ENCONTRO DO PASSADO

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Quando o dia amanheceu, Pete se dedicou a organizar as coisas de Tay. Era sua vez de mimar o amigo que, apesar do acidente, parecia quase intocado, exceto pela proteção no pescoço, que era o único sinal visível do ocorrido.

Venice, por outro lado, estava encantado com a casa. Mas quando Tay finalmente saiu do quarto, Pete teve que piscar duas vezes para reconhecê-lo. Sem maquiagem, ele parecia um garoto, quase irreconhecível.

— Só vocês têm permissão para me ver sem maquiagem, entendido? — disse Tay com um sorriso travesso, mas os olhos diziam que era sério.

— Você continua lindo, tio. Igual a um raio de luz — Venice respondeu, puxando Tay para um abraço afetuoso.

— Nossa, que rapaz mais gentil — Tay comentou, tocado.

De repente, Venice se lembrou de algo e olhou para Pete, um brilho de excitação nos olhos.

— Pai, lembra daquele amigo que conheci? Ele me perguntou se eu poderia encontrá-lo no supermercado. Disse que tem uma coisa pra me mostrar.

Pete trocou um olhar preocupado com Tay. Na cidade onde moravam, Venice era livre para explorar, mas aqui, as coisas eram diferentes. A desconfiança de Pete crescia como uma sombra.

— Então eu vou com você. Eu e seu avô. Tenho mesmo que comprar comida de gente para esta casa — disse Pete, em um tom que não deixava espaço para discussão.

Tay apenas ergueu os dedos em um gesto despreocupado, mas seu sorriso era astuto.

— Ei, eu sofri um acidente, não tive tempo para fazer compras. — Ele puxou Venice para mais perto. — Deixa eu ver esse menino... Quinze anos. Nem parece que te vi nascendo. Vão lá, vou ficar aqui pensando no que vou fazer primeiro.

Pete, Venice e o avô de Venice seguiram para o mercadinho do complexo. O amigo de Macau já estava à espera no restaurante local.

— Pode ir, Venice, ele está ansioso. Eu só vou pegar a água de Tay. Você sabe como ele é exigente — disse Pete, enquanto Venice e o avô se afastavam.

Enquanto Pete pegava a água, viu de longe Venice abraçar o amigo, o que o fez sorrir. Mas então, algo chamou sua atenção. Uma figura se aproximava do grupo. Estava mascarado e usava um boné, mantendo-se um pouco afastado, como se quisesse passar despercebido. Contudo, havia algo na sua postura que fez Pete parar o que estava fazendo, um arrepio percorrendo sua espinha.

Venice, por sua vez, estava completamente alheio, empolgado com a conversa. O amigo o havia convidado para uma inauguração de showroom. Celebridades, carros raros... Era como um sonho se tornando realidade.

— Eu posso, pai? — Venice perguntou ao avô, a esperança vibrando em sua voz.

— Por mim, você sabe que sim. Mas vamos ver o que seu outro pai vai dizer — o avô respondeu, com um sorriso.

Venice balançou a cabeça confiante, voltando-se para o novo amigo.

— Meu outro pai é superprotetor, mas ele vai deixar. Estou fazendo quinze anos, ele não pode dizer não.

O homem mascarado permaneceu em silêncio, os olhos fixos em Venice, absorvendo cada palavra. Então, sua voz surgiu, grave e carregada de algo que Venice não conseguiu identificar:

— Quando você faz quinze anos?

— Essa semana. Estamos na semana do meu aniversário, então ninguém pode negar presentes — Venice respondeu, orgulhoso, exibindo o colar que seu pai lhe dera. — Meu pai já começou com os presentes. Pode apostar que ele vai deixar.

Sob a máscara, o homem se contraiu, seus dedos tremendo levemente ao redor da garrafa de água que segurava. A tensão em seu corpo era quase palpável. Ele conhecia aquele colar. Sabia de onde vinha. Porque foi ele mesmo quem o escolheu para Pete, anos atrás.

Pete, ainda alheio à verdadeira identidade do estranho, se aproximou, com as garrafas na mão e um sorriso leve no rosto. Mas quando seus olhos finalmente encontraram os do homem mascarado, ele parou de repente. O sorriso se desfez.

O mundo pareceu congelar ao redor deles. Aquele olhar... Mesmo com a máscara cobrindo parte do rosto, Pete sentiu o impacto como um soco no estômago. Ele não precisava ver o rosto inteiro para reconhecer quem estava ali, diante dele. Vegas.

Vegas, o homem que havia desaparecido da vida de Pete e Venice, agora estava de volta. O mesmo homem que, mesmo à distância, tinha um poder assustador sobre Pete. Os olhos de Vegas, mesmo parcialmente ocultos, brilhavam com uma intensidade que fez o coração de Pete disparar. Ele sabia. Vegas sabia. E agora, com Venice tão perto, tudo estava prestes a explodir.

O silêncio entre eles era ensurdecedor. Pete não queria acreditar que estava diante do pai de Venice, na semana do aniversário, e ainda por cima, tentando segurar um segredo que há tanto tempo tentava enterrar.

Vegas não precisou dizer uma palavra. O peso do momento, a tensão elétrica no ar, falavam por si. O passado havia finalmente alcançado Pete, e ele sabia que não poderia fugir.

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Depois Daquele Carnaval - Pete E VegasOnde histórias criam vida. Descubra agora