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𝑨𝑴𝑶𝑹 𝑬 𝑽𝑰𝑵𝑮𝑨𝑵𝑪𝑨

Sophia Clark
5 anos atrás...


   Eu evitava a todo custo levar meus olhos até Elay, para que ele não visse meu olhar marejado enquanto esperávamos os homens que ele havia chamado. Anne agora estava sentada em um sofá de veludo preto, com cotovelos apoiados em seus joelhos e o rosto escondido nas mãos. Era tão difícil vê-la assim e não conseguir conforta-la, afinal estava tão destruída quanto ela e minha mania de sempre querer parecer forte não me deixava desabar assim, eu tinha a obrigação de mantê-la em pé, cuidar dela como Miguel faria. O silêncio era perturbador, a atmosfera pesada parecia esmagar os meus ombros, até que a porta se abriu e eu senti meu peito inteiro queimar.

— Pai? O que houve? Bart disse que perdemos um irmão! — meus olhos estavam fixos no garoto alto à minha frente.

— Sophia, essas são meus filhos, Tom e Bill — Elay tinha um tom de voz triste enquanto nós apresentava — Meninos, essa é Sophia, filha do Kennedy... Irmã de... Miguel — sua voz parecia falhar, embargada pelo choro contido.

    Os dois meninos olharam ao redor tentando entender a situação, Anne chorando no sofá, o silêncio aterrorizante, a voz chorosa do pai. Quando finalmente juntaram os pontos e entenderam o que estava acontecendo, seus olhos foram até o pai. Eu ainda estava assimilando tudo aquilo, eu não sabia que ele tinha dois filhos, e muito menos que eram gêmeos. Mas algo estava errado, eu não conseguia controlar a respiração e um frio na barriga me envolveu, apenas com a presença deles.

— Eu sinto muito meninos... — a expressão dos garotos mudou, como se algo extremamente raivoso tivesse tomado conta de seus corpos.

— Quem? — a voz de Tom pareceu me cortar enquanto seus olhos me fitavam — Quem foi? — eu o encarava como se procurasse as palavras.

— Fomos traídos — era como se as palavras cortassem minha garganta — Estávamos negociando território russo, Miguel teve um desentendimento com o chefe então o deixei escondido até que eu resolvesse a situação — fiz uma pausa ao ouvir um soluço vindo de Anne — Mas entregaram a localização de Miguel, o levaram até o local da negociação... — meus olhos ficaram ainda mais marejados — E o fuzilaram diante dos meus olhos...

    Enquanto eu falava, parecia que conseguia ver a cena bem na minha frente. Miguel entrando acompanhado dos russos, na mira de suas armas. Ele se ajoelhou, tentei ir até ele, mas Alex me segurou. "Eu te amo angel", foram as palavras que sairam dos seus lábios antes das balas perfurarem seu corpo.

— Eu preciso de ajuda... — não conseguia mais ser forte — Eu não sei mais pra onde correr... Papai está doente e nem sequer se lembra que Miguel está morto... — era quase impossível ser completamente forte na presença dos meninos.

    Bill vendo que eu estava prestes a desmoronar veio até mim e me abraçou escondendo meu rosto em seu peito. Aquilo pareceu desbloquear todas as lágrimas que eu estava segurando. Meus olhos começaram a molhar sua camisa preta enquanto eu liberava todo o choro contido que tinha dentro de mim. Sentia os olhares de todos na sala sobre meus ombros, as mãos de Bill acariciavam minhas costas em um conforto relaxante.

— O que vamos fazer? — a voz de Bill parecia um sussurro, como se não quisesse acordar uma criança adormecida.

— Eu tenho um plano, mas pode demorar! As barreiras russas são muito firmes e difíceis de acessar — levantei o rosto, levando os olhos até Elay.

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