𝐀𝐒 𝐕𝐄𝐙𝐄𝐒 𝐍𝐎𝐒 𝐀𝐅𝐎𝐆𝐀𝐌𝐎𝐒 𝐍𝐀 𝐏𝐀𝐑𝐓𝐄 𝐑𝐀𝐒𝐀...
Maya cresceu sob a sombra de uma mãe problemática e de um pai ausente, aprendendo desde cedo a se virar sozinha em um mundo repleto de desafios. Sua infância foi marcada por decepçõ...
Se eu me ferir no processo Eu me resolvo, tudo certo Em qualquer sombra eu descanso A gente tem a dor parecida nessa vida Por isso eu gosto tanto.
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𝐌𝐀𝐘𝐀.
São seis da manhã quando eu e meu pai finalmente encostamos o carro na garagem. O silêncio entre nós é pesado. Ele sobe as escadas sem dizer nada, mas eu fico no térreo. Preciso de um momento sozinha. Sento-me à mesa do lado de fora e respiro fundo, sentindo o frescor da manhã. Por uns três minutos, consigo ter um pouco de paz. Até que ouço alguém descendo a escada apressadamente. Quando olho, vejo Kiara vindo na minha direção.
― Ai, meu Deus, Maya. ― Ela praticamente corre até a mesa, sentando-se à minha frente. Seus olhos estão arregalados de preocupação enquanto estende a mão e aperta a minha.
Seu toque é suave, mas o sorriso triste que ela força só faz aumentar o peso do que estou sentindo.
― Como você está? ― pergunta, quase num sussurro, como se qualquer barulho mais alto pudesse me fazer desabar.
Eu balanço a cabeça, tentando organizar os pensamentos.
― Só vou ficar bem quando conseguir falar com o Richard ― respondo, e minha voz sai mais rouca do que eu gostaria.
Kiara aperta minha mão um pouco mais forte, como se quisesse me passar alguma força. Mas vejo em seus olhos que ela está tão perdida quanto eu.
― Fiquei tão preocupada ― diz ela, seus olhos cheios de angústia. ― O seu pai saiu daqui tão apressado... Depois, ele mandou uma mensagem de texto para a minha mãe avisando que o Richard tinha sido preso. O que foi que aconteceu?
Solto o ar, tentando encontrar um jeito de explicar tudo, mas como explicar algo que eu mesma mal entendo?
― Eles disseram que ele está envolvido em atividades ilegais. Coisas sérias, pelo que parece. E que ele também fez algo na Colômbia, anos atrás.
Ela me olha em choque, as sobrancelhas erguidas.
― Na Colômbia? O Richard?
Eu apenas dou de ombros, impotente.
― Eu não sei mais o que pensar. Eles dizem que ele está envolvido em tudo isso,mas... sei lá.
Kiara faz uma pausa, como se estivesse processando as informações, depois suspira e encosta-se na cadeira.
― Lamento tanto, Maya. Eu me sinto péssima. Fui eu que fiquei te empurrando para ele... ― Kiara se inclina sobre a mesa, segurando meu punho com força, os olhos cheios de uma sinceridade quase dolorosa. ― Nem todos os caras são que nem ele. Eu juro.
Eu sei que ela está certa, mas, ao mesmo tempo, é um alívio que Richard não seja como os outros caras. Ele podia ser igual ao Lucas. Ou pior. Prefiro me apaixonar por alguém com um passado nebuloso, mas que me trata como Richard, do que por um cara que parece perfeito para os outros, mas que me destrói por dentro. Richard, com toda a sua bagagem, ainda assim me faz sentir algo verdadeiro. Algo que não tive antes.
