VENICE FAZ 15

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A primeira coisa que se sabe da vida é que não se sabe de nada. Em um dia, Pete estava lá, assinando seu contrato, e agora estava aqui, ouvindo seu filho. Ele iria fazer 15 anos. Quinze anos atrás, Pete estava nos braços de um homem que jurava que nunca mais veria. Engano. Ele via Vegas todas as vezes que olhava para Venice.

Venice estava numa fase difícil. Não. Pete estava numa fase difícil. O filho queria saber sobre o pai, e para se livrar ou amenizar a situação, Pete disse que não sabia quem era. Essa mentira deveria ter acalmado Venice, mas teve o efeito contrário, tornando-o ainda mais revoltado.

O que estava amenizando a tensão era o fato de o aniversário de Venice estar próximo. Tay viria em breve. O celular de Pete tocava, mas ele não conseguia ouvir. Tay estava ligando para Pete, perdido em meio às lembranças dos últimos acontecimentos.

Tay chegou em casa feliz. Ele tinha uma surpresa, algo que manteve em segredo, e agora poderia finalmente compartilhar. Encontrou Tem e Time juntos, como sempre. Beijou-os com amor, sentindo uma ansiedade crescente. Ele não tinha contado a ninguém, mas tinha participado de um importante processo seletivo e passado. Aquilo mudava tudo. Além de estar financeiramente melhor, ele não precisaria mais viajar tanto; trabalharia de casa, com poucas viagens. Essa conquista também fez com que Tay decidisse que era hora de engravidar. Ele fez o teste de ovulação, mesmo sabendo que geralmente  Beta não tinha problemas com fertilidade. Até já havia deixado de tomar o anticoncepcional.

Agora, ele fazia parte da alta gestão aérea. Tem e Time também haviam sobrevivido à residência médica. Mesmo que não fossem escolhidos para o hospital mais conceituado, ainda assim estariam em um ótimo hospital.

Quando encontrou os dois reunidos, imaginou que estariam prontos para dar a notícia sobre o resultado do hospital.

— Nossa, estavam me esperando — disse, sentando-se e deixando a mala de lado. — Saiu o resultado do hospital?

Tem balançou a cabeça, e Time respondeu:

— Passamos.

Tay, em um gesto automático, abraçou os dois com força, sem notar a rigidez em seus corpos. Seu coração acelerado pensava no futuro, nas mudanças que isso traria para todos eles.

— E quando iremos? Precisamos procurar um apartamento. Dessa vez, seria bom um mais afastado. Tenho medo de que os vizinhos escutem quando transamos...

Sua voz foi ficando mais animada conforme falava, mas ele logo foi interrompido por Tem.

— Eu e Time teremos que ir logo — disse Tem, hesitante, o peso das palavras refletido em seu tom de voz.

Tay riu suavemente, sem perceber o que estava por vir.

— Ah, não tem problema. Posso ir depois. Consigo ajeitar as coisas aqui... — Ele puxou o celular, procurando o anúncio de sua promoção, mas algo no silêncio deles o fez parar.

Time limpou a garganta, sua expressão era de quem carregava uma carga insuportável.

— Tay... será eu e Tem nessa fase da vida.

A frase pairou no ar por alguns segundos, congelando o tempo ao redor de Tay. Ele ergueu os olhos lentamente, encarando os dois homens à sua frente.

— O quê? — Sua voz saiu em um sussurro, como se ele não pudesse acreditar no que acabara de ouvir.

— O hospital é um dos melhores — começou Time, tentando manter a calma, mas seu tom era distante. — Mas tem suas regras... e normas. Eles esperam um tipo específico de... imagem. Você sabe, é uma instituição tradicional, com uma família aristocrata no comando...

Tem tentou intervir, sua voz cheia de culpa.

— Tay, você sabe o quanto significa para nós, mas... para ser aceitos, precisamos nos adequar a essas expectativas. Eles não... aceitariam nós três juntos.

Tay piscou, como se estivesse tentando acordar de um pesadelo. Ele repetiu as palavras em sua mente, tentando dar sentido àquilo.

— Então, entre o amor da sua vida e a profissão, vocês escolheram a profissão? — Ele falou com uma calma assustadora, mas a dor começou a se infiltrar em cada palavra. — Estamos juntos há quase 9 anos... passamos por tantas coisas. Eu estive ao lado de vocês durante a residência, nos momentos difíceis. E agora, quando finalmente poderíamos ter o que sempre sonhamos, vocês... me descartam? Eu sou apenas uma bagagem a ser despachada?

Tem começou a chorar, enquanto Time parecia lutar contra as próprias lágrimas.

— Tay, nós nunca quisemos que fosse assim...

Mas Tay não os escutava mais. Sua mente estava inundada de lembranças e expectativas despedaçadas. Ele pensou em como estava prestes a começar uma nova fase, talvez até engravidar e construir uma família com aqueles dois homens. Mas agora... tudo isso parecia um sonho distante e impossível.

— Vocês estão certos. — Tay falou, sua voz controlada, mas com uma frieza que cortava como uma lâmina. — Entre o amor da sua vida e a profissão, escolheram a profissão. Ainda bem que eu também escolhi. Agora, quero que saiam da minha casa. E dessa vez, levem suas malas quando saírem. Não quero vê-las aqui quando eu voltar.

Ele se levantou, ignorando os protestos desesperados de Tem e Time, e pegou as chaves do carro. Sua cabeça estava uma tempestade de pensamentos, mas todos apontavam para uma única verdade: ele estava sozinho. Mais uma vez.

Tay saiu sem olhar para trás, seus passos firmes, mas seu coração em pedaços.

Enquanto dirigia, as lembranças de tudo que viveram juntos o assombravam. Cada sorriso, cada lágrima, cada momento que ele pensava ser eterno, agora parecia nada além de fragmentos de uma história que chegava ao fim.

O telefone tocava no viva-voz, e Pete finalmente atendeu.

— Pete... — A voz chorosa de Tay deixou Pete assustado. — Está acontecendo de novo, e dessa vez, eu preciso muito de você.

Foi então que, em meio ao desespero, o carro de Tay saiu da curva e colidiu com o pilar de proteção.

E depois, o caos.

A colisão foi seguida pelo caos, e o medo tomou conta de Pete. Sem pensar duas vezes, ele pegou o primeiro voo para a capital, levando Venice e o avô junto. Venice chorava, preocupado com Tay, enquanto o avô tentava esconder sua própria preocupação por todos.

Agora, os três se encontravam na sala de espera de um hospital, a tensão no ar era quase palpável. Quando o médico finalmente chamou, todos se levantaram ao mesmo tempo, ansiosos por notícias.

— Ele está bem — informou o médico, com um tom tranquilizador. — O susto foi grande, mas ele está bem. A tomografia não mostrou nada preocupante, e ele está consciente agora.

Assim que a porta do quarto foi aberta, Venice correu para os braços de Tay, que o envolveu em um abraço forte, ignorando a dor que sentia.

— Não chora, meu bem. Eu estou bem. Um pouco machucado, mas bem — disse Tay, tentando acalmar o jovem.

— Nunca mais faça isso. Nunca mais — Venice suplicou, ainda abraçado a Tay, com lágrimas nos olhos.

A liberação para a alta foi assinada em silêncio, com todos ainda abalados pelo susto. Tay, querendo evitar mais confusões e complicações, alugou discretamente um apartamento pelo Airbnb, pedindo para que ninguém informasse a Tem e Time  sobre o acidente. Ele precisava de tempo para processar tudo e decidir o que faria a seguir.

Depois Daquele Carnaval - Pete E VegasOnde histórias criam vida. Descubra agora