'cause this house is not a home without my baby

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Eu estava exausto, física e emocionalmente. Minha mãe, Carla, me acompanhava em silêncio enquanto subíamos de elevador, ela carregava uma das malas e eu a outra. Ajudou-me sem que eu precisasse pedir, sempre atenta, sempre presente. Quando finalmente chegamos ao apartamento, parei na porta e soltei um suspiro pesado. "Obrigado, mãe", murmurei, tentando sorrir, mas a tristeza nascia sem controle.

Ela sorriu de volta, mas era um sorriso pequeno, carregado de preocupação. Aproximou-se e deu um beijo no meu rosto, como sempre fazia. "Quer que eu faça algo para você comer?" perguntou, a voz suave, quase como se tivesse medo de me perturbar.

"Não, mãe", respondi, balançando a cabeça. "Só quero ficar sozinho." Ela assentiu, tentando disfarçar a decepção, mas eu podia ver a tristeza em seus olhos. Ela não disse nada, apenas me deu um último olhar antes de se despedir e sair pela porta.

Quando ela foi embora, fiquei parado no meio da sala, sentindo o peso do silêncio se instalar. Tudo parecia fora do lugar, até mesmo o ar que eu respirava. Caminhei lentamente até o banheiro, como se cada passo exigisse um esforço enorme, e me despi sem pensar, jogando as roupas de qualquer jeito no chão.

A água quente escorria sobre mim, mas não trazia nenhum alívio. Enquanto me ensaboava, meus olhos caíram sobre o shampoo e o condicionador que Verônica usava quando dormia aqui. As embalagens coloridas estavam ali, intocadas, como se esperassem por ela. Meu peito apertou, e eu fechei os olhos, tentando afastar as lembranças. Mas elas eram teimosas, insistentes. Verônica rindo no sofá, Verônica cantando na cozinha, Verônica aninhada em meus braços.

Saí do banho ainda mais tenso do que antes. Peguei a toalha e comecei a me secar, mas parei ao ver o elástico de cabelo dela em cima da pia. Pequeno, preto, simples. Eu o segurei na palma da mão, apertando-o com força. Era como se aquele pequeno pedaço de borracha carregasse todo o peso das coisas que eu perdi.

Bufei, soltando o elástico de volta na pia, e fui para o quarto me vestir. Coloquei qualquer roupa, uma calça de moletom e uma camiseta velha, e voltei para a sala, decidido a desfazer as malas. Pelo menos, ocupar as mãos ajudaria a silenciar a mente, nem que fosse por alguns minutos.

Enquanto tirava as roupas e objetos da mala, uma pequena caixa da Vivara caiu, fazendo um barulho seco ao atingir o chão. Eu parei, sentindo um calafrio percorrer minha espinha. Peguei a caixa com cuidado, o couro salmão macio sob meus dedos, e a abri. Lá dentro, as duas alianças que eu comprei para nós. A dela tinha uma pequena pedra de zircônia, discreta, quase imperceptível, mas que refletia a luz de uma maneira que eu sabia que ela iria adorar. Sempre gostei de como ela apreciava os detalhes sutis, as coisas simples.

Eu ri, mas foi um riso amargo, sem alegria. "Que ironia, não?" murmurei, sem esperar uma resposta. Agora que finalmente estávamos prontos para isso, para nós, para esse passo... ela simplesmente não se lembrava mais. De mim, de nós, de tudo o que passamos juntos.

As imagens do acidente vieram à tona, aquele instante congelado no tempo, o som dos pneus derrapando, o impacto brutal. A culpa me corroía. Tentei achar um outro culpado, talvez aquelas pessoas, os comentários maldosos na internet desejando o mal para ela? Ou talvez... talvez nós simplesmente não fôssemos feitos para ficar juntos, não importa o quanto tentássemos.

Segurei a aliança dela entre os dedos, olhando para aquela pedra minúscula que tanto significava. "Verônica..." sussurrei, mas a palavra morreu no ar, sem força, sem direção. Não importava mais, nada mais importava. Ela havia se esquecido de mim, de nós. E eu... eu estava perdido, flutuando em um vazio que não sabia como preencher.

Os dias seguintes se transformaram em uma névoa densa e impenetrável. Eu me movia através dela no automático, sem realmente estar presente. Acordava, comia qualquer coisa, e me trancava no escritório para trabalhar nos vídeos dos covers que Verônica e eu havíamos gravado juntos. Cada vez que editava um trecho, era como cravar uma faca no peito, mas, ao mesmo tempo, era a única coisa que me fazia sentir algo, mesmo que fosse dor.

Tão Perto | Lucas InutilismoOnde histórias criam vida. Descubra agora