encontrar alguma forma de raciocinar no meio do caos. Mas a raiva estava consumindo cada centímetro do seu ser.
Taehyung parou abruptamente, seus olhos queimando de fúria enquanto encarava Jungkook. O som das suas respirações pesadas era o único ruído na sala, misturado ao leve estalar da lareira ao fundo. Taehyung sabia que não havia mais como voltar atrás. A cada segundo que passava, a gravidade da situação se tornava mais irreversível, e o peso das consequências caía sobre seus ombros como uma marreta.
Jungkook estava jogado em uma poltrona, o corpo coberto de hematomas e cortes, vestígios da luta brutal que havia travado com Jimin. Ele mal conseguia manter os olhos abertos, a dor irradiando de cada parte do seu corpo, mas ainda assim, seu olhar mantinha um traço de desafio, o mesmo que sempre o levava a se meter em confusão.
— Você não faz ideia do que fez, Jungkook. — Sua voz saiu baixa, quase um sussurro, mas cheia de intensidade. — Não é só sobre você, muito menos sobre Candice. É sobre tudo que construímos, tudo que seu pai construiu e que viemos mantendo e melhorando. E você acabou com tudo, porra! — Taehyung explodiu, sua voz ecoando pelas paredes da sala. Ele passou as mãos pelos cabelos castanhos, puxando-os de frustração, enquanto sua mente corria em círculos, tentando encontrar uma solução para o desastre que Jungkook havia criado. — Eu te avisei para se afastar dela! — A voz de Taehyung estava carregada de desespero, algo raro de se ouvir vindo dele, que sempre fora o pilar de controle e calma em meio ao caos.
Jungkook gemia de dor, tentando encontrar uma posição menos torturante na poltrona, mas cada movimento parecia incendiar seus nervos. Ainda assim, ele não perdeu a oportunidade de se defender, mesmo que com as palavras soltas entre dentes trincados.
— Ela armou para mim, Taehyung. Aquela puta planejou isso. — As palavras saíram entrecortadas pela dor, mas o veneno nelas era inconfundível.
Taehyung parou de andar e o olhou, os olhos escuros faiscando de raiva. Ele soltou um riso falso, cheio de desprezo, que reverberou pelo ar pesado da sala.
— Você é um doente de merda, Jungkook. — As palavras saíram como ácido, queimando o ar entre eles. — Sempre jogando a culpa nos outros, sempre se fazendo de vítima. Mas você sabe, assim como eu, que isso não vai salvar a sua pele desta vez.
Jungkook não estava acostumado a ver Taehyung assim, e por um breve momento, o medo atravessou seus olhos. Mas ele o mascarou rapidamente com a mesma arrogância que o havia levado àquela situação.
— Você não sabe de porra nenhuma, Taehyung! — Jungkook rosnou, a raiva o forçando a tentar se levantar, mas o corpo cedeu, e ele se afundou ainda mais na poltrona, com o orgulho ferido mais do que qualquer outra coisa. — Vai fazer o que? Me bater também? — Riu, o som misturado com o gosto de sangue na boca.
Taehyung o observou por um momento, sua expressão endurecida. Ele sabia que bater em Jungkook agora não adiantaria nada. O estrago já estava feito, e o preço a ser pago seria alto demais para todos eles.
— Não sou eu que vou decidir seu destino, Jungkook. — Taehyung murmurou. — Isso cabe a Jimin. E eu te garanto, ele não será misericordioso. Não dessa vez. Todos nós temos sorte de seu irmão ser um grande líder. — Taehyung continuou, sua voz continuava baixa, mas carregava uma sombra. — Mas acho que essa sorte acabou hoje para você.
Aquelas palavras pairaram no ar, pesadas e definitivas. Jungkook tentou rebater, mas nada saiu. Ele sabia, no fundo, que Taehyung estava certo. Ele havia cruzado uma linha da qual não havia retorno. E Jimin, o irmão que sempre o protegeu, o irmão que sempre o resgatou de suas próprias merdas, agora, era seu maior inimigo. Não haveria perdão, não dessa vez.
Taehyung se virou, indo em direção à porta, mas parou antes de sair, lançando um último olhar a Jungkook, que parecia mais um vulto do que o homem que costumava ser.
— Você está por conta própria agora, Jungkook. Espero que esteja preparado para lidar com isso. — E com essas palavras, Taehyung saiu, deixando Jungkook sozinho com sua dor, seu orgulho ferido, e a certeza de que havia perdido tudo.
Jungkook ficou ali, na poltrona, respirando com dificuldade, enquanto as palavras de Taehyung ecoavam em sua mente. Ele sabia que não havia mais saída. O fim estava próximo, e ele só podia esperar pelo julgamento do irmão mais velho, temendo, pela primeira vez, o que viria a seguir.
[...]
Jimin abriu os olhos lentamente, sentindo uma dor profunda atravessar cada centímetro de seu corpo. Era como se seus músculos e ossos estivessem cobertos por uma camada de chumbo, tornando cada respiração um esforço. Ele se mexeu levemente, tentando aliviar a tensão em seus membros, mas logo percebeu o peso adicional sobre ele. Candice estava deitada sobre seu peito, e o calor do corpo dela era uma mistura agridoce, confortando-o e, ao mesmo tempo, agravando sua dor.
Ele respirou fundo, tentando ignorar o latejar de suas feridas, enquanto seus olhos percorriam o corpo dela. O lençol branco que os cobria parecia um contraste cruel com os hematomas e arranhões que marcavam a pele de Candice. Seu pulso estava roxo, uma lembrança brutal de como Jungkook havia apertado seus braços, e o joelho, que repousava sobre ele, estava ralado e avermelhado, como se ela tivesse sido forçada a se defender com cada gota de força que tinha.
O peito de Jimin se apertou com uma mistura de raiva e culpa. A ideia de Candice sendo machucada era insuportável, mas o fato de que o responsável por isso era seu próprio irmão o esmagava por dentro. Ele sentia o peso da traição e do ódio em seu coração, sufocando-o. Mas, ao mesmo tempo, ele não conseguia evitar a autocrítica. Ele sabia que Jungkook podia ser assustador, mas e ele? O que ele havia feito para protegê-la? Ou melhor, o que ele havia falhado em fazer?
Jimin passou a mão pelo cabelo dela, os dedos traçando um caminho suave pelas mechas enquanto ele refletia sobre todas as vezes que ele mesmo a machucara — não com seus punhos, mas com sua indiferença, com sua frieza calculada. Candice havia suportado tanto, e por tanto tempo, e a maior parte desse fardo recaía sobre ele. Ela o encobriu, ela escondeu o que realmente acontecia para proteger tanto a ele quanto a si mesma, mas no fim, isso só a deixou mais vulnerável.
Com esforço, ele começou a mover Candice de cima de seu corpo. Cada movimento parecia rasgar suas entranhas, mas ele não queria acordá-la. O peso dela era uma pressão constante contra seus ferimentos, mas ele sabia que a dor dela era ainda maior. Quando finalmente conseguiu deitá-la ao seu lado, ele respirou fundo, os olhos fechados por um momento enquanto tentava controlar a onda de dor que ameaçava derrubá-lo novamente.
Ele a observou em silêncio, seu coração pesando ainda mais ao ver o quão frágil ela parecia naquele momento. As marcas em sua pele eram um lembrete cruel de tudo que ela havia suportado. Jimin se inclinou levemente, pressionando um beijo suave na testa dela, um pedido de desculpas silencioso, um voto de proteção renovado.
Ele sabia que teria que enfrentar muitas coisas ainda — a traição de Jungkook, o futuro incerto — mas, naquele momento, tudo o que importava era Candice. Ele não podia mudar o passado, mas prometeu a si mesmo que faria de tudo para proteger o futuro dela, custasse o que custasse.
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Ruínas
FanficEm uma cidade onde o dinheiro e o poder ditam as regras, uma jovem ambiciosa chamada Candice, se vê envolvida em um jogo perigoso de desejo, poder e traição com dois irmãos ligados a uma máfia implacável. Enquanto Candice planejava roubar tudo o que...