AQUELE BRASILEIRO

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Deus era justo, e talvez por isso, assim que os dois saíram da frente dos meninos, Vegas puxou Pete bruscamente, encostando-o na parede do supermercado com uma urgência que fez o coração de Pete disparar.

— Esse menino é meu filho? — Vegas perguntou, a voz firme e os olhos cravados nos de Pete.

Pete, sem saber como fugir daquela situação, tentou desviar com uma resposta evasiva, respirando fundo.

— Não entendo muito bem seu português  — respondeu, tentando ganhar tempo.

Vegas não se deixou enganar. Aproximou-se ainda mais:
— Vou te perguntar em três línguas, e me responda em qualquer uma delas, mas me responda — Vegas insistiu, o tom mais sério do que nunca.

— Esse menino é meu filho?

— Is this boy my son?

— เด็กคนนี้เป็นลูกของฉันหรือเปล่า? (Dèk khon ní bpen lûuk khǎng chǎn rǔe plàao?)

Pete se viu encurralado. Não havia mais como escapar. Ele desviou o olhar por um momento, o peso da pergunta pairando sobre ele como uma tempestade iminente.

— Não — mentiu, a voz um pouco trêmula. — Ele não é seu filho. Ele é meu filho. E tire suas mãos de mim! Na sua cultura, isso pode até ser normal, mas aqui não é assim que funciona.

Vegas percebeu o quanto apertava o braço de Pete e afrouxou o toque. Ali, naquele supermercado lotado, não era o lugar para essa conversa. Pete estava fugindo, e ele sabia que não conseguiria arrancar a verdade naquele momento.

Vegas então respirou fundo, recuando um pouco.

— Esse é meu endereço — disse, entregando um cartão,desses que o próprio condomínio fornece — Esteja lá às cinco, e esteja preparado para falar a verdade... ou então...

Pete cruzou os braços, desafiador.

— Ou então o quê? — retrucou.

— Ou então vou arrancar a verdade dele — Vegas ameaçou, o olhar frio.

Pete sorriu de lado, mas seus olhos eram de gelo.

— E eu arranco outra coisa sua. Além de não fazer mais filhos, vai ficar sem mijar.

Sem esperar resposta, Pete virou-se e voltou para dentro do mercado, os passos firmes e decididos, deixando Vegas furioso. Se ele pudesse, teria dado ao menos um tapa em Pete, só para acalmar o sangue que fervia em suas veias. Mas ele se conteve. Odiava o Brasil... e odiava um brasileiro em particular.

De volta ao mercado, Pete se esforçou para manter a calma. Continuou conversando um pouco com Macau, ao lado de Venice e seu pai. Quando se despediram, ele nem sequer olhou para Vegas. Estava abalado, mas seu treinamento como comissário serviu para alguma coisa: manter a calma em momentos de crise.

No caminho de volta para casa, Pete escutava Venice falando sobre as novas pessoas que havia conhecido, a mente parcialmente distraída, tentando absorver tudo o que havia acontecido naquele encontro inesperado. Quando chegou, percebeu que Tay não estava em casa. Ele então viu a mensagem que Tay havia mandado, avisando que tinha saído.

Pete suspirou. Tay e Venice: os dois estavam determinados a deixá-lo louco. Venice não parava de falar sobre o “povo novo” que conheceu, e Tay... bem, Tay, que precisava de repouso, havia saído sem avisar.

Assim que Venice sumiu em direção ao quarto, Pete fechou a porta da sala e pegou o telefone. Chamou o pai para uma conversa.

— Pai... Eu nunca te contei sobre o pai de Venice — começou, a voz baixa e pesada de hesitação.

Depois Daquele Carnaval - Pete E VegasOnde histórias criam vida. Descubra agora