if our grave was watered by the rain would roses bloom?

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Quando o dia da viagem finalmente chegou, me senti paralisada. Eu sabia que era ridículo estar assim, mas o nervosismo tinha tomado conta de mim de uma forma que mal conseguia levantar da cama. A viagem em si não era o problema. O verdadeiro motivo do meu pavor era o fato de que, desta vez, eu não conseguiria fugir do trajeto de carro até o aeroporto. O transporte público não era uma opção com as malas que eu precisava carregar. Só a ideia de entrar no carro me deixava ansiosa.

Já tinha tomado minha medicação pra tentar me acalmar, mas ela parecia inútil agora. O coração continuava disparado, as mãos suando. Fui até a cozinha e comecei a escrever um bilhete para a babá que viria alimentar o Sombra enquanto eu estivesse fora. A caneta escorregava dos meus dedos, e por um momento, pensei que não conseguiria terminar.

Olhei pro Sombra, que me encarava com aquela serenidade típica dos gatos, como se não tivesse a menor ideia do caos que se passava dentro de mim.

Recebi uma mensagem da Maju no celular: "Estamos aqui embaixo. Pode descer."

Engoli em seco. Era agora. Respirei fundo, dei uma última olhada no Sombra, e me abaixei para abraçá-lo, sentindo o pelo macio sob meus dedos. "Cuida bem da casa enquanto eu estiver fora, ok? Te amo, meu filho." O ronronar dele era reconfortante, mas não o suficiente pra acalmar a tempestade no meu peito. Com uma última fungada, me afastei, peguei as malas e travei a porta.

No elevador, o silêncio era ensurdecedor. Meu coração batia tão rápido que eu tinha certeza de que alguém ouviria se estivesse ali comigo. Por que eu estava tão nervosa? Eram só alguns minutos até o aeroporto, certo? Na verdade levava mais de uma hora, mas eu tentava afastar esses pensamentos a todo instante.

Antes de sair, fui até a portaria e deixei a chave com o Seu João, o porteiro. Expliquei que uma moça chamada Suelen viria buscar a chave para cuidar do Sombra, meu gato, enquanto eu estivesse fora. Seu João assentiu com aquele sorriso tranquilo de sempre, mas eu estava longe de me sentir em paz.

"Ela deve vir por volta das 10h", falei, tentando soar normal, mas minha voz estava tremida.

"Pode deixar, Verônica. Boa viagem", ele respondeu, sem perceber meu nervosismo crescente.

Sorri e, com um aperto no peito, saí pela porta de vidro, trêmula. O ar frio da manhã me atingiu, e ao olhar para frente, vi Maju sair do carro que era maior do que eu esperava. Um SUV preto, imponente. Só de vê-lo, estremeci. Maju caminhou até mim com um sorriso confiante.

"Tá tudo bem, Ve", ela disse, sua voz suave e compreensiva. Mas eu sabia que ela percebia minha agitação.

"Maju, posso desistir?", perguntei, a voz quase um sussurro. Eu sabia que a resposta seria não, mas eu precisava perguntar. Precisava de uma saída, qualquer coisa que me livrasse daquilo.

Ela balançou a cabeça, ainda sorrindo. "Desistir não é uma opção. Vamos, você vai ficar bem."

Suspirei, quase choramingando de frustração. Minhas pernas pareciam feitas de chumbo enquanto eu caminhava até o carro. Rafael já estava lá, pronto para ajudar com as malas. Ele só sorriu pra mim me cumprimentando com um aceno, e simplesmente abriu o porta-malas e começou a colocá-las lá, o que era um alívio. Eu não precisava de mais gente me perguntando se eu estava bem. Eu não estava, e isso era óbvio.

Entrei no carro devagar, sentindo o receio crescer. O cheiro de couro novo, o silêncio abafado, tudo contribuía para o aperto que tomava conta de mim. Me sentei atrás do motorista, e Rafael, sem falar nada, foi para o banco da frente. Maju entrou ao meu lado, e o clique da porta se fechando soou como um martelo na minha cabeça. Meu coração começou a disparar, e eu sabia que não conseguiria mais escapar.

Tão Perto | Lucas InutilismoOnde histórias criam vida. Descubra agora