Construindo Relações

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Estou sentado no sofá, assistindo TV com Angry, quando olho para o relógio na parede e percebo que já deu o tempo da lasanha. É hora de tirá-la do forno. Me levanto do sofá, sentindo o calor suave da cozinha à medida que me aproximo.

Desligo o forno e cuidadosamente tiro a lasanha, colocando ela sobre a bancada. Com uma faca, parto a lasanha ao meio e coloco duas porções generosas em pratos. O aroma delicioso se espalha pelo ambiente, prometendo uma refeição reconfortante, mesmo sendo uma lasanha dessas pré prontas.

Deixo os pratos de lasanha na bancada e chamo Angry.

— A comida está pronta. Venha comer.

Ele aparece na cozinha rapidamente, com um sorriso no rosto.

—!Isso parece incrível, Rindou. Obrigado.

Sorrio de volta, satisfeito com o resultado.

— Nada demais, só algo simples.

Ele se senta à mesa, e eu faço o mesmo, colocando os pratos à nossa frente. Enquanto começamos a comer, sinto uma sensação de normalidade e conforto que não experimento com frequência, especialmente com ele.

— Está ótimo. — diz Angry, dando a primeira garfada.

— Que bom que gostou. — respondo, apreciando o momento.

Comemos em silêncio por um tempo, com a TV ainda murmurando ao fundo. Aproveito a tranquilidade e a companhia, sentindo que, por mais complexa que seja nossa relação, podemos aos poucos construir algo sólido e significativo, passo a passo.

Após o almoço, eu e Angry limpamos a cozinha e lavamos a louça. O som da água correndo e dos pratos sendo empilhados enche o ambiente, mas percebo que Angry parece estar meio entediado, seu olhar vagando pela janela de vez em quando.

Quando terminamos de lavar o último prato, eu me aproximo dele, enxugando minhas mãos com um pano.

— Aí, você quer jogar alguma coisa comigo? — pergunto, tentando trazer um pouco de diversão para o nosso dia.

Ele olha para mim, seus olhos animados.

— Claro, por que não? — responde, com um sorriso se formando em seus lábios.

Sorrio de volta e faço um gesto para que ele me siga.

— Então vamos para o meu quarto. Tenho alguns jogos lá.

Subimos as escadas e caminhamos pelo corredor, e eu me sinto um pouco ansioso, mas de uma maneira boa. Quando chegamos à porta do meu quarto, paro e me viro para ele, colocando a mão na maçaneta.

— Bem-vindo ao meu santuário. — digo com um sorriso brincalhão, antes de abrir a porta e convidá-lo a entrar.

Angry entra e olha ao redor, seus olhos percorrendo o ambiente. Meu quarto está cheio de pôsteres de bandas, filmes e jogos, e conta também com uma estante cheia de jogos e consoles organizados ao lado da TV.

— Uau, isso é incrível. — ele comenta, parecendo genuinamente impressionado.

— Escolha o que quiser jogar. — digo, gesticulando para a estante de jogos. — Se quiser, tem o PC também.

Ele examina a coleção por alguns momentos antes de pegar um dos meus jogos favoritos.

— Que tal este? — pergunta, mostrando a capa do jogo, "Silent Hill Downpour".

— Boa escolha. — respondo, enquanto pego o controle e ligando o console. Enquanto o jogo carrega, sentamos lado a lado na cama, prontos para começar. — Eu não me responsabilizo se você tiver pesadelos de noite, Souya.

— E quem disse que eu vou ter pesadelos? — ele diz confiante. — Não sou tão medroso assim, Rindou Haitani.

— Se você falou Rindou Haitani, é porque você está muito bravo. — falo rindo e ele revira os olhos.

— Você é incrivelmente sarcástico não é? Faz todo sentido você levar o título junto com o seu irmão de "irmãos simpáticos de Roppongi".

— É o meu charme.

E assim, o quarto se enche de risadas e provocações amigáveis enquanto nos perdemos a atenção no jogo. A atmosfera leve e descontraída é uma mudança bem-vinda, e sinto que estamos nos aproximando mais, descobrindo novos lados um do outro.

Me pego pensando nas minhas próprias crises de borderline e como elas podem afetar essa relação que está se formando.

Meus humores mudam rapidamente, e isso sempre foi um desafio, não só para mim, mas para todos ao meu redor. O pensamento de que uma crise minha pode afastar Angry me assombra. Eu não quero que minhas oscilações emocionais estraguem o que começamos a construir... de repente.

Olho para ele de soslaio, vendo como ele está tão concentrado no jogo, seu rosto iluminado pela tela da TV. Há uma leveza em sua expressão que me tranquiliza um pouco. Ele parece feliz, pelo menos agora. Mas e se eu tiver uma crise? E se meu humor mudar repentinamente e eu acabar afastando ele?

— Rindou, está tudo bem? — a voz do Angry me tira dos meus pensamentos. Ele deve ter notado minha distração.

Sorrio, tentando dissipar a preocupação em meu rosto.

— Sim, só me distraí por um momento. Vamos continuar. — falo e observo ele iniciando um novo jogo.

Ele me observa por mais um segundo, talvez tentando entender o que se passa na minha cabeça, mas decide não pressionar. Voltamos ao jogo, e por um tempo, tudo parece normal.

Mas enquanto jogamos, não posso deixar de desejar que minhas crises de borderline não afetem o que temos. Angry é uma pessoa até que legal e eu quero manter isso. Quero que ele veja além das minhas crises, que entenda que, apesar dos meus altos e baixos, estou tentando ser melhor, tentar manter uma relação saudável com ele, para a nosso bem e o bem dos nossos irmãos, que se amam incondicionalmente.

Talvez ele entenda, talvez ele seja paciente. Mas, no fundo, há sempre aquela dúvida. Eu só posso esperar que o que estamos construindo seja forte o suficiente para resistir às tempestades que inevitavelmente virão.

— Você vai ver, você vai levar muitos sustos durante esse jogo, já vou avisando. — digo, tentando manter o tom leve, enquanto observo ele a jogar.

Ele sorri, aceitando a provocação. E por enquanto, isso é o suficiente. Um passo de cada vez.

— Você é convencido demais, acho que as coisas que podem virar aqui, acho que você pode virar o menininho assustado. — ele diz rindo em tom provocativo.

— Eu já zerei esse jogo várias vezes, para ver todos os finais. Eu conheço esse jogo como a palma da minha mão, Souya Kawata.

— Veremos, Haitani.

— Vai na fé. — falo rindo e ele ri.

Paixão Oculta (+16)Onde histórias criam vida. Descubra agora