Vazio

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Chego em casa exausto, tanto física quanto emocionalmente. O dia inteiro foi dedicado ao Rindou, indo e voltando do hospital, acompanhando cada atualização médica e tentando fazer o tempo passar de forma mais leve para ele, mas no fundo eu sei que nada disso é fácil. Assim que entro, o silêncio da casa me envolve, quase sufocante.

Cada degrau parece mais pesado que o anterior, como se a casa estivesse carregada com a ausência do Rindou. Caminho pelo corredor, a mão roçando levemente a parede enquanto tento manter o controle das minhas emoções. Finalmente, paro em frente àquela porta. Ela está fechada desde... nem sei mais quanto tempo. Respiro fundo, hesitante, mas sei que preciso enfrentar isso. Com um toque suave, giro a maçaneta e abro a porta.

O ar estagnado me atinge, junto com um cheiro sutil de algo familiar, talvez os equipamentos eletrônicos ou o café que Rindou sempre tomava ali enquanto editava seus vídeos. Dou um passo para dentro e, imediatamente, sinto meu coração se partir em mil pedaços. O estúdio dele. O lugar que costumava estar cheio de energia, onde a criatividade do Rindou explodia em formas de risadas, gritos empolgados, gravações que muitas vezes se estendiam madrugada adentro. Mas agora, o lugar está morto, como se todo o brilho tivesse sido drenado.

As luzes LED ao redor do setup estão apagadas, os monitores cobertos de uma leve camada de poeira. A cadeira gamer, onde ele costumava se jogar depois de um vídeo longo, está exatamente no mesmo lugar, só que vazia, solitária. Rindou não posta nada há meses. Não tem mais atualizações, nem stories engraçados, nem aqueles tweets bobos que ele adorava fazer. Tudo parou.

Sinto um aperto insuportável no peito enquanto caminho mais para dentro do estúdio. Passo os dedos pelo mouse que ele sempre usava, e quase posso ouvi-lo rindo, gritando alguma besteira para a câmera. Mas a risada está apenas na minha memória. Ele amava tanto isso, mas, nos últimos tempos, sequer olhou para esse lugar. A paixão que ele tinha foi sufocada pelos monstros internos que ele enfrenta.

Fecho os olhos por um segundo, tentando afastar as lágrimas que ameaçam cair. Abri essa porta com a intenção de, talvez, sentir um pouco da presença do Rindou, mas tudo o que encontro é vazio. A lembrança do que costumava ser. Eu daria qualquer coisa para vê-lo sentado nessa cadeira de novo, falando sobre o próximo vídeo, planejando novas ideias com aquele brilho nos olhos.

Mas agora tudo o que resta é silêncio, e uma saudade desesperadora do irmão que ele costumava ser. Deixo meus olhos vagarem por cada canto, tentando capturar todos os detalhes que o tornam tão único.

Os monitores continuam lá, as telas apagadas como se estivessem em luto, refletindo o vazio desse lugar. Não consigo evitar lembrar de quantas vezes entrei aqui e o vi concentrado, falando sozinho enquanto gravava, ajustando a luz para deixar a qualidade impecável, ou até mesmo rindo de alguma piada boba que fez durante uma livestream. A energia vibrante que antes preenchia esse espaço parece um fantasma agora, algo que ainda ecoa na minha memória, mas que não está mais presente.

As prateleiras estão abarrotadas com as coleções dele: action figures, miniaturas de jogos, quadrinhos que ele ama. Me lembro de como ele costumava ajeitar tudo com um cuidado quase obsessivo, querendo que cada detalhe estivesse perfeito para quando aparecessem no fundo dos vídeos. Mas, agora, há uma certa desordem, como se o estúdio estivesse refletindo o estado em que ele estava nos últimos meses, perdido, desorganizado... apagado.

Os pôsteres de filmes de terror continuam pendurados nas paredes. Clássicos como "Halloween", "A Hora do Pesadelo", e, claro, "Pânico". Meu olhar finalmente se fixa na máscara do Ghostface, pendurada ao lado dos pôsteres, solitária. Aquela máscara sempre foi um símbolo para o canal dele.

Era como ele se escondia, mantendo a identidade em segredo enquanto ainda conseguia se expressar plenamente através do conteúdo que produzia. Para o mundo, ele era um criador anônimo, uma figura enigmática que se escondia por trás de uma máscara sorridente e ao mesmo tempo aterrorizante. Mas, para mim, ele era só meu irmão.

Paixão Oculta (+16)Onde histórias criam vida. Descubra agora