Capítulo 15

75 5 0
                                    

Capítulo 15

Candice despertou com um sentimento de fraqueza avassaladora, seus olhos pesados e seu corpo quase insuportavelmente dolorido. Ela se remexeu no colchão, sentindo o desconforto da dor em cada movimento. Com esforço, abriu os olhos e, ao perceber a falta de luz ao redor, sentiu uma pequena onda de alívio. O ambiente onde estava não tinha a clareza cruel da luz do dia, mas a penumbra parecia carregar uma opressão própria.

O quarto era desconhecido para ela, não era o seu, e isso só aprofundava o mistério e o medo da situação. Ao tentar se mover, a dor que a envolvia era quase paralisante. O cobertor que estava sobre seu corpo foi afastado com um gesto cansado, revelando uma camisa preta larga, provavelmente masculina, e uma calcinha confortável. Marcas roxas e vermelhas se espalhavam por seus braços, pernas e barriga, vestígios de uma violência que ela mal conseguia compreender.

A visão de seu próprio corpo, tão marcado e indefeso, era um choque doloroso. Candice se encolheu novamente sob o lençol, seu coração acelerando com a simples ideia de que Jimin, a pessoa que ela havia tido sentimentos, era responsável por essa situação. O pensamento de que ele poderia ser o responsável pela sua dor era insuportável, e a ideia de que ele estaria agora ali, talvez assistindo, fez com que um tremor percorresse seu corpo.

Foi quando a voz de Jimin, carregada de uma dor genuína, quebrou o silêncio.

— Eu sinto muito.

Aquelas palavras, embora carregadas de arrependimento, não podiam apagar o que ele havia feito. Candice se encolheu ainda mais no lençol, tentando se proteger do som da voz que a fazia se sentir ainda mais vulnerável. Cada palavra de Jimin parecia um lembrete de que ele era o autor de sua desgraça.

Jimin se aproximou lentamente, como se cada passo fosse uma tentativa de obter algum tipo de permissão silenciosa para se aproximar. Sua voz estava embargada com a dor e a culpa.

— Eu descobri tarde demais que não havia sido você a invadir o sistema e me roubar. — Ele falava, seu tom carregado de sofrimento. — Eu fiquei com medo. Foi a primeira vez que eu temi algo na minha vida. Temi que fosse tudo verdade, que você tivesse feito isso e temi pelo que fiz com você.

Candice não conseguia encarar Jimin. A ideia de que ele ainda se preocupava com o que tinha acontecido com ela, apesar de ser a fonte de sua dor, era cruel e desconcertante. Jimin continuou, sua voz agora uma mistura de desespero e resignação.

— Fiquei aterrorizado, pensando que tinha lhe perdido. — Ele soltou um riso vazio, se dando conta de suas palavras e da verdade dentro delas. — E eu perdi.

O lamento em suas palavras era palpável, mas para Candice, o tempo da misericórdia já havia passado. Ela sentia que as palavras dele não podiam mais resgatar o que havia sido destruído. Jimin sabia que as pontes haviam sido queimadas, que o que havia acontecido entre eles estava irremediavelmente perdido. Ele havia cruzado todas as linhas possíveis, e agora, não havia volta.

Candice manteve-se em silêncio, sua voz era uma memória distante. Jimin, reconhecendo a rejeição silenciosa e a dor que ele causara, balançou a cabeça em compreensão. Com uma última olhada de tristeza, ele saiu do quarto e fechou a porta atrás de si.

Com ele fora, Candice levantou-se com dificuldade, as dores e a fraqueza tornando cada movimento um desafio. Ela caminhou até o banheiro, onde a visão no espelho a confrontou com uma imagem que mal podia acreditar ser sua. As marcas e feridas eram um testemunho cruel do que ela havia sofrido. Seus olhos se encheram de lágrimas, mas ela se forçou a não chorar. Chorar agora era um luxo que ela não podia se permitir.

A dor era grande, mas ainda havia uma chama de determinação em seu coração. Jimin havia destruído suas chances de um futuro ao seu lado, e, mais do que isso, havia destruído parte de quem ela era. Agora, ela não tinha mais dúvidas sobre o caminho que deveria seguir. A vingança não era apenas uma opção, era a única saída que lhe restava.

Candice se olhou uma última vez no espelho, os olhos secos e resolutos refletindo uma determinação fria. Ela sabia que precisava se recuperar e se fortalecer. Seu plano, que uma vez foi ofuscado pela dor e pela traição, agora se tornava uma obsessão clara. Ela destruiria o império de Jimin e deixaria tudo em ruínas, assim como ele havia feito com ela.

Com essa resolução, Candice se afastou do espelho e começou a se preparar. A dor no corpo e no coração era uma constante, mas a vontade de vingança era agora o combustível que a movia. A partir daquele momento, ela estava decidida a não apenas sobreviver, mas a prevalecer, não importava o custo.

[...]

Alguns dias haviam se passado desde o incidente com Candice, mas as marcas no corpo dela ainda eram visíveis e dolorosas. A cada movimento, cada roçar de roupa contra a pele machucada, a lembrança do que ele havia feito voltava com força total. Jimin, desesperado para conseguir o perdão dela, tentava de todas as formas possíveis se aproximar, mas Candice o evitava, mergulhada em um silêncio cortante.

Jimin estava sentado na varanda, observando Candice à distância. Ela estava deitada em uma espreguiçadeira, sob um guarda sol, com um livro nas mãos. Ele respirou fundo e decidiu tentar mais uma vez. Com passos hesitantes, se aproximou.

— O que está lendo? — Perguntou, sua voz carregada de incerteza. Candice nem sequer levantou o olhar; escondida atrás dos óculos escuros, ela parecia indiferente à presença dele. Voltou a atenção para o livro, ignorando-o completamente. Frustrado, Jimin passou a mão pelos cabelos, num gesto nervoso.

— Eu já me desculpei, Candice. Já te dei o tempo que você queria. O que mais quer que eu faça, porra? — Sua voz saiu mais alta e raivosa do que ele pretendia.

Candice fechou o livro com um estalo e finalmente o encarou.

— Me deixar ir. — Suas palavras foram como tiros certeiros no coração de Jimin. — A única coisa que você pode fazer é me deixar ir embora. E talvez, eu consiga te perdoar.

— Fora de cogitação. — Jimin balançou a cabeça em negação, fazendo Candice suspirar profundamente.

— Por que você me quer aqui, Jimin? De verdade? Eu não sirvo para esse mundo, não sirvo para seus amigos e com certeza não sirvo para você. — As palavras saíram rápidas, mas carregadas de dor e frustração.

— Você não sabe o que diz, Candice. — Ele queria poder falar mais sobre o que sentia por ela.

— Não, eu realmente não sei. — Ela admitiu, exasperada. — Tudo o que eu sei é que sou apenas uma marionete para você, que serve da melhor maneira quando você necessita, mas que agora está quebrada demais depois de tanto que você a usou. — Lágrimas começaram a se formar em seus olhos. — Eu não aguento mais viver assim. Eu não quero mais viver assim. Deveria ter deixado seu capanga ter terminado o serviço.

As palavras dela o cortaram fundo. A ideia de um homem daquele nível fazendo o que quisesse com ela, e depois tirando sua vida embrulhou o estômago de Jimin. Ele se aproximou dela, retirando os óculos escuros de seu rosto, revelando os hematomas, mas, acima de tudo, seus belos e profundos olhos azuis.

— Eu fiz a maior merda da minha vida com você. Eu acabei com tudo, eu sei disso. Mas, por favor, não diga que você não serve para mim quando você é a única coisa boa na minha vida. — Tocou em seu rosto, fazendo-a se encolher ao sentir o toque dele. — Tudo o que eu sinto hoje é graças a você, Candice. Sei que não mereço o seu perdão, muito menos a sua companhia, mas peço que fique comigo. Sei que já disse outras vezes que mudaria, mas eu estou mudando, aos poucos, de uma maneira fodidamente errada, mas estou. Não existe outra pessoa no mundo para mim, a não ser você.

As palavras dele soavam verdadeiras, mas ainda doíam. Cortavam fundo. Candice realmente acreditava que ele a deixaria ir se ela pedisse, e se ele tivesse deixado, ela teria vivido a vida longe dele, sem planos de vingança e sem lembranças. Mas ele havia escolhido o caminho mais difícil, e ela decidiu que assim seria daquele momento em diante. Ela atuaria o máximo que conseguisse. Ela o conquistaria e o faria provar do gosto de uma vingança quente e bem servida.

Candice se recostou na espreguiçadeira, mantendo os olhos fixos em Jimin e falou: — Tudo bem, Jimin. Eu fico. Mas saiba que isso não é um perdão. Ainda não.

Ele assentiu, visivelmente aliviado, mas sem perceber a sombra de determinação que crescia nos olhos dela. Candice iria se vingar, e quando o fizesse, ele saberia exatamente o preço de suas ações.

RuínasOnde histórias criam vida. Descubra agora