Visita Negada

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Eu e Smiley chegamos ao hospital, mais cedo do que o habitual. A intenção é de passar algum tempo com o Rindou, tentando distraí-lo, trazer um pouco de normalidade no meio de tanto caos. Mas assim que nos aproximamos da recepção, o olhar da enfermeira me deixa inquieto. Tem algo errado.

— Viemos visitar o Rindou Haitani. — digo com uma tentativa falha de parecer calmo.

Ela hesita, consultando a ficha dele no computador. Seu olhar preocupado me faz apertar as mãos com força, suprimindo a crescente ansiedade. Smiley, ao meu lado, troca um olhar rápido comigo, como se também estivesse captando a tensão no ar.

— Um momento, por favor. Vou chamar o médico responsável. — a enfermeira responde, antes de desaparecer pelo corredor.

Eu sinto meu coração acelerar. Essa demora, o jeito como ela nos olhou... algo não está certo. Olho para Smiley, que apenas cruza os braços, claramente impaciente. Quando o médico finalmente aparece, já tenho um nó na garganta.

— Olá, vocês são familiares do Rindou, certo? — O médico pergunta, olhando para nós dois com um ar sério.

— Sim, isso mesmo. Ele está bem? Podemos vê-lo? — pergunto de imediato, incapaz de esconder a ansiedade.

O médico suspira, parecendo escolher bem as palavras antes de continuar.

— Olha, eu preciso ser sincero com vocês. O Rindou não está nas melhores condições para receber visitas hoje.

— O que isso significa? — Smiley pergunta, estreitando os olhos.

O médico faz uma pausa antes de continuar.

— O Rindou teve um episódio muito intenso na última noite. Aumentamos a dosagem de alguns medicamentos para tentar estabilizá-lo, mas ele ainda está muito agitado. As alucinações e os delírios voltaram com força. Ele está confuso, falando coisas sem sentido, e, infelizmente, tivemos que recorrer a algumas medidas mais... restritivas para garantir a segurança dele.

Sinto um frio na espinha ao ouvir isso. Eu sabia que o Rindou não estava bem, mas não imaginei que as coisas tivessem piorado tanto.

— Medidas restritivas? — repito, quase num sussurro. — O que exatamente vocês fizeram com ele?

O médico me olha com uma expressão compreensiva, mas firme.

— Tivemos que sedá-lo e, infelizmente, restrições físicas foram necessárias por um tempo. Eu sei que isso é difícil de ouvir, mas é a única forma de evitar que ele se machuque ou agrave ainda mais a condição dele.

Meu coração se aperta com cada palavra. Imaginar o Rindou preso, amarrado como se fosse um perigo para si mesmo ou então dopado por remédios é quase insuportável. Eu olho para Smiley, esperando algum sinal de que ele vai sugerir algo, alguma solução, mas ele apenas olha para o chão, claramente tão afetado quanto eu.

— Podemos ao menos vê-lo? — pergunto, sabendo que a resposta provavelmente não será o que quero ouvir.

O médico balança a cabeça.

— Não hoje. Ele precisa de tranquilidade para estabilizar o quadro. Vocês poderão vê-lo assim que ele estiver em condições melhores para interagir, mas no momento, é importante evitar qualquer estímulo externo.

Fico ali, parado, tentando processar o que acabei de ouvir. A sensação de impotência é esmagadora. Eu queria tanto poder ajudar, estar lá para ele, mas parece que a cada dia que passa, ele está se afundando mais, escapando do nosso alcance.

Smiley coloca uma mão no meu ombro, como um gesto de apoio silencioso. Eu apenas assinto, aceitando que não há nada que possamos fazer agora, exceto esperar... o que me deixa aflito.

O médico nos pede para segui-lo de repente, e meu estômago revira de ansiedade. Noto que o caminho que fazemos não é o mesmo caminho de sempre. Os corredores parecem mais frios e a iluminação mais opaca. Sinto Smiley ficar tenso ao meu lado, mas continuamos andando em silêncio até chegarmos a uma porta de metal, pesada, com uma pequena janela retangular no centro e um painel de senha, que provavelmente destranca a porta após uma senha.

— Hoje, essa é a única forma que vocês vão poder ver o Rindou. — o médico diz com uma voz firme, mas com um traço de empatia. Eu aperto os lábios, já esperando pelo pior.

Eu me aproximo devagar, meus passos ecoando no chão como se o tempo estivesse desacelerando. O vidro da pequena janela é levemente embaçado, mas consigo enxergar lá dentro. Respiro fundo e olho. E o que vejo faz meu coração afundar.

Rindou está deitado na cama, encolhido como se quisesse desaparecer do mundo. Seu corpo está praticamente escondido debaixo dos cobertores, e tudo o que consigo ver são seus ombros subindo e descendo rapidamente, denunciando uma respiração pesada e descompassada. Ele parece estar em um sono profundo, mas não é um sono tranquilo. É como se até no inconsciente ele estivesse lutando contra algo, atormentado por pesadelos que não cessam.

Meu peito aperta tanto que quase dói fisicamente. Aquela imagem... esse não é o Rindou que eu conheço. Não é o cara que sempre trazia uma piada pronta, uma risada fácil. É como se tudo que ele era tivesse sido drenado, restando apenas esse corpo cansado e frágil, que parece lutar a cada segundo para simplesmente continuar existindo.

— Ele foi sedado? — Smiley pergunta ao médico, num tom de voz mais baixo que o normal.

— Sim. — o médico responde. — Tivemos que aumentar a medicação para acalmar a agitação e controlar os episódios psicóticos. Agora ele está em um estado mais profundo de sono para que o corpo e a mente possam descansar.

Eu fecho os olhos por um segundo, tentando segurar as lágrimas que ameaçam escapar. Mas como posso não chorar vendo Rindou assim? Não é justo. Nada disso é justo. Rindou não deveria estar passando por isso. Ele não merece esse sofrimento.

Volto a olhar pela janela, esperando que, de alguma forma, ele possa sentir nossa presença, que possa saber que estamos aqui, mesmo que só por essa visão distante e dolorosa. Tento mandar algum pensamento de força, de esperança. Mas a verdade é que, nesse momento, eu só consigo sentir um vazio, uma impotência esmagadora.

Eu só queria poder tirá-lo desse pesadelo, mas tudo o que posso fazer é observar e esperar.

Paixão Oculta (+16)Onde histórias criam vida. Descubra agora