didn't mean to leave you and all of the things that we had behind

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O som do despertador invadiu o quarto e me arrancou de um sono pesado. Eu abri os olhos, mas a exaustão ainda pesava nas pálpebras, me forçando a fechá-los novamente por alguns segundos. Suspirei fundo, sentindo uma pressão estranha no peito. Quase como se a própria tarefa de abrir os olhos fosse demais. Estendi a mão e desliguei o alarme no celular, desejando poder ignorar o dia e voltar a dormir.

Sentei-me devagar na cama e esfreguei os olhos, soltando um bocejo longo e arrastado. Meu corpo parecia cansado demais, mas não era o tipo de cansaço que passava com algumas horas de sono. Era outra coisa, algo mais profundo. Meu cérebro parecia congestionado, pesado, como se estivesse tentando processar demais ao mesmo tempo.

"Como alguém que significa tanto para mim pode se tornar um estranho?" A pergunta se repetia, uma e outra vez. As palavras de Lucas da noite anterior não saíam da minha cabeça: "Nós não nos conhecíamos antes da viagem." O que ele queria dizer com aquilo? Como ele podia dizer algo assim? Era quase como se ele tivesse apagado cada pedaço da nossa história, como se tivesse decidido que eu não fazia mais parte da vida dele. Mas ele não estava errado, já que eu havia feito isso, mesmo que sem intenção, antes dele.

Eu balancei a cabeça, tentando afastar esses pensamentos. Não podia ficar pensando nisso agora. Mas isso... isso era diferente. Era doloroso de um jeito novo, como se parte de mim tivesse sido arrancada.

Levantei da cama, indo direto ao guarda-roupa. Me vesti de forma automática, como se meu corpo tivesse caído em uma rotina que minha mente não acompanhava. A calça legging preta, forrada com pelúcia por dentro, era perfeita para o frio. Puxei minhas botas e coloquei uma blusa preta de mangas compridas. O casaco, também preto, era o mesmo de sempre. Mas quando o vesti, percebi o quanto ele estava folgado. Franzi o cenho, puxando o tecido com as mãos.

"Eu emagreci?"

Era visível agora, embora eu tivesse evitado olhar por muito tempo. O casaco costumava me vestir bem, justo o suficiente para me aquecer, mas agora parecia flutuar no meu corpo. Não era sinal de saúde, era mais um indício do quanto a situação estava me consumindo por dentro.

Enquanto terminava de me arrumar, ouvi alguém bater na porta.

"Verônica, você tá pronta?" Era a Maju, com sua voz animada, como se tudo estivesse perfeito. "Estou indo tomar café da manhã."

"Já vou, Maju. Me dá só um minuto."

O som dos passos dela se afastando ecoou no corredor. Suspirei, me encarando no espelho. Meu reflexo me devolveu um olhar cansado, quase vazio. A viagem, que devia ser um momento de descanso, tinha virado um pesadelo. Eu estava presa ali com Lucas, tentando manter a fachada de que estava tudo bem, de que as palavras dele não me atingiam.

Eu ajeitei o cabelo, prendendo o que dava em um coque malfeito. Não importava. Eu não tinha energia para me preocupar com minha aparência. Só precisava sobreviver aos últimos três dias. Talvez houvesse alguma esperança de que as coisas mudassem... Mas, sinceramente, eu já não sabia se acreditava nisso.

Saí do quarto, ainda tentando sacudir a exaustão que parecia enraizada nos meus ossos. Quando entrei na cozinha, vi Maju sentada à mesa, com uma xícara de café nas mãos. Ela me olhou e abriu um sorriso caloroso, como se estivesse tentando me passar alguma paz.

"Bom dia! Como você tá?" A voz dela soava leve, mas havia algo a mais, um cuidado.

Eu ri, embora o som tivesse mais do que uma pitada de ironia. "Tô bem."

Sabia que Maju não ia comprar essa resposta, mas era a única coisa que eu conseguia dizer. Ela me observou por um momento, depois lançou um olhar rápido para o corredor, como se quisesse garantir que ninguém estivesse por perto para ouvir.

Tão Perto | Lucas InutilismoOnde histórias criam vida. Descubra agora