say something, I'm giving up on you

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Acordei com o sol entrando pelas frestas das cortinas, aquecendo meu rosto. A primeira coisa que notei foi o vazio ao meu lado no sofá, onde Lucas havia dormido. Um suspiro escapou dos meus lábios. Ele já tinha saído. Me sentei, tentando dissipar a sonolência que ainda pesava em meus olhos, levantando em seguida e caminhando pela sala. Foi então que vi o bilhete sobre a mesa de jantar, uma caligrafia que conhecia tão bem: "Fui na padaria, já volto."

Dei uma risada silenciosa, imaginando se ele não tinha planejado isso para me deixar sem saída. A ideia de sair de fininho passou pela minha cabeça, mas ele tinha me feito deixar as sacolas no carro dele. Não era do feitio de Lucas esquecer essas coisas; na verdade, ele sempre teve uma memória impecável para detalhes que o interessavam.

Me permiti alguns minutos a mais no sofá, saboreando a tranquilidade da manhã. O ambiente estava silencioso, com apenas o som suave do vento balançando as árvores lá fora. Não durou muito. Ouvi o som do elevador se abrindo e, pouco depois, Lucas entrou com duas sacolas nas mãos, o cheiro do pão fresco invadindo o ar.

"Bom dia", ele disse, a voz carregada de uma alegria suave, natural.

Eu sorri, mas tentei esconder qualquer vestígio de carinho no meu rosto. "Eu preciso ir embora, Lucas", falei, me levantando.

Ele riu, um som caloroso que reverberou pelo cômodo, e perguntou: "Qual é o compromisso tão importante que você tem numa tarde de sábado?" O sarcasmo na sua voz era inconfundível, e eu não pude evitar revirar os olhos.

"Não importa, eu preciso ir", retruquei, tentando manter o tom casual, mas ciente de que ele sempre enxergava além das minhas palavras.

Ele se aproximou, colocando as sacolas sobre a mesa e me encarando com um brilho travesso nos olhos. "Eu te levo para casa, Verônica", disse, mas antes que eu pudesse respirar aliviada, completou: "Depois que você tomar café da manhã comigo."

Hesitei por um momento, avaliando a situação. Poderia inventar uma desculpa, mas qual seria o ponto? Nós dois sabíamos que, no fundo, eu não queria realmente ir embora. "Lucas...", comecei, mas minha voz saiu mais fraca do que pretendia.

Ele sorriu, um sorriso que parecia entender tudo o que eu não estava dizendo. "Vamos, Ve. Não precisa ser tão difícil. É só um café da manhã."

E foi esse "só" que me fez ceder. Porque com Lucas, nada era só alguma coisa. Havia sempre mais, nas entrelinhas, nas coisas que não eram ditas, mas sentidas. Suspirei, derrotada, mas o sorriso em seus lábios me fez perceber que, talvez, eu não quisesse ganhar essa batalha.

"Tá bom, mas depois você vai me levar pra casa."

Ele sorriu de volta, satisfeito, e começou a tirar os itens das sacolas. Sentindo o calor familiar e a segurança que sempre vinham com a presença dele, sentei-me à mesa, observando-o enquanto ele se movimentava pela cozinha com a destreza de quem sabia exatamente o que estava fazendo.

E ali, naquele instante, soube que não importava o quanto eu tentasse fugir, Lucas sempre encontraria uma maneira de me fazer ficar.

Assim que terminamos o café da manhã, como havia prometido, Lucas me levou para casa. A viagem foi silenciosa, mas não de um jeito desconfortável. Era aquele tipo de silêncio que compartilhávamos há anos, onde as palavras não eram necessárias para preencher o espaço. Quando chegamos ao meu prédio, ele insistiu em carregar as sacolas, apesar de eu protestar que podia fazer isso sozinha. "Deixa disso, Ve", ele disse, com aquele tom teimoso de quem não aceita um não como resposta.

Subimos juntos, e quando abri a porta do apartamento, Sombra apareceu quase imediatamente, o rabo eriçado de entusiasmo. Peguei o gato no colo, sentindo o calor e o peso familiar contra meu peito. Lucas riu ao ver a cena. "Ele está enorme", comentou, olhando para o gato com um misto de surpresa e carinho.

Tão Perto | Lucas InutilismoOnde histórias criam vida. Descubra agora