𝐐𝐔𝐀𝐓𝐑𝐎.

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𝐌𝐀𝐘𝐀

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𝐌𝐀𝐘𝐀.

Eu encaro os olhos impenetráveis do jogador. Que me observava com uma intensidade que me fez estremecer. Sem dizer uma palavra, ele se abaixou lentamente para pegar o aparelho do chão.

Agora, estando mais próxima, percebi que ele parecia um pouco mais velho do que eu havia imaginado. Seu maxilar é extremamente definido,tatuagens espalhadas no pescoço, seu cabelo preto,desordenado,caia levemente sobre seu rosto.Levanto e tento me desviar dele para sair daquela situação,mas ele da um passo ao lado e fica ali na minha frente.

Seus olhos castanhos e estonteante (infelizmente) é intenso e desafiador, como se estivesse esperando uma reação minha, a mistura de frustração e curiosidade em seu rosto. Odeio a proximidade que há entre nós,ele se vira rapidamente para confirmar que estamos sozinhos e, sem dizer nada, coloca algo em minha mão. Quando olho, vejo uma nota de vinte reais, dobrada.

Encaro o dinheiro,então levo o olhar a ele,compreendo sua oferta. Estamos perto de um banheiro. Ele sabe que eu sou pobre. Será que ele realmente acredita que estou tão desesperada a ponto de arrastá-lo até o banheiro para agradecê-lo por esses vinte reais? Sério? A humilhação queima em minhas veias, mas me controlo. Não é o dinheiro que me ofende, mas a suposição por trás dele, a visão distorcida que ele tem de mim.

O que leva um homem a pensar assim? Que tipo de sinal estou transmitindo para que ele acredite que pode me comprar com uma nota de vinte reais?

Fico tão furiosa com aquilo, que pego a nota e a amasso com força, sentindo a toda raiva. Com um movimento brusco, jogo a nota amassado em sua direção. Meus olhos se fixam em seu rosto, esperando que ele sinta o peso da minha indignação, mas ele desvia com uma elegância quase despreocupado.

Sem pensar, dominada pela raiva, "bato" no celular que estava em suas mãos, fazendo-o cair mais uma vez.

― Pra quê tudo isso? ― pergunta ele, com um sotaque que não consigo identificar, deixando a frase ecoar no ar.

Ele se agacha para pegar o celular. Sem responder à sua pergunta, me afasto, preparando-me para correr. Então, dou de cara com uma terceira pessoa. Como se não bastasse estar encurralada com um cara que acabou de me oferecer vinte reais por um favor que não quero nem imaginar,agora estou encurralada entre dois caras. O homem à minha frente é alto, mas não tanto quanto o outro. Parece ser jogador também, pois está vestindo o uniforme de treino do time.

― Foi mal, Rapha ― diz o cara atrás de mim, segurando um celular todo trincado na mão.

― O que aconteceu? Você só ia fazer uma ligação cara ― responde o homem, que, pelo apelido, deduzi que se chama Raphael.

Por um breve momento, pensei que Raphael poderia ter visto nossa interação e vindo me ajudar, mas ele parecia mais preocupado com o celular do que comigo. Agora, sabendo que o celular não pertencia ao primeiro cara, sinto um peso na consciência por tê-lo derrubado de propósito.

Tentei mais uma vez sair dali.

― Tava distraído e acabei esbarrando nela ― o cara diz, e, embora não esteja mentindo, mas a primeira queda não faria tudo aquilo no celular.

Raphael me observa por um momento e depois fixa o olhar no babaca de olhos castanhos. A forma como eles se encaram revela algo... algo não dito. Parece que se comunicam apenas com aquele olhar.

Raphael passa por mim e abre a porta da sala onde eu estava minutos antes. Antes de entrar, ele se vira para o cara que ainda está atrás de mim.

― Vou me trocar e vamos embora.

Mais uma vez, estávamos a sós, mas o que eu mais desejava era encontrar meu pai e sair dali. Ele ainda observava a tela trincada do celular com uma expressão indecifrável.

― Não era minha intenção te propor nada. Só achei que, talvez, de repente, isso pudesse ser útil. Desculpa se me expressei mal.

Inclino a cabeça quando ele me olha, tentando decifrar sua expressão em busca de uma mentira. Por um momento, parece sincero, não se o que é pior:ele me propor algo ou acha que sou uma pedinte. Tento formular uma resposta inteligente, mas as palavras não vêm. Fico ali, apenas encarando seus olhos. Há algo nele que me toca profundamente, como se sua aura tivesse garras que me prendem.

Seu olhar é meditativo e carregado, um tipo de peso que eu pensava ser exclusivo de pessoas como eu. O que poderia ter sido tão devastador na vida dele para que eu sentisse essa certeza de que ele já sofreu imensamente? É evidente que ele carrega marcas, cicatrizes invisíveis que falam mais do que palavras poderiam expressar. Há uma história escondida por trás daquele olhar, uma dor que ressoa e me faz questionar o que realmente se passa em sua alma.

Uma pessoa ferida reconhece a outra. É como um clube que ninguém quer fazer parte.
                 ⁻ᶜᵒˡˡᵉᵉⁿ ʰᵒᵒᵛᵉʳ

―Toma aí seu dinheiro. Compra uma película nova.

Com essas palavras, deixo aquele lugar, esbarrando em Abel, que me observa com uma expressão confusa, provavelmente se perguntando onde eu estava e por que saí daquele jeito.

―Vamos,já terminei.― Fala meu pai.

Seguimos em direção ao local onde meu pai havia estacionado o carro. Vou traçando as fileiras de veículos até encontrar o dele. Sento no banco do carona, observando a rua que tava bastante movimentada. Quando me viro para a frente, vejo os dois jogadores.

Eles conversavam sobre algo e agora Raphael que analisava o celular quebrado. Os dois caminharam até um carro próximo de nós. Afundo em meu assento,na esperança de não ser vista.

Eles entraram em uma BMW, muito bonita por sinal. Meu pai deu partida no carro e seguimos, enquanto eu observava as belas ruas de São Paulo.

― Kiara está ansiosa para te conhecer ― diz meu pai. ― Além do namorado, ela não tem muitas amigas por aqui. Na verdade, ela tinha mais amizades onde morava com a mãe, na Espanha.

Paro no sinal e, ao meu lado, uma BMW encosta lentamente. Meu coração acelera, torcendo para que não seja eles. Mesmo assim, não consigo evitar olhar para o carro. Lá está ele, o cara do celular, olhando fixamente pela janela. Quando nossos olhares se cruzam, percebo que seu rosto permanece inabalável, mas algo em seu olhar me desestabiliza. Um arrepio me percorre, misturando desconforto e curiosidade. Desvio o olhar rapidamente e volto a encarar a estrada à frente, tentando ignorar a intensidade daquele breve momento.

― Como se chama o namorado da Kiara?

Desejei com todas as minhas forças que não fosse o tal Raphael, ou aquele amigo insuportável de olhos encantadores.

― Raphael, Raphael Veiga. Um dos meus jogadores.

É claro, é claro que seria um dos seus jogadores.

É claro, é claro que seria um dos seus jogadores

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𝐂𝐈𝐂𝐀𝐓𝐑𝐈𝐙𝐄𝐒 𝐃𝐀 𝐀𝐋𝐌𝐀- Richard Ríos Onde histórias criam vida. Descubra agora