leaving isn't better than trying

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O café quente não acolhia meu peito como eu esperava. Eu segurava a xícara, alisando a alça de cerâmica com o polegar, tentando, de algum jeito, encontrar conforto no gesto repetitivo. Mas tudo o que vinha à minha mente era como eu me sentia um completo idiota. Como eu tinha sido patético por acreditar que, de alguma forma, Verônica ainda gostava de mim. Eu realmente pensei que ainda havia algo lá, escondido sob toda a confusão e distância. Agora, parecia ridículo.

O chalé estava movimentado, cheio de vozes animadas que ecoavam no saguão. As pessoas estavam ali, vivendo suas vidas, como se a minha não estivesse desmoronando em câmera lenta. Eu estava preso na minha própria bolha de silêncio, lutando contra os sentimentos que insistiam em transbordar. Cada palavra que ela não disse, cada olhar que ela evitou desde o acidente, me deixava mais preso nessa espiral de desilusão.

Olhei para o bracelete no meu pulso, o presente que Verônica me deu em setembro, pouco antes de tudo ir por água abaixo. As miçangas coloridas — rosa, amarelo, azul, vermelho — pareciam me zombar. E, no meio de todas elas, a letra V gravada. Um lembrete constante de tudo o que tinha sido e o que nunca mais seria. Suspirei, resignado. Tirei o bracelete do meu pulso com um movimento lento, como se aquela ação tivesse algum peso simbólico. Deixei-o em cima do balcão, decidido a seguir em frente. Ou pelo menos, fingir que conseguia.

Dei o último gole no café, amargo e frio, e me levantei, já esquecendo do bracelete. Ou tentando esquecer. Eu me afastava quando ouvi alguém me chamar.

"Señor, olvidaste esto."

Virei-me e vi um rapaz desconhecido segurando o bracelete, estendendo-o para mim com um sorriso cordial. Ele tinha olhos gentis, mas não percebia o peso que aquela pulseira carregava para mim.

Tentei disfarçar o incômodo, mas não consegui recusar. Peguei o bracelete com um aceno de cabeça.

"Gracias", murmurei, sem conseguir fazer contato visual.

O rapaz se afastou, sem entender a batalha interna que ele acabara de interromper, e eu fiquei ali, com o maldito bracelete na mão de novo. Apertei-o contra a palma, xingando a mim mesmo mentalmente. Eu queria tanto me livrar daquele lembrete, mas não conseguia. Era como se cada vez que eu tentasse deixá-lo para trás, ele voltasse correndo para mim, como um fantasma que se recusava a ser exorcizado.

Suspirei, derrotado, e guardei a pulseira no bolso, sentindo o peso dela puxar minha alma junto.

"Você é um idiota, Lucas", murmurei para mim mesmo, sem esperanças de contestar.

Já fazia o quê, duas horas? Eu saí do quarto sem nem olhar para Verônica. Precisava de ar, de espaço. Só que agora, de volta na porta do quarto que ela alugou, eu passava o cartão e entrava. As luzes estavam acesas, mas ela não estava lá. A cama onde ela estava antes continuava levemente bagunçada, lençóis revirados, mas sem sinal dela. Meu primeiro instinto foi me preocupar. Onde ela foi? Está tudo bem? Mas, imediatamente, me forcei a ignorar isso. Era difícil, quase impossível, mas eu precisava parar de me importar tanto. Pelo menos, fingir.

Me sentei na outra cama, a minha, e tirei as botas, deixando-as no chão sem muito cuidado. Deitei, encarando o teto. Isso era insano. Eu podia muito bem pegar outro quarto só para mim, me poupar desse desconforto. Não fazia sentido continuar ali. Mas eu me peguei inventando desculpas. Não queria gastar mais dinheiro, só por uma noite. E além do mais, combinamos de dividir os custos. Ela pagou na hora, mas eu devolveria metade.

Onde ela está? E por que está demorando tanto?

Ouvi a torneira do banheiro. A água correu por alguns segundos, depois parou. A porta se abriu, e então lá estava ela. Verônica. Virada de frente para mim, e eu também, sem tempo de fingir que não tinha visto. E, sem censura, eu vi. O rosto dela. Inchado, com os olhos ainda brilhando de lágrimas. Ela tinha chorado. Muito. Foi por minha culpa? Essa cena me acertou como um soco. Ela parou por um segundo, surpresa.

Tão Perto | Lucas InutilismoOnde histórias criam vida. Descubra agora