Estou sentado na cadeira, o olhar fixo no chão, sem realmente ver nada. As palavras ao meu redor são sons distantes, vozes que não fazem sentido. As mãos da médica tocam meu braço e me puxam, gentilmente, mas firmes. Me levanto devagar, os movimentos são lentos como se eu estivesse submerso em água. Minhas pernas se movem automaticamente, seguindo o caminho que ela traça.
Caminhamos por um corredor. As paredes parecem longas e brancas. Eu não sinto o tempo passar. Um pé após o outro, um passo após o outro. Não consigo lembrar onde estou indo. A médica murmura algo, sua voz é um som abafado que ecoa dentro da minha cabeça, mas eu não entendo.
Ela me guia para dentro de outra sala. A porta se fecha atrás de nós, um clique suave. Eu olho para frente. Há uma cadeira com uma mesa e outra cadeira no meio da sala. Uma luz fraca e branca ilumina o espaço. Não há nada além disso. Ela me guia até a cadeira, faz um sinal para eu me sentar. E eu me sento. O ar é pesado. Tudo é pesado.
Meus olhos piscam lentamente. Minha respiração é rasa, mal sinto o ar entrando. Minha mente está vazia, tão vazia quanto a sala ao meu redor. Estou aqui, mas ao mesmo tempo, não estou em lugar algum. Não sei quanto tempo se passa, não sei o que estou fazendo aqui. Estou simplesmente... esperando.
A médica está na minha frente, a boca dela se mexe, formando palavras que chegam até mim como um murmúrio distante. Ela parece esperar por algo — uma resposta, talvez — mas tudo que faço é continuar olhando para o nada.
Ela pergunta coisas. A voz dela é calma, profissional, mas não consigo entender. As palavras dela entram em meus ouvidos como um eco abafado. Sinto que ela fala sobre mim, sobre o que aconteceu, mas as frases se misturam, como se estivessem em outra língua. Minha mente tenta pegar cada palavra, mas elas escorrem como água entre meus dedos.
Ela faz outra pergunta, sua voz parece se suavizar, tentando ser mais gentil. Ainda assim, nada dentro de mim se move. Não consigo formar uma resposta. Nem sequer um som. Minha boca se mantém fechada, os lábios secos, trancados. Tento, em algum lugar dentro de mim, gritar, mas é como se houvesse uma barreira invisível, uma parede grossa de silêncio que me impede de reagir.
Ela continua a falar, as perguntas vêm em um ritmo constante, mas cada uma é apenas mais um eco sem sentido. Eu vejo os olhos dela, esperando por mim. Mas não tenho nada a dar. Nada que eu possa dizer. Eu ouço, mas não compreendo. É como se eu estivesse afundado em um sonho estranho, um pesadelo de palavras que flutuam sem destino.
Minha cabeça pesa. Tudo pesa. Não entendo por que estou aqui, por que ela continua tentando. Eu não sei como responder, mesmo se eu quisesse. As palavras não vêm. Apenas o silêncio permanece.
A médica continua falando, a voz dela é um zumbido constante em meus ouvidos. Palavras... mais palavras... e então, o som dela para. Por um momento, só há o silêncio entre nós. Eu olho para ela, confuso. Ela me observa atentamente, tentando entender o que não pode ser entendido.
Ela se inclina, pega algo em sua mesa — um papel. Uma caneta. Ela coloca os dois na minha frente, empurrando suavemente até eles estarem ao alcance da minha mão. Ela fala de novo, mais calma, quase num sussurro. Não consigo entender as palavras, mas sei que ela quer que eu faça alguma coisa. Ela aponta para o papel e para a caneta, seus olhos ainda presos nos meus, esperando.
Eu olho para o papel, branco e vazio. Olho para a caneta. Eles parecem tão pequenos na minha frente, tão irreais. Eu sinto o peso da caneta em minha mão quando a pego. O metal é frio contra a minha pele. Olho de novo para o papel... tão branco, tão puro. Não sei o que fazer.
Ela quer que eu desenhe o que eu sinto. Desenhar... o que eu sinto? Não sei como... não sei o que isso significa. Como eu poderia colocar o que está dentro de mim em um pedaço de papel?
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Paixão Oculta (+16)
Fanfiction[𝗢𝗯𝗿𝗮 𝗙𝗶𝗻𝗮𝗹𝗶𝘇𝗮𝗱𝗮] Rindou e Angry são opostos que se atraem, mas seus mundos internos são tão complexos quanto o labirinto de uma mente perturbada. Rindou carrega demônios interiores que o aprisionam em sua própria incapacidade de expre...