Estou sentado na sala de terapia, tentando me concentrar nas palavras da minha psiquiatra. A sala é confortável, com paredes em tons suaves de bege e móveis aconchegantes, mas nada disso realmente importa. O que importa é o que está acontecendo aqui, agora, na minha mente.
A psiquiatra, como sempre, começa com algumas perguntas diretas.
— Como você se sente hoje, Rindou? — é a mesma pergunta toda vez, e até pouco tempo atrás, minha resposta era sempre vaga, confusa. Mas hoje... hoje é diferente.
— Me sinto... um pouco melhor. — digo, com uma hesitação que não consigo esconder. É estranho admitir isso em voz alta, mas, de alguma forma, também parece certo. Pela primeira vez em muito tempo, parece que há um fio de luz atravessando a escuridão que eu me acostumei a viver.
Ela sorri de leve, anotando algo em seu bloco de notas.
— Você consegue identificar o que está te fazendo se sentir assim?
Fecho os olhos por um momento, pensando nas últimas semanas, horas e últimos dias e messes. Na visita do Ran, na forma como ele implorou para que eu continuasse lutando. Em Angry, que sempre tenta me animar.
— Eu acho... acho que é porque eles ainda acreditam em mim. Mesmo depois de tudo, eles ainda acreditam. — minha voz sai meio trêmula, mas é sincera.
A psiquiatra continua.
— E como você se sente em relação a isso? Essa expectativa deles te pressiona ou te motiva? — a pergunta dela é direta, mas eu percebo que não é um teste, ela realmente quer que eu pense sobre isso.
— Sinceramente... um pouco dos dois. — admito, passando a mão pelo cabelo. — Tem dias que me sinto sufocado, que quero que tudo simplesmente pare. Mas, ao mesmo tempo, saber que eles estão lá, que não desistiram... isso me dá um pouco de força. É complicado.
Ela acena com a cabeça, seus olhos demonstrando compreensão.
— É normal sentir essa dualidade, Rindou. O progresso nunca é linear, e o fato de você estar reconhecendo isso já é um grande avanço.
Respiro fundo. É estranho ouvir ela dizer essas coisas. Parte de mim ainda não acredita que estou melhorando, mas ao mesmo tempo, eu sei que alguma coisa está mudando dentro de mim.
— Eu... eu sei que ainda tenho um longo caminho pela frente. — começo, encarando as mãos. — Mas acho que estou conseguindo ver uma saída agora. Mesmo que ainda seja só um vislumbre.
— Isso é ótimo, Rindou. — ela diz com um sorriso genuíno. — Essa vontade de continuar, de encontrar uma saída, é um sinal de que você está realmente progredindo. Não é fácil reconhecer essas pequenas vitórias, mas são elas que fazem a diferença.
Sinto um leve aperto no peito, mas dessa vez, não é de desespero ou tristeza. É uma sensação estranha de esperança, como se um peso estivesse lentamente sendo tirado de cima de mim. Pela primeira vez em meses, começo a acreditar que talvez, só talvez, eu possa encontrar uma forma de viver sem carregar todos esses demônios.
A sessão continua, com ela me fazendo mais perguntas, me guiando pelos meus próprios pensamentos. E eu... eu consigo responder. Não com facilidade, mas com sinceridade.
O som do relógio na parede é o único ruído, cada tic-tac preenchendo os espaços vazios enquanto a psiquiatra me observa atentamente. Eu sei o que está por vir. Ela não precisa dizer nada, mas é como se eu pudesse ler a pergunta em seus olhos. Fecho os punhos, tentando me preparar para o que vem a seguir.
— Rindou, podemos falar sobre o acidente com a Anastasya? — a voz dela é calma, cuidadosa. Mas não há como isso não me atingir como um soco no estômago.
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Paixão Oculta (+16)
Fanfic[𝗢𝗯𝗿𝗮 𝗙𝗶𝗻𝗮𝗹𝗶𝘇𝗮𝗱𝗮] Rindou e Angry são opostos que se atraem, mas seus mundos internos são tão complexos quanto o labirinto de uma mente perturbada. Rindou carrega demônios interiores que o aprisionam em sua própria incapacidade de expre...