Tão Perto | Lucas Inutilismo

if I don't say this now, I will surely break

Eu estava afundada no sofá, zapeando pelos canais quando parei em um programa de culinária chileno. Não entendia uma palavra sequer, mas me divertia com a animação dos chefs, que gesticulavam como se estivessem explicando a coisa mais importante do mundo. Eu precisava me distrair de alguma forma. Mesmo assim, meus olhos teimavam em desviar de tempos em tempos para a cozinha, esperando que Lucas voltasse.

Depois do que aconteceu ontem, uma pontada de esperança insistia em aparecer. Ele tinha arriscado tudo para me buscar, me carregando no colo quando eu não conseguia andar. Só de lembrar do jeito como me segurou, firme e cuidadoso, meu coração dava uma leve acelerada. Talvez isso significasse que ele ainda se importava. Talvez ele não tivesse desistido completamente de mim... Certo?

Balancei a cabeça, tentando afastar esses pensamentos. Não fazia sentido alimentar expectativas. Ele continuava me tratando com uma certa frieza, distante, como se estivesse deliberadamente erguendo uma barreira entre nós. Talvez ele estivesse se protegendo. Talvez fosse eu que não queria enxergar o óbvio. De qualquer forma, eu precisava tentar. Ainda tínhamos a tarde inteira, e mesmo que Lucas não quisesse mais o que eu queria, talvez pudéssemos, ao menos, salvar a amizade. Isso era o que mais me importava, ou pelo menos o que eu tentava me convencer.

Meu tornozelo latejava. A cadeira onde eu o tinha apoiado estava me incomodando. Resolvi que precisava tirá-la dali. Peguei a muleta e, com certa dificuldade, me levantei, empurrando a cadeira com o pé. Claro, não estava conseguindo fazer isso direito, mas minha teimosia não me deixava desistir.

Foi então que ouvi a voz de Lucas atrás de mim. "O que você tá fazendo?"

Eu parei no meio do movimento, surpresa. "Quero colocar essa cadeira no lugar, tá me incomodando aqui."

Ele se aproximou, os passos rápidos e decididos. "Senta aí, você não devia se esforçar assim." A voz dele soava firme, mas sem a suavidade que eu esperava. Ainda havia aquela distância, aquele muro invisível entre nós.

Olhei para ele, tentando ler sua expressão, mas era o mesmo olhar impassível dos últimos dias. Ele colocou a cadeira no lugar e, antes que eu pudesse dizer algo, já estava se virando para voltar à cozinha.

Era agora ou nunca. Se eu não falasse nada, perderia a oportunidade. "Lucas?" Minha voz saiu mais nervosa do que eu gostaria, e imediatamente me xinguei mentalmente por isso.

Ele parou, ainda de costas, e então se virou devagar. "Já terminou de lavar a louça?"

"Por quê?" Ele me olhou curioso, o que me deixou ainda mais nervosa.

"Eu... eu tava pensando... a gente podia assistir a um filme ou... qualquer coisa, se você quiser." Senti minha voz tremendo e fechei os olhos por um segundo, tentando me controlar. "Só se você quiser, claro."

Lucas me encarou por alguns segundos, como se estivesse ponderando o que eu tinha acabado de dizer. Sua expressão suavizou um pouco, quase como se ele não estivesse esperando por essa sugestão. Finalmente, ele assentiu.

"Tá... Eu só vou terminar de guardar a louça."

Eu sorri, mais aliviada do que parecia. "Eu... vou tentar escolher alguma coisa pra gente assistir."

Ele deu um meio sorriso – aquele sorriso que eu não via há tanto tempo – e voltou para a cozinha. Assim que ele desapareceu de vista, eu soltei o ar que nem sabia que estava prendendo.

Talvez, só talvez, ainda houvesse uma chance para nós.

Mas Lucas demorou. Eu tentava manter a calma, mas a cada minuto que passava, meu coração afundava um pouco mais. Talvez ele não quisesse assistir comigo, talvez tivesse se arrependido de ter concordado. A ideia de ter me iludido começou a pesar, e eu me peguei encarando a tela sem realmente vê-la. Depois de um tempo, cansei de esperar.