Eu não quero viver sem você.

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Davi saiu da sala, mas só quando ele saiu me dei conta de que não entreguei uma pasta com documentos para arquivar. Resolvo ir eu mesmo levar para ele. Entro na sala e ele está de costas. Aproximo-me devagar e toco em seu ombro. Ele se assusta.

- Davi, tudo bem?

- Sim, é que você me pegou desprevenido! - diz Davi.

- Me desculpe, não foi minha intenção! Por favor, arquive isso antes de sair. - Ele pega a pasta da minha mão.

- Sim, claro! - Ele parece estar nervoso com minha presença, mas não estava agindo assim minutos atrás.

- É impressão minha ou eu realmente te deixo desconfortável?

- Desconfortável eu? Não! É que você me assustou chegando assim em silêncio. Dou um passo à frente me aproximando dele, ele arregala os olhos com minha atitude e eu não consigo conter um meio sorriso. Ele está ofegante. Pelo que parece, eu mexo com ele também. Num súbito giro, ele me dá as costas na tentativa fracassada de manter o controle.

- Tem certeza?

- É claro que tenho certeza! - Dou um risinho sarcástico por conta do descontrole dele.

- Até amanhã, Davi!

- Até amanhã, Carlos!

Saio da sala, mas antes de fechar a porta, olho para ele, e ele está lá olhando para mim. Chamo o elevador e vou direto para o subsolo para pegar meu carro.

Antes eu só conseguia ver as semelhanças entre Davi e o J, mas agora só consigo ver o quão diferentes eles são. O J era muito dependente dos pais e de todos à sua volta, além de ser muito mimado, não conseguia fazer nada sozinho, e isso me deixava irritado. Mas Davi é forte, decidido, batalha pelas coisas que quer e não me fez uma só pergunta em relação ao trabalho. Não que o trabalho seja difícil, mas tem muitas coisas que demandam grande responsabilidade, e Davi o fez sem nenhum problema. Hoje fiquei receoso e resolvi confirmar eu mesmo meus compromissos, porém Davi já tinha feito tudo, elaborando um esquema de horários perfeito.

Eu ainda não consigo entender por que penso tanto nesse garoto. Quando estou com ele, todo o resto não importa, tudo se acalma, e eu me sinto em paz na presença dele.

É um turbilhão de sentimentos que estou sentindo. Do mesmo jeito que eu o quero perto, sinto que não devo mantê-lo próximo. Acho que, na verdade, tenho medo de que tudo comece a dar errado como da outra vez.

2 anos atrás

Eu não vi o J desde o jantar de quinta. Pelo que parece, ele ficou mesmo abalado com a minha brincadeira. O soco que ele deu no espelho só provou tudo o que eu já sabia: ele realmente gosta de mim. Mas até onde será que vai essa paixonite? Vamos descobrir.

Nos dias que se seguiram, ele voltou a frequentar minha casa, e eu o provocava sempre que podia. Passava só de sunga na frente dele, procurava malhar em casa todas as vozes em que ele estava lá. A princípio, ele parecia não se importar com o meu exibicionismo, mas sempre o pegava se escondendo em algum lugar me observando. Mas, conforme o tempo foi passando, ele começou a me perseguir novamente, sem se importar se eu sabia ou não que ele estava lá à espreita.

Eu tive que contar tudo para a Joana, que não parava de me perguntar o que tinha acontecido no dia do jantar, pois o J. tinha saído do banheiro com a mão direita sangrando e todos ficaram chocados. Ele disse que escorregou no banheiro por causa do piso molhado. Todos pareceram acreditar nele. disse

Quinta-feira, dia do jantar no restaurante

- Você precisa ter mais cuidado, meu filho! Olha só para sua mão, está toda cortada - disse a mãe de J.

Seu Poder Sobre MimOnde histórias criam vida. Descubra agora