𝐓𝐑𝐄̂𝐒.

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𝐌𝐀𝐘𝐀.

Sinto o frio da cidade me arrepiar quando saio rumo à ponte telescópica, após o avião pousar em São Paulo. Segui as placas até as esteiras de bagagem e, à minha frente, avistei Abel. Seus cabelos apresentavam fios brancos assim como sua barba,ele sempre foi um homem muito bonito; parecia nervoso e desnorteado. Não me lembro de nenhum momento ruim com ele, na verdade, todas as férias que passei com meu pai foram os únicos momentos bons da minha infância.

Acredito que qualquer sentimento negativo em relação a ele seja resultado das experiências que não compartilhamos. É evidente o mínimo esforço que ele fez para fazer parte da minha vida.

Peguei a única mochila que havia levado, contendo meus poucos pertences. Caminhei em direção ao mais velho, que nem notou minha presença. Talvez eu esteja arrependida de ter vindo; tudo é tão estranho. Minha mãe está morta, e vou passar um tempo ao lado de um homem com quem convivi por menos de cem dias.
Mas eu aguento tudo isso, já passei por situações piores e consegui superar.

Chego perto do meu pai, que agora estava de costas, observando através da enorme janela do aeroporto.

― Pai? ― falo, e vejo ele se virar.

― Maya... você cresceu. Está linda ― disse, me analisando.

Não nos abraçamos. Estou agarrada à minha mochila e não gosto de abraços. Sorrio timidamente e ele faz o mesmo. Ele fica ali parado, me analisando, como se tivesse saudade no olhar, mas duvido muito que seja isso. Afinal, se realmente sentisse saudade, teria feito de tudo para estar comigo.

― Quantas malas trouxe? ― pergunta ele, olhando para a esteira.

― Duas ― a mentira saiu sem nem pensar. ― Duas malas azuis e grandes.

Então caminhamos até a esteira e ficamos parados ali, esperando as duas malas azuis e grandes passarem, o que obviamente não aconteceria, pois elas nem existia. Invento uma desculpa e vou ao banheiro para sair dessa situação que eu mesma criei, por sei lá, vergonha.

Me olho no grande espelho do banheiro e vejo como não me pareço com meu pai. Não tenho seus olhos cor de mel, os cabelos castanhos vêm de Malissa. Só a boca que lembra a dele. Passo uma água no rosto e saio dali. Logo vejo Abel no balcão da companhia, volto para onde estava e vejo-o assinando um papel.

― Não foi registrada nenhuma mala com a descrição que você me falou. Você tem algum recibo? ― perguntou meu pai.

― Não, saí muito atrasada, minha mãe que despachou as malas ― mais uma mentira.

O funcionário do balcão disse ao meu pai que entrariam em contato caso houvesse qualquer novidade. Fomos até a porta de saída do aeroporto, que estava quase deserta.

― O carro está lá fora, vamos ― falou, e eu apenas assenti, seguindo-o.

[...]

No GPS, a distância até a casa dele parecia pequena agora.

𝐂𝐈𝐂𝐀𝐓𝐑𝐈𝐙𝐄𝐒 𝐃𝐀 𝐀𝐋𝐌𝐀- Richard Ríos Onde histórias criam vida. Descubra agora