Os dias após aquela discussão horrenda foram mais silenciosos do que eu imaginava. Silenciosos, mas pesados. Eu ainda estava doente, febril e vulnerável. Lucas perguntava se eu precisava de alguma coisa. "Quer que eu vá na farmácia? Quer sopa? Chá?" Ele tentava me ajudar de qualquer maneira possível. Eu sabia que era sua forma de tentar consertar as coisas. Mas eu não queria. Na verdade, não conseguia. Cada tentativa dele só fazia a dor em mim aumentar, e a ideia de me mudar se tornava cada vez mais real. Então, eu continuava recusando.
"Não, obrigada. Eu estou bem", eu dizia, mesmo quando não estava.
Quando melhorei da febre e da gripe, Lucas ainda tentava. Ele preparava o café da manhã, deixando o aroma de café fresco pela casa. Fazia pequenas gentilezas, como lavar a louça ou comprar doces e besteiras pra mim, mesmo as que ele não gostava. Tudo o que ele sempre fez. Mas dessa vez, não havia o conforto de antes. Eu me fechava mais a cada gesto dele, e eu sei que ele sentia isso. A dor no rosto dele era visível. E em algum momento, ele simplesmente... desistiu.
Eu percebi no olhar dele. Aquele olhar que antes brilhava com um toque de esperança, aos poucos se apagou. E então, Lucas começou a sair de casa mais cedo, a voltar cada vez mais tarde, ou simplesmente não voltava. "Vou para o estúdio", ele dizia. "Vou passar na casa da Gabi." E eu não contestava. Não queria que ele ficasse. O silêncio era sufocante quando ele estava aqui.
Houve uma noite em que ele não voltou para casa. E depois outra. E mais outra. Ninguém sabia da situação entre nós. Eu preferi assim. Preferi carregar essa dor sozinha, em silêncio.
Maju me mandava mensagens, tentando combinar algo para o fim de semana. "Vamos sair? Um barzinho, quem sabe? Você parece meio sumida." Eu inventava desculpas. "Ah, não estou muito no clima. Talvez na próxima."
Até Marcelo, sempre atento, me ligou para saber se estava tudo bem. "Ei, você tá sumida. Tudo certo aí? Lucas também está meio ausente." Eu respondia com meu tom mais casual possível. "Sim, tudo certo. Só estamos ocupados com as nossas coisas. Normal, sabe?" Eu mentia, porque era mais fácil. Não queria que ele ficasse preocupado, que começasse a fazer perguntas.
Mas a verdade era que eu estava cansada de mentir. Cansada de me esconder. Eu estava cansada da guerra que travava dentro de mim mesma.
Na semana da mudança, Lucas não pisou em casa nem uma vez sequer. O meu quarto estava ficando vazio aos poucos, caixas se empilhavam nos cantos, e cada vez que eu olhava para a porta, uma parte de mim esperava que ele entrasse. Eu queria que ele voltasse, talvez até me ajudasse a empacotar. Quem sabe, no meio das caixas, a gente pudesse ao menos se despedir. Mas a porta nunca se abriu, e Lucas nunca veio.
Enquanto eu colocava as últimas coisas na mala, comecei a sentir aquele arrependimento rastejando. Será que tudo precisava ter chegado a esse ponto? A distância, o silêncio, o orgulho, tudo parecia tão sufocante agora. Eu queria ir embora, mas ao mesmo tempo, uma parte de mim estava sendo dilacerada. E o pior era que eu sabia que já era tarde demais para voltar atrás.
Quando Maju soube que eu estava me mudando, ela ficou chocada. "Você vai se mudar? Por que você não me contou antes?" Eu tentei explicar que era uma coisa repentina, uma decisão que precisava tomar. Ela parecia preocupada, mas tentava esconder isso com um sorriso. "Bom, pelo menos agora a gente vai morar perto! Isso vai ser ótimo!"
Rafael também apareceu para ajudar, sempre prestativo. "Você tem certeza disso, Vê?" ele perguntou, enquanto me ajudava a carregar uma caixa pesada para o carro. Eu apenas balancei a cabeça, evitando seu olhar. "Sim, tenho." Mas por dentro, a incerteza me corroía.
Eu também chamei o Marcelo. Ele apareceu com aquele jeito cuidadoso de sempre, mas percebi que ele estava desconfiado. "Tá tudo bem mesmo?" ele perguntou, observando meu rosto enquanto empilhava mais uma caixa. "Lucas não vai aparecer para ajudar?"
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Tão Perto | Lucas Inutilismo
FanfictionVerônica e Lucas, amigos inseparáveis, compartilham uma conexão única desde o momento em que se conheceram. Ao longo dos anos, sua relação evolui entre altos e baixos, com memórias compartilhadas, momentos inesquecíveis e decisões difíceis. O que co...