Condições

22 4 0
                                    

Entro no hospital sentindo o peso das paredes frias ao meu redor. Hoje é dia de visitar o Rindou, e mesmo tentando me preparar mentalmente, nada ameniza a angústia que sinto no peito. Caminho pelos corredores como se cada passo fosse feito de chumbo, imaginando em que estado vou encontrá-lo dessa vez. A cada visita, a situação parece piorar.

Quando finalmente chego à porta do quarto, respiro fundo antes do médico inserir a senha e destravar a porta. Entro devagar, sem fazer barulho, e então o vejo. Rindou está sentado na cama, os joelhos dobrados e as mãos apoiadas no colchão. Mas o que realmente me perturba é o olhar vazio. Ele fixa os olhos em um ponto na parede, completamente imóvel. É como se ele estivesse preso em algum lugar distante, longe de qualquer coisa que possa alcançá-lo.

Chamo por ele com a voz baixa:

— Rindou? — mas ele não reage. Nenhuma piscada, nenhum movimento, nada. É assustador o quanto ele parece fora de si, como se sua mente estivesse em algum tipo de vácuo. Tento me aproximar devagar, com medo de que qualquer movimento brusco possa quebrar o frágil equilíbrio em que ele parece estar.

Sento na cadeira ao lado da cama e continuo a observá-lo, buscando algum sinal de que ele ainda está presente, que ele ainda está ali, mesmo que seja por um instante. Mas tudo o que vejo é aquele olhar distante, fixo, como se ele estivesse congelado no tempo. O silêncio no quarto é opressor, me fazendo sentir uma impotência enorme.

As mãos dele estão tensas, os dedos parecendo quase agarrar o colchão, mas ainda assim ele não se move. Eu gostaria de saber o que está passando pela cabeça dele, se ele consegue ouvir a minha voz, se há algo que eu possa fazer para trazê-lo de volta. Mas nada. Apenas aquele silêncio inquietante e aquele olhar fixo.

Um nó se forma na minha garganta. Rindou sempre foi alguém tão vivo, tão cheio de energia, mesmo com todas as cicatrizes que carrega. Ver ele assim, preso em sua própria mente, é devastador. Tento mais uma vez:

— Rindou, sou eu... o Angry. — minha voz sai baixa, quase um sussurro. Ele nem pisca.

O que mais posso fazer além de estar aqui, ao lado dele? Ficar ao lado de alguém que parece perdido em um labirinto de dor e escuridão, sem saber como guiá-lo de volta, é uma das coisas mais difíceis que já experimentei. E é assim que fico — sentado ao lado dele, esperando por algum milagre, esperando que ele olhe para mim, que volte a ser o Rindou que conheço.

De repente, uma enfermeira entra, segurando uma bandeja com alguns frascos e seringas. Ela faz seu trabalho com calma e precisão, como se isso fosse só mais um dia normal para ela, mas para mim, nada aqui parece normal.

Observo enquanto ela se aproxima do Rindou, que continua fixo no mesmo ponto na parede, completamente alheio ao que acontece ao redor. A enfermeira se inclina para ajustar o gotejamento do soro e verificar o acesso no braço dele.

— Ele está assim há quanto tempo? — pergunto, minha voz saindo hesitante. Preciso entender o que está acontecendo.

A enfermeira se vira para mim, sua expressão é triste, mas profissional.

— Infelizmente, ele teve que ser colocado em uma medicação mais forte. — ela começa a explicar. — Os episódios psicóticos dele estavam ficando cada vez mais intensos e perigosos, tanto para ele quanto para os outros ao redor.

Eu sinto um aperto no peito ao ouvir isso.

— Mas por que ele está desse jeito? Parece que ele nem está aqui...

Ela suspira, como se soubesse que é difícil para qualquer pessoa de fora entender.

— Esse estado que ele está agora é chamado de catatonia. É uma reação ao excesso de estímulos, e no caso dele, a combinação de traumas e a intensidade dos episódios psicóticos. Ele foi medicado com antipsicóticos mais fortes e sedativos para controlar a agitação. Esses medicamentos, apesar de necessários, deixam o corpo e a mente dele em um estado de quase paralisia. Ele está consciente, mas a capacidade de reagir ou interagir fica extremamente limitada.

Eu olho para o Rindou de novo, tentando assimilar o que ela diz. Então ele está consciente? Ele está preso dentro da própria mente, sem conseguir se expressar? Essa ideia me faz querer gritar.

A enfermeira continua:

— Os medicamentos que ele está recebendo agora são extremamente potentes. Além de controlar os episódios de delírio e alucinações, eles praticamente apagam qualquer atividade cerebral desnecessária para evitar que ele tenha mais crises. Só que, ao fazer isso, o deixam nesse estado de quase dormência, onde ele não consegue responder ou reagir a estímulos externos.

Eu fecho os olhos, tentando afastar o nó que se forma na minha garganta. Saber que o Rindou está assim por causa da dor que ele sente, dos traumas que carrega, me faz sentir impotente. Eu quero ajudar, quero fazer algo, mas estou preso ao papel de espectador, assistindo enquanto ele trava essa batalha sozinho, mesmo que seu corpo esteja aqui na minha frente.

— Existe alguma previsão de melhora? — pergunto, mesmo sabendo que a resposta provavelmente não vai ser reconfortante.

A enfermeira balança a cabeça, um gesto lento e cuidadoso.

— É difícil dizer. Com esse tipo de situação, depende muito de como ele vai reagir aos tratamentos. Pode demorar dias, semanas... às vezes mais. A ideia agora é estabilizá-lo o máximo possível, e então tentar diminuir a dosagem para que ele possa recuperar a capacidade de interagir. Mas é um processo lento, doloroso, e com altos e baixos.

Eu fico em silêncio. O que mais posso dizer? Rindou, que sempre foi tão cheio de energia e vida, agora está preso nesse estado, por causa de tudo o que carrega na mente e no coração. E eu só posso ficar aqui, segurando a esperança de que ele volte a ser quem era, mesmo sabendo que o caminho para isso é longo e cheio de sombras.

Paixão Oculta (+16)Onde histórias criam vida. Descubra agora