Elena

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Já passava das dez das horas da noite e ninguém tinha sinal algum de Maitê, as ligações não completavam, ninguém tinha conseguido encontra-la perto da vila olímpica e pra ajudar havia caído uma breve chuva fora de época no final da tarde.

- Acho que devíamos começar a procurar em hospitais e delegacias. - Rosamaria falou sentando no banco da área externa na vila olímpica.
- A Laura! - Julia falou como em um estalo de sabedoria.
- O que tem a Laura. - Thaisa perguntou em um tom desanimado, já não tinha mais lágrimas pra chorar.
- Ela é a melhor amiga da Maitê, com certeza deve saber se no celular dela tem algum tipo de rastreador. - Julia falou pegando o telefone e agradecendo por ter o número da garota.
- Julia cadê ela ? - Laura perguntou depois do segundo toque.
- Laura cê tá no viva voz, o time todo tá aqui do lado. - Julia contextualizou - Ela tá desaparecida, não sabemos se aconteceu alguma coisa com ela ou se apenas se perdeu. Maitê saiu desnorteada daqui. - a ruiva explicou.
- Porra eu achei que ela tava do seu lado quando liguei. - a garota respondeu se sentindo culpada, achava que devia ter avisado a Julia primeiro.
- Laura eu preciso da sua ajuda aqui já são quase 23 hrs da noite, você sabe se dá pra rastrear o celular da Maitê? Ela saiu com ele. - Julia questionou esperançosa.
- Da sim, um minuto. - a garota respondeu e um silêncio tomou conta da ligação. "Quietinha Elena" Laura falou um pouco distante da ligação. - Ela tá no Jardim do Trocadéro.- A garota respondeu depois de um tempo.
- Muito obrigada Laura, você acabou de salvar eu e a Thaisa. - Julia respondeu sincera.
- Julia eu tô indo pra Paris, consegui adiantar o meu voo. Mas não quebra sua promessa de cuidar da minha irmã não. - Laura falou antes de se despedir.
- Jamais. - Ela respondeu antes de se despedir da morena.
- Eu dirijo. - Zé se pronunciou.
- Eu preciso ir, tenho que falar com ela. - Thaisa disse se levantando.
- Eu preciso estar com ela agora. - Julia falou só desejando que sua garota estivesse bem.
- É minha cunhada, quero estar junto. - Lukas falou aproximando-se, o time masculino também havia se juntado na busca
- Pois vamos, os outros ficam aqui e vamos dando notícias. - Zé falou já caminhando até onde o carro que alugara estava.

Meia hora depois com o relógio batendo mais de onze horas os quatro pararam próximo ao jardim da onde era possível ver a Torre Eiffel toda iluminada.

Agradeceram internamente por ser tarde da noite, pois poucas pessoas estavam por lá. O que facilitou encontrar Maitê que estava sentada nos degrais de uma escadaria que dava de frente com a torre.Thaisa foi a que aproximou-se primeiro de forma lenta para não assusta-la.

- Ela é linda né? - Falou sentando ao lado de Maitê e chamando sua atenção.
- Porque Thaisa? Porque não me quis? Não sou digna de ser amada? - Maitê questionou entre choros e dando tapas no busto da mais velha.
- Ei calma, respira. Eu sempre te quis.- Thaisa disse a abraçando forte e passando as maos em seu cabelo molhado por causa da chuva.

Maitê aos poucos foi parando de dar tapas na Thaisa e o choro aumentando. Chorava desesperadamente como um bebê que acabou de se perder da mãe. Julia aproximou-se colocando a manta que tinham pego para aquece-la por causa da chuva.

- Porque Thaisa? - perguntou novamente quando conseguiu se acalmar.
- Posso te contar minha história? - Thaisa perguntou afrouxando o abraço e mas não a soltando dos seus braços. Julia queria abraça-lá mas sentia que aquele era um momento delas.
- Por favor, eu me sinto perdida. - Maitê confessou.
- Eu tinha 16 para 17 anos quando engravidei do meu namorado na época. Coincidentemente a minha ginecologista também engravidou com pouco tempo de diferença,mas ela disse que ficaria comigo até o fim. - Thaisa começou a contar fazendo carinho no rosto de Maitê. - O seu pai ficou encantado com a ideia, ele era apaixonado por você desde o primeiro instante. - contou com a voz ficando levemente embargada.
- Ele era? - Maitê perguntou atenta ao que ela tinha falado
- Infelizmente ele faleceu em um acidente um mês antes de você nascer. - Thaisa respondeu com um nó na garganta, era doloroso voltar ao passado. - O dia em que você nasceu foi incrível, o mundo parecia ter mais cor no instante que o seu chorinho tomou conta daquela sala. - Contou com os olhos brilhando. - Me enchi de tanto amor que achei até que pudesse explodir, mas tudo mudou quando na mesma noite do dia em que você nasceu te levaram. - Ela continou a contar com lagrimas teimosas caimdo. - Sua avó havia ido em casa tomar banho e trocar de roupa, eu acabei adormecendo depois de te dar mama. Quando acordei você já não estava em lugar algum. - Thaisa explicou com a dor no peito que sempre tinha ao lembrar da fatídica noite de 22 de junho de 2004.
- Thai você tava no começo da carreira não pensou em desistir? - Maitê questionou a encarando.
- Se eu te falar que não tive medo vou estar mentindo. Mas quando ouvi seu coração pela primeira vez eu tive a certeza que independente de qualquer coisa eu enfrentaria o mundo por você.- Thaisa respondeu sem deixar dúvidas no ar.
- E o que aconteceu depois que você viu que eu não tava lá? - Maitê perguntou dando espaço para ela continuar contando.
- Eu entrei em desespero, o hospital inteiro, a policia e investigadores particulares começaram a te procurar. Quando recebi alta sem você no meu colo foi dilacerante e nem havia sido minha ginecologista que havia dado minha alta pois a bebê dela também havia nascido. - ela respondeu com a voz embargada.
- E depois? - Maitê questionou ansiando por respostas de perguntas que martelavam na sua cabeça.
- A polícia investigou por um tempo e depois arquivou. Eu não parei de investigar, existe uma equipe de investigação particular atrás de você. - Thaisa explicou e percebeu os olhos de Maitê se arregalarem.
- E quando foi que desconfiou que era eu ?- questionou.
- Quando você chegou ao time até achei que fosse uma ironia do destino sermos tão parecidas. Mas ao mesmo tempo senti uma conexão absurda com você, como se fosse coisa de outro mundo. - Thaisa começou a explicar. - Mas quando você passou mal e eu vi sua marca de nascença idêntica a da minha menina, a minha e de todas as mulheres da minha família uma luz de esperança surgiu em mim. - Thaisa terminou de explicar.
- E porque não me avisou antes de fazer o teste? - a garota questionou aparentemente mais calma.
- Eu tive medo, em 20 anos foram tantas vezes que tive uma falsa possibilidades que morria de medo de ser mais uma.- Thaisa respondeu cabisbaixa, naquele momento estava morrendo de medo de perder sua menina de vez pelas escolhas que fez.
- Quem era sua ginecologista?- Maitê perguntou com um tom áspero como se tivesse com medo da resposta.
- Marcia Cortez Menezes. - Thaisa engoliu seco ao falar o nome da mulher.
- Ela precisa pagar por isso, ela nunca pode engravidar. - Maitê tinha raiva em sua voz.
- Eu vou resolver isso, te prometo. - Thaisa disse a aninhando em seus braços como uma mãe aninha uma criança.
- Como era meu nome ? - Maitê questionou com os olhos voltando a encher de lágrimas.
- Elena. - Thaisa respondeu feliz ao poder repetir o nome que escolhera para a própria dona.
- É um nome encantador. - Maitê respondeu sorrindo pela primeira vez aquela noite.
- É desculpa atrapalhar vocês, mas o Zé tá falando pra voltarmos pra vila. - Julia falou sem graça por quebrar a bolha que havia formado entre elas.

Thaisa ajudou Maitê a se levantar e as três foram até o carro onde Zé e Lukas esperavam. O caminho de volta foi mais tranquilo, Thaisa e Julia cada uma de um lado de Maitê abraçadas.

Quando chegaram na vila de volta as meninas as esperavam impacientes e correram para um abraço. Naquele instante envolta nos abraços de quem amavam e que tinham se tornado familia as duas Daher tiveram a certeza que o caminho a seguir era longo e complicado mas que não estavam sozinhas.

Olá meus amores como estão? Aí está mais um capítulo desse mundinho que foi abalado.

Estamos na metade da história já da pra acreditar? Espero que estejam gostando e ainda tem coisa pra rolar.

Beijinhos e até o próximo.

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