A química entre nós

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O sol começava a se pôr, tingindo a Clareira com tons dourados e laranjas. O som das atividades do dia diminuía enquanto os Clareanos se preparavam para o jantar. Victória estava sentada à beira de uma das casas, observando o movimento ao seu redor. Tentava distrair a mente, mas o pensamento em Ben ainda pesava sobre seus ombros.

Thomas, ainda novo ali, aproximou-se devagar. Ele hesitava em incomodá-la, mas algo em sua expressão o fez parar. Victória percebeu sua presença e suspirou, como se soubesse que não conseguiria fugir da conversa.

— Você não deveria ficar aqui sozinho — disse ela, sem olhar diretamente para ele. — Gally não confia em você. Nenhum de nós confia.

Thomas engoliu em seco, mas não se afastou.

— Eu não sou uma ameaça — respondeu ele, tentando soar confiante, embora soubesse que não era bem assim que se sentia. — Eu só quero entender o que está acontecendo.

Victória se virou para ele, finalmente olhando-o nos olhos. A intensidade em seu olhar era quase esmagadora.

— Isso aqui é mais complicado do que parece — ela disse, sua voz mais suave agora. — E quanto mais você tentar entender, mais perigoso se torna.

Thomas assentiu, mas antes que pudesse responder, o som de passos pesados se aproximando interrompeu a conversa. Era Gally. Ele tinha um olhar sério no rosto, e sua presença sempre parecia carregar uma tensão que preenchia o ar.

— Thomas, a reunião acabou — disse Gally, claramente irritado. — Está na hora de você se afastar.

Victória levantou-se, colocando-se entre os dois.

— Ele só estava tentando ajudar, Gally.

— Ajudar? — Gally zombou. — Desde que ele chegou, as coisas só pioraram. E agora Ben...

A lembrança do que aconteceu mais cedo pairava entre eles, e Victória sentiu a dor ressurgir. Gally continuou, mas dessa vez, sua voz era mais baixa, quase um sussurro.

— Victória, você sabe que algo está errado com ele.

Ela olhou de um para o outro, percebendo o quanto a desconfiança entre eles estava crescendo.

— Não é hora de brigar — disse ela, tentando manter a calma. — Temos que focar no que está vindo. Ben... ele sabia algo, e precisamos descobrir o que é antes que seja tarde.

Thomas, percebendo que a tensão entre Gally e ele estava ficando insuportável, deu um passo para trás.

— Eu não quero causar problemas — disse ele. — Só quero respostas.

Gally bufou, mas antes que pudesse dizer algo, Newt apareceu, interrompendo o confronto.

— Está tudo pronto para amanhã — disse ele, direcionando a palavra a Victória. — Os corredores vão sair ao amanhecer.

— Amanhã? — perguntou Thomas, confuso. — Sair para onde?

— O Labirinto — respondeu Newt, sem rodeios. — Vamos tentar descobrir o que está acontecendo. E você, novato, vai ficar aqui, onde é seguro.

Victória concordou com um aceno, mas sua mente já estava em outro lugar. Ela sabia que, no fundo, Gally tinha razão em desconfiar. As coisas estavam mudando rápido demais, e a chegada de Thomas parecia ser o catalisador. Mas, ao mesmo tempo, ela não podia ignorar a sensação de que ele também poderia ser a chave para encontrar as respostas que tanto buscavam.

— Certo — disse ela, endireitando-se. — Amanhã, vamos entrar no Labirinto. E, com sorte, sairemos com mais respostas.

Thomas observou enquanto ela e os outros se afastavam, sentindo que a cada dia, o mistério ao seu redor apenas se aprofundava. Ele, relutante, voltou ao seu canto, enquanto Gally observava de longe, sua mandíbula rígida.

Quando todos se dispersaram, Victória se afastou para um local mais tranquilo da Clareira. O peso de suas responsabilidades apertava seu peito, e ela precisava de um momento para si mesma. Gally, porém, a seguiu, notando sua expressão abatida.

— Victória — ele a chamou, suavizando a voz de maneira quase rara para ele.

Ela parou e olhou para ele, percebendo que algo entre eles sempre mudava nesses momentos de quietude. O clima entre os dois, que era sempre cheio de tensões e provocações, agora parecia mais vulnerável. Ela se sentou no gramado, e Gally, sem dizer uma palavra, fez o mesmo ao lado dela.

— Eu não posso mais carregar isso sozinha, Gally — confessou ela, sua voz levemente trêmula. — O peso da liderança, o que aconteceu com Ben... tudo está se acumulando.

Gally se inclinou um pouco mais perto, seu olhar suavizando à medida que ouvia as palavras de Victória. Ele hesitou por um momento, mas depois falou com um tom que revelava uma profundidade que ele raramente mostrava aos outros.

— Você não está sozinha nisso, sabe? — disse ele, sua mão se movendo levemente para perto da dela, mas sem tocá-la. — Eu... estou com você. Sempre estive.

Victória virou o rosto para ele, surpreendida pela confissão. Ela sempre soube que Gally se importava com ela, mas ouvi-lo expressar isso de maneira tão aberta a desarmou.

— Gally... — sussurrou ela, seus olhos buscando os dele.

Ele finalmente tocou sua mão, um gesto simples, mas carregado de significado. O toque aqueceu seu coração, e ela se deu conta de que, mesmo nos momentos mais tensos, Gally sempre esteve ao seu lado. Ela sentia algo forte por ele, algo que evitava confrontar por causa da liderança, mas naquele instante, parecia impossível ignorar.

— Não sei o que faria sem você aqui — admitiu ela, sua voz agora suave.

Os olhos de Gally se suavizaram ainda mais, e ele apertou sua mão de leve.

— Você não precisa saber — respondeu ele. — Só precisa lembrar que eu vou estar ao seu lado, sempre.

O silêncio entre eles foi preenchido por algo além das palavras. A tensão que sempre existira foi substituída por uma cumplicidade, uma sensação de que ambos sabiam o que o outro sentia, mas ainda hesitavam em expressar abertamente. Gally olhou para o rosto dela, como se quisesse dizer algo mais, mas decidiu ficar em silêncio, apenas permanecendo ao lado dela, enquanto a última luz do sol desaparecia no horizonte.

Victória sentiu seu coração acelerar e, por um breve instante, pensou em se inclinar e encostar a cabeça no ombro dele. Mas, em vez disso, ela apenas apertou sua mão de volta, tentando expressar, com esse gesto simples, tudo o que ainda não conseguia dizer em palavras.

Juntos, sentaram em silêncio, compartilhando um momento de paz em meio ao caos da Clareira.

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𝐀 𝐏𝐑𝐈𝐌𝐄𝐈𝐑𝐀 || Maze runner Onde histórias criam vida. Descubra agora