Julgamento Parte II

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Uma semana depois.

O ar do tribunal estava pesado, sufocante, como se cada respiração exigisse um esforço sobrenatural. A tensão no ambiente era quase palpável, os olhares fixos no juiz que acabara de golpear o martelo com uma força que ressoou pelo salão. Cada eco daquela madeira contra a madeira vibrava dentro de mim, intensificando o peso das acusações que pairavam no ar como uma tempestade prestes a desabar. Um silêncio opressor dominava o espaço, interrompido apenas pelos sussurros ansiosos dos espectadores, suas sombras dançando nas paredes, refletindo a agonia coletiva.

Eu, Davi, estava sentado na primeira fileira, mas mal conseguia me manter presente. Minha mente repetia incessantemente o áudio que acabara de ser reproduzido, a voz de Eduardo era uma melodia sombria e insidiosa, penetrando meus ouvidos e cravando-se em minha alma. As palavras dele não deixavam dúvidas: eram frias, meticulosamente calculadas, e cada sílaba trazia à tona imagens de violência e morte. "Jansen", seu nome pairava como um fantasma em minha mente. Eduardo falava dele com um desdém brutal, sua voz pintando cenas de um suicídio cruel, um fim que eu sabia que ele havia planejado com precisão doentia. Minha pele estava gelada, um suor frio escorria pelas minhas costas, e eu fixava meus olhos em Eduardo, que se debatia, gritando, sendo contido pelos guardas.

O juiz, um homem de expressão dura e olhos fundos, olhava para Eduardo como se enxergasse nele a própria personificação do mal. "Sr. Eduardo Rispacks" a voz do juiz cortou o silêncio como uma lâmina afiada, "você é um criminoso perigoso. Não há dúvida sobre isso. A evidência apresentada hoje não deixa margem para qualquer outra conclusão." As palavras saíam de sua boca com uma solenidade que fez o ar vibrar ao redor. "O áudio foi analisado por peritos forenses independentes e foi considerado autêntico e não manipulado."

Eduardo se contorcia, seu rosto era uma máscara de escárnio e ódio. "Autêntico?" sua voz era um rugido de desprezo. "Vocês compraram esses peritos! Todos vocês estão no bolso de Davi!" cuspiu, suas palavras cheias de veneno, tentando se libertar dos guardas. "Isso é uma conspiração! Você, juiz, é apenas um fantoche!"

O juiz permaneceu imperturbável, ignorando as provocações.

- Com base nas provas e nas declarações já colhidas, além da nova evidência que aponta para o seu envolvimento direto na morte de Jansen, eu o condeno a cinquenta anos de prisão, sem a possibilidade de liberdade condicional.

O veredicto caiu como um golpe final, cada palavra impregnada de uma justiça implacável. A justiça não pode ser comprada, Eduardo. Nem pela força, nem pelo medo.
Bom, nem sempre!

Eu observei Eduardo enquanto as palavras do juiz o atingiam como uma marreta. Ele parou de lutar, seus olhos agora eram poços de raiva e desespero.

- Isso não acaba aqui! - Ele gritou, suas palavras soavam como um trovão no tribunal.
-Você, Davi! Eu vou te pegar, ouviu? Isso não acabou! Nenhum de vocês está seguro!"

Enquanto Eduardo era arrastado para fora do tribunal, seus gritos ecoando pelos corredores, senti meu corpo paralisar. As ameaças dele eram como facas, cortando minha pele, cada uma abrindo uma nova ferida. O terror se espalhava dentro de mim, mas o que me dominava era uma raiva feroz, algo que eu não sabia que era capaz de sentir. Eu queria gritar de volta, queria confrontá-lo, mas não consegui me mover, preso no meu próprio turbilhão de emoções.

Finalmente, quando consegui me forçar a levantar, saí do tribunal, quase tropeçando em meus próprios pés. Eu precisava de ar, de espaço. Lá fora, no corredor, vi Carlos. Seus olhos estavam úmidos, o rosto marcado pela preocupação e pelo cansaço. Quando nossos olhares se encontraram, ele abriu os braços, e eu corri para ele, me jogando em seu abraço. Senti seus braços fortes me envolvendo, e por um momento, toda a dor, o medo, as noites insones e as ameaças de Eduardo desapareceram. Só havia o calor de Carlos, sua presença sólida e real.

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⏰ Última atualização: Sep 11 ⏰

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